Se o Coringa hoje pode ser o primeiro vilão da DC Comics a ganhar um filme próprio de super-herói, isso tem uma jurisprudência nos quadrinhos: o Palhaço do Crime foi o primeiro vilão de Marvel ou DC a ter uma HQ regular própria. Hoje é relativamente comum ver vilões estrelando séries (depois que Doutor Destino virou Homem de Ferro tudo é possível mesmo) mas em 1975 uma ideia assim era uma concepção corajosa.
"The Joker's Double Jeopardy"
A tônica das histórias era o embate de vilania; Coringa sempre tinha que se provar melhor que outros vilões. Isso começa quando um bandido chamado Señor Alvarez tira o Duas-Caras do Arkham e provoca o Coringa (que tinha pedido para ser libertado também), chamando-o de criminoso inferior. O palhaço então escapa do Arkham usando um balão de hélio, só para se vingar e se provar superior, usando coisas como uma torta recheada de ácido.
"The Sad Saga of Willy the Weeper"
O histórico de aliados incompetentes vai longe. Nesta história, depois de ser libertado da prisão, o Coringa retorna o favor e se junta a um vilão chamado Willie the Weeper (Willie chorão), que chora incontrolavelmente enquanto tenta cometer o crime perfeito, e começa a rir quando outras pessoas choram. Coringa trai o parceiro para lhe ensinar uma lição, e no fim ambos acabam presos por ex-guardas do Arkham que foram demitidos por causa da fuga do palhaço.
No fim dos anos 1960, o Coringa se destacou em outra mídia, interpretado por Cesar Romero na série de TV do Batman. Era um vilão galhofeiro em sintonia com o que o Código de moral dos quadrinhos exigia na época, e enquanto isso, na DC, o editor-executivo Julius Schwartz antipatizava com o personagem e outros elementos cômicos, como o Bat-Mirim. Coringa só retornou mesmo em plena forma em 1973, depois que o Código foi revisto para começar a dar aos autores algum respiro, e entre outras coisas o roteirista Dennis O'Neil, que escrevia o Batman naquela época, introduziu a noção de que o maníaco homicida era legalmente insano - por isso o Coringa não ia para a cadeia e sim para o Asilo Arkham (criado por O'Neil em 1974).
"The Last Ha Ha"
A terceira edição conta com uma participação do Rastejador, herói que tem um visual assustador e uma risada nervosa, que frequentemente fazem a polícia suspeitar que ele é um criminoso. É o que acontece nesta história, em que o Rastejador confronta o Coringa depois que é acusado de um roubo que fora cometido pelo palhaço. O herói sofre de amnésia depois do embate e o Coringa convence o Rastejador de que ele, de verdade, é um vilão.
"A Gold Star for the Joker"
A trama deixa Gotham e vai até Star City, para onde o Coringa dirige um ônibus roubado porque se apaixonou por Dinah Lance, a Canário Negro. Quando ela descobre o vilão, junta-se com seu namorado Arqueiro Verde para conter o palhaço, que ameaça matar Dinah se ela não aceitar se casar com ele. A edição consegue se esquivar um pouco das regras do Código que limitavam os desfechos anteriores, e ao final da trama o Coringa cai de uma ponte e desaparece misteriosamente antes de ser preso.
A série solo de 1975 surgiu nesse contexto, ainda com Schwartz como editor da DC. Coringa era retratado como um criminoso, que matava civis e bandidos mas sempre acabava preso a cada edição (o Código exigia que criminosos fossem punidos sempre). A ideia era que Batman nunca aparecesse. Não deu muito certo junto ao público e The Joker durou apenas nove edições; na galeria abaixo, detalhamos as histórias dessa primeira série solo do palhaço.
"The Joker Goes 'Wilde'!"
Mais um embate com vilões de quinta. Desta vez o Coringa enfrenta no Wisconsin a Gangue Royal Flush, que está de olho em quadros do falecido pintor Thaddeus Wilde. O valor dos quadros é que, juntos, eles mostram onde está localizada a fortuna perdida de Wilde. Coringa derrota sozinho a gangue de naipes de baralho, que acaba presa pela polícia. Essa edição é a estreia na DC de um novo Ás de Espadas, mas ele só durou como membro do grupo até 1979, sua última aparição nos quadrinhos.
"The Cat and the Clown"
Publicada em outubro de 1976, a última edição de The Joker traz de volta o Duas-Caras e coloca o Coringa contra a Mulher-Gato. Outra participação especial é do Batman... Mas na verdade é o Coringa que se disfarça de Morcego para tentar enganar a criminosa, que duela com o palhaço pela posse de um valioso gato. Hoje essas HQs são difíceis de encontrar. Duas coletâneas juntaram The Joker desde então: The Greatest Joker Stories Ever Told (que inclui The Joker #3), de 1989, e The Joker: The Clown Prince Of Crime, que reúne todas as nove edições.
"Sherlock Stalks the Joker"
Se a série não pode contar com o Batman, por que não arrumar outro? Na história escrita por Dennis O'Neil, Clive Sigerson é um ator que interpreta Sherlock Holmes e que passa a acredita mesmo ser o maior detetive do mundo, depois que o Coringa acerta-o na cabeça com um cano. Clive enxerga o Coringa como o Professor Moriarty e tenta então caçar o palhaço. Curiosamente, quando o Coringa foi criado nas HQs em 1940, e passou a ser tratado como o nêmesis do Batman, a ideia dos criadores era emular mesmo a dinâmica de Sherlock e Moriarty nos contos de Arthur Conan Doyle e no cinema.
"The Scarecrow's Fearsome Face-Off!"
O Coringa rouba um novo gás do medo desenvolvido nos Laboratórios STAR, e acaba competindo com o Espantalho para ver quem tem a toxina mais poderosa. É um duelo esperado, e para acabar de forma imprevisível, o roteirista Elliot S. Maggin faz o Coringa retornar de boa vontade ao Arkham (por meio da passagem secreta que liga o Asilo ao esconderijo do palhaço) depois de derrotar o Espantalho, porque só assim ele será deixado em paz pela polícia.
"Luthor - You're Driving Me Sane!"
O primeiro embate de respeito com um vilão de primeiro escalão. Elliot S. Maggin escreve a história em que Coringa e Lex Luthor se aliam para escapar da polícia. Logo depois que os dois se separam, Coringa decide seguir Luthor até seu esconderijo, e lá descobre o vilão operando controle mental em Hal Jordan. Ao interferir no procedimento, Coringa e Luthor acabam trocando de personalidade e, enquanto o palhaço se torna um gênio, o milionário inventor é amaldiçoado por uma incontrolável loucura. No fim, cabe a Coringa ser a voz da razão.