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Servant retorna mais insana e aquece para ameaça central do segundo ano

Nova temporada tira o espectador do conforto e faz promessas difíceis de cumprir

15.01.2021, às 16H47.
Atualizada em 31.08.2023, ÀS 13H52

Se ao final da primeira temporada de Servant existia alguma esperança de que a família Turner pudesse voltar à normalidade, o primeiro episódio do segundo ano veio para dar um tapa na cara dos otimistas. Retomando os eventos exatamente de onde foram deixados no último episódio, a série de M. Night Shyamalan fez um trabalho eficiente de acelerar o processo de loucura para todos os integrantes da família, coroando a estreia com uma apresentação arrepiante de sua nova ameaça central.  

A primeira temporada de Servant nos deixou cheia de dúvidas mas nos entregou algumas descobertas: a família Turner havia perdido seu bebê em circunstâncias de negligência e, tomada por culpa, a matriarca da família vivia em um mundo de fantasia, onde um boneco hiperrealista ocupava o lugar de Jericho, seu filho. Quando recebem uma jovem e misteriosa babá em sua casa, o bebê toma vida, e lentamente descobrimos que a nova empregada, Leanne (Nell Tiger Free), tem poderes surreais e faz parte de um grupo religioso extremo, liderado por seus dois guardiões, tio George (Boris McGiver) e tia May (Alison Elliott). Na reta final do primeiro ano, são eles mesmo que tiram Leanne da casa de Dorothy, levando consigo o recém-renascido bebê. Sem invasores misteriosos e sem um bebê fantasma, a família Turner poderia, quem sabe, seguir em frente e encarar a realidade. 

Mas “Doll” nos leva de volta àquela luxuosa - e claustrofóbica - casa da Filadélfia, onde agora residem, novamente, apenas Dorothy (Lauren Ambrose) e Sean (Toby Kebbell). Leanne desapareceu e, novamente, os Turners se encontram sem filho. Agora, no entanto, o nível de insanidade subiu. Uma vez que as autoridades não acreditam nas teorias de Dorothy sobre a babá, o bebê, e o sinistro culto, a mãe se vê responsável por sair em uma investigação e encontrar a verdade sobre a organização da qual Leanne faz parte, e recuperar o bebê que julga ser seu.

Enquanto na primeira temporada Dorothy era a personificação da negação, logo no início do segundo ano a série da Apple TV+ chacoalha a base de todos os outros personagens. Sean toma o lado de sua esposa e, incrédulo com sua incapacidade de sentir dor, revela um estado mental em deterioração. Natalie, a pseudoterapeuta de Dorothy, acoberta a situação da família aos policiais e contribui para a realidade apocalíptica para qual a família se encaminha. Julian (Rupert Grint), o único representante da realidade em Servant, o personagem que ocupava o lugar de espanto do espectador, toma atitudes que encaminham a série para o cenário mais absurdo até hoje.  

E enquanto tudo isso faz parte de um desenvolvimento tanto natural quanto instigante de Servant, “Doll” tem seu auge quando foca em sua possível ameaça central, dando destaque à escolha certeira de direção para o primeiro episódio. Julia Ducournau, a diretora de Grave (Raw), comanda o episódio sem nos poupar de suas melhores habilidades: criar aflição e prolongar tensão, fazendo jus ao clima característico de Shyamalan. Na melhor cena do episódio, Dorothy encontra tia May (Alison Elliott) em um de seus registros de reportagens antigas, e o espectador se vê fixado no olhar da misteriosa mulher. São em curtos relances de suspense como este que Servant nos instiga a querer mais. 

Elevando a atmosfera claustrofóbica da série, que sufoca ao nunca deixar o quarteirão da casa dos Turner, “Doll” prepara o terreno para um ano mais intenso que o anterior, fazendo promessas que, apesar de ótimas, podem ser difíceis de manter. Na empreitada misteriosa de Julian que encerra o capítulo está um gancho intrigante, mas tão surpreendente que será divertido assistir o contorcionismo de Servant para explicar o que raios está acontecendo.