Sarah Paulson em American Horror Story/ Divulgação/ FX

Créditos da imagem: Sarah Paulson em American Horror Story/ Divulgação/ FX

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American Horror Story: Apocalypse abre afiada, mas crossover não se destaca

Série anunciou que nova remessa de episódios unirá os personagens de Coven e Murder House

13.09.2018, às 15H50.
Atualizada em 13.09.2018, ÀS 16H59

American Horror Story começou como uma antologia e isso, por definição, não inclui uma ligação entre as histórias. Contudo, o sucesso do produto e a complexidade de suas tramas propôs uma conexão inevitável e, por volta do terceiro ano, ela começou a ser admitida pelos criadores. No ar há muito tempo, a série conseguiu também criar sua própria mitologia, garantindo o deleite dos fãs cada vez que personagens de temporadas anteriores se cruzavam entre universos. Muitas vezes esses cruzamentos eram indiretos, aparecendo na forma de metáforas ou mesmo de regras estabelecidas pela própria trama (pessoas que morriam no hotel do quinto ano permaneciam no local porque essa foi uma regra estabelecida na primeira temporada, ao justificar porque a casa dos Harmons era tão assombrada).

Essa própria mitologia ficou um pouco esquecida nos últimos dois anos da produção. Roanoke foi uma temporada ousada e que soprou o pó de conformidade que já tinha pairado sobre a atração. Contudo, foi uma temporada com mínimas referências a outros anos (excetuando-se a aparição de Lana Banana). Cult teve menos ainda, limitada a conexões aleatórias. Mesmo assim, de um jeito ou de outro, o mundo de American Horror Story se expandiu em uma escala admirável. Fazia sentido, então, que a ideia de um crossover se tornasse forte o suficiente para movimentar o fandom e reacender o interesse pelo programa.

O co-criador Ryan Murphy disse em entrevistas que queria cruzar as tramas de Coven e Murder House e o sonhado crossover parecia uma impossibilidade absoluta. Até que, neste ano, surpreendentemente, o showrunner fez o anúncio não só de que a coisa iria acontecer, como seria de imediato. Pouco a pouco, os nomes dos atores foram sendo anunciados, as especulações foram levantadas e Apocalypse estreou em 12 de setembro com a responsabilidade de corresponder a muitas expectativas. Murder House foi a primeira temporada e Coven, mesmo que tenha sido duramente criticada, foi a responsável por transformar a série em um fenômeno de cultura pop. Apocalypse tem muito o que ganhar e muito o que perder com essa convergência.

Apocalypse Now

A grande vantagem de uma série antológica é que toda première é cercada de ansiedades positivas. A de Apocalypse segue a mesma diretriz. Em 45 minutos, uma infinidade de acontecimentos avançam a trama até onde ela precisa para se desenvolver, mas a capacidade de Murphy de ser coeso sem perder conexões é impressionante. Estamos, entretanto, lidando com uma luta para ser transgressor em meio a tantos vícios de linguagem: American Horror Story provoca com seu texto ácido e involuntariamente cômico, mas Murphy não consegue mais escapar da própria métrica, da própria melodia (não como conseguiu com a primeira metade de Roanoke). Essa é uma première tomada de críticas e frases sagazes, como é bem típico do thriller.

Restrições orçamentárias foram resolvidas com recortes narrativos. O mundo “acaba” pela perspectiva da socialite Coco St.Pierre (Leslie Grossman), sua assistente Mallory (Billie Lourd) e seu hair stylist Gallant (Evan Peters), que acompanham chocados o anúncio da guerra nuclear que chegará a Los Angeles em minutos. Os três – junto com Evie (Joan Collins), avó de Gallant – conseguem uma “passagem” para a sobrevivência através de um grupo secreto chamado Cooperative, que tem bunkers que pretendem preservar parte da civilização humana. Esse bunker é administrado por Wilhemina Venable (Sarah Paulson) e Miriam Mead (Kathy Bates), duas excêntricas guardiãs do posto, que através de tortura, intimidação e até canibalismo, mantém seus “hóspedes” sob controle. Esse é o terreno definitivo da temporada, já que fica claro logo de cara que as duas agem por conta própria, convencendo os “prisioneiros” a se submeterem dia após dia.

The day after Tomorrow

Para um temporada que prometeu um crossover, Apocalypse começa com o pé no freio. A chegada de Michael Langdon (Cody Fern) é o único elemento comum entre os anos, já que trata-se do filho de Tate, neto de ninguém menos que Constance (Jessica Lange), estrela da primeira temporada. O personagem chega apenas no final da ação, depois da estreia ser tomada por diálogos cortantes que estabelecem muito rápido a crítica social e política de Murphy, ainda com influência dos acontecimentos de Cult. Depois de retratar a histeria provocada pelas eleições, o criador da série resolve ilustrar como seria o mundo (seu mundo) se o fim – como muitos temem – chegasse para valer mesmo, daquele jeito, com bombas nucleares lançadas irresponsavelmente entre nações.

A chegada dos jovens Timothy (Kyle Allen) e Emily (Ashley Santos) no bunker representa outro aspecto recorrente de American Horror Story. Os dois foram escolhidos para sobreviver por causa de seus perfis genéticos e também se apaixonam, mantendo o fator humano mesmo entre tantas alegorias. Através do sistema de castas proposto pelo vestuário, da culpabilidade que a tecnologia e as redes sociais recebem, da acidez com a qual os valores conservadores são incutidos na estrutura da narrativa como exemplos de onde o ser humano pode chegar se insistir na cultura da violência... É como se a série construísse suas bases no meio de todas as discussões levantadas desde as fake news, passando pela política nacional até a premissa de The Handmaid’s Tale. E tudo com identidade visual marcada, com o affair ao ambiente claustrofóbico de Asylum (a mesma música tocando incessantemente) e dúvidas, muitas dúvidas.

O possível “anticristo” que adentra o episódio quando ele termina deve fechar o círculo de provocações que a temporada pretende fazer. Ainda não é possível saber como a história vai resolver a presença das bruxas de Coven ou dos fantasmas reclusos de Murder House, mas Apocalypse se apresentou com uma respeitável possibilidade de futuro. Em se tratando de Murphy, é evidente que algum otimismo ressurgirá do caos, mas, até lá, o horror de ver um dos “hóspedes” sendo devorado numa elegante mesa de jantar é só um pouco do que a série é capaz de fazer.

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