Uma dica, logo de cara, para quem é fã de Simon Pegg e Nick Frost e pretende maratonar Truth Seekers, a nova série dos dois na Amazon Prime Video: não espere o humor tradicional da dupla. Uma vez que os episódios avançam e estabelecem as regras de seu universo, a produção se mostra muito mais próxima ao tom de Doctor Who e todas as suas aventuras doces, do que à comédia ácida da Trilogia Cornetto. Mesmo assim, quando pega no tranco, o clima old-school do seriadose mostra carismático e cativante, justificando sua jornada, por mais inconstante que seja.
Investindo no tom quase procedural, Truth Seekers acompanha o dia a dia de Gus (Frost), um instalador de TV a cabo mais interessado em eventos paranormais do que em seu trabalho cotidiano. Pelas ordens de Dave (Pegg), o veterano da empresa de telefonia precisa treinar o novato Elton (Samson Kayo), um garoto amedrontado e nada preparado para sua nova aliança. Com o tempo, Gus e Elton passam a formar uma equipe de caçadores do paranormal, composta também por Malcolm McDowell, Emma D’Arcy e Susan Wokoma.
Truth Seekers poderia lembrar os projetos de Pegg e Frost realizados sem a ajuda da maestria técnica de Edgar Wright - e o faz de certo modo, retomando personagens geeks que os dois interpretaram em Paul: O Alien Fugitivo, ou a atmosfera bizarra de Escola da Morte. Essa familiaridade se desfaz, porém, quando Truth Seekers afasta Pegg e Frost. Aqui, a dupla principal é formada por Frost e Kayo, e para o bem da série, a química dos dois funciona muito bem.
Passeando por assombrações e eventos fantasmagóricos, a produção procura levar as cenas de medo a sério, e obtém sucesso de vez em quando. Mas em seus cinco primeiros episódios o que sustenta Truth Seekers é o humor, que apesar de inconsistente, quando acerta, o faz muito bem. Nessa área, Frost e Pegg não decepcionam, mas quem rouba a cena é McDowell, no inesperado papel de alívio cômico.
Entre aventuras que envolvem a 2ª Guerra e hotéis mal-assombrados, Truth Seekers não demora a relembrar Doctor Who, inclusive fazendo referências diretas muito bem-vindas, mas, assim como a série da BBC, ela também se refina quando tem um vilão interessante. É precisamente na reta final, quando o antagonista Peter Toynbee (interpretado perfeitamente com um jeito fanfarrão por Julian Barratt) se estabelece como alvo e grande inimigo, que Truth Seekers encontra seu melhor passo.
Ainda mais, a semelhança com Doctor Who chama atenção porque Truth Seekers tem boas intenções, e constrói muito bem seus elementos afetivos, discutindo traumas e questões mentais com naturalidade e sem nenhuma apelação. Mas é somente em seu fim que a série pega no tranco e se aperfeiçoa propriamente, tanto em seus personagens, quanto na formação da equipe como um todo. Os últimos três episódios são os melhores da temporada, com um passo mais rápido e conspirações mais interessantes, com ligações entre si.
Talvez esteja aí, no entanto, a maior dificuldade da série. Ao contrário do que se espera hoje em dia de produções de streaming, Truth Seekers não é exatamente maratonável, e se torna apenas viciante quando se aproxima do fim. Com seus baixos e altos, é possível visualizar um cenário em que a sérienão seja renovada, particularmente por sua dificuldade de engajamento. De qualquer forma, a produção do Prime Video tem graça e potencial para seguir em frente, até porque a primeira temporada termina com um gancho intrigante para o futuro.
Criado por: Nick Frost, Simon Pegg, Nat Saunders e James Serafinowicz
Duração: 1 temporada
