AC/DC

Créditos da imagem: JEAN-CLAUDE COUTAUSSE / AFP

Música

Artigo

40 anos de Back in Black! O Rock and Roll não é poluição sonora

Andreas Kisser analisa importância do álbum do AC/DC para o rock e sua trajetória pessoal

25.07.2020, às 12H45.
Atualizada em 25.07.2020, ÀS 13H00

1980 foi um ano mágico, não só para mim que celebrava 12 anos de existência enquanto me mudava de casa pela primeira vez, mas para o planeta como um todo. O ano que abre uma década que mudou o mundo pra sempre.

Ronald Reagan era eleito presidente dos Estados Unidos e ficaria no poder por oito anos promovendo a desastrosa guerra contra as drogas; no Brasil já se via os primeiros passos de uma abertura política na sociedade no lento processo de saída da ditadura em direção à democracia; um Papa visitava o país pela primeira vez na história; José João da Silva, atleta do São Paulo F.C., ganhava a tradicional corrida de São Silvestre depois de 44 anos sem ter um Brasileiro vencedor; e o rock e o metal estavam entrando na minha vida.

Nesta época eu já ouvia alguma coisa de Kiss e Queen. O Edson, meu vizinho mais velho e com uma coleção de discos de rock maravilhosa, me fazia umas coletâneas em fitas cassete que entre Queen e Kiss também tinha muito Led Zeppelin e AC/DC, suas bandas preferidas. Eu já curtia muito o Highway to Hell, último disco com o vocalista Bon Scott, e conhecia um pouco dos outros discos do AC/DC, mas não era minha banda preferida. O Queen veio para o Brasil em 1981, mas minha mãe não deixou eu ir no show. Eu era muito novo e ninguém de casa queria me levar. Em 1983, o Kiss veio pra fazer shows pelo país e em São Paulo eu fui. Mudou a minha vida. Lembro que antes de o Kiss entrar, enquanto a galera entrava no estádio só rolava AC/DC nas caixas. Eram os álbuns Back in Black e o For Those About to Rock, os mais recentes da banda. Ouvindo o Back in Black agora enquanto escrevo este texto me leva de volta àquele momento tão especial na minha vida, tudo muito excitante e novo, que época boa!

O Back in Black é um disco refinado, muito bem produzido e que soa como se fosse feito ontem. Muito diferente do que o AC/DC tinha feito até então. O Bon Scott era praticamente um vocalista Punk, um gênio à sua maneira mas a banda tinha uma atitude mais despojada e desinteressada. Com a morte do vocalista, o AC/DC mudou, se aperfeiçoou, cresceu e ainda de luto escreveu a sua maior obra, uma verdadeira "masterpiece"! O produtor Mutt Lange, que já havia produzido o Highway to Hell foi muito importante neste amadurecimento do som da banda, principalmente pelo trabalho que fez com o novo vocalista e letrista Brian Johnson. Que pressão para Brian! Mas ele tirou de letra (com o perdão do trocadilho). Fez um trabalho magistral que mostrou um novo futuro para a banda, novas possibilidades.

Divulgação

A abertura do álbum já é algo único, grandioso e muito original, especialmente para uma banda de heavy "bluesy" rock. Lenta e muito densa, quase como um "Bolero" de Ravel, em que os elementos entram um a um até que a massa sonora da banda prepara a "cama" para os primeiros e inéditos urros melódicos de Brian. Que música! (Ouvi "Hells Bells" no estádio do Morumbi em 1983 enquanto esperava o show do Kiss começar e nem podia imaginar que anos mais tarde no mesmo estádio o meu time do coração em todos os jogos entraria no gramado ao som de "Hells Bells", escolha pessoal do goleiro, artilheiro e roqueiro Rogério Ceni). Que poder motivador tem a música!

Outra coisa que me chamou a atenção foi o fato de que a música-título não abria o álbum, o que para mim seria óbvio. Mas com "Hells Bells" na lista não tem como ter uma abertura melhor. Colocar a "Back in Black" para abrir do lado B foi genial, me passou um sentimento de recomeço, não só para o disco em si mas para a banda de uma forma geral. Uma homenagem ao parceiro que se foi de forma trágica e inesperada, que fecha um ciclo e abre outro. Muito forte e poderoso. É simbólico que a "You shoot me all night long" seja a música seguinte por que mostra um novo AC/DC, mais "pop" com mais possibilidades de tocar nas rádios e conquistar um público que até então não se importava com o AC/DC. Não à toa foi escolhida como o primeiro single e ajudou a colocar o AC/DC em outro patamar.

A popularização mundial do heróis Marvel através do cinema colocou novamente o Back in Black no topo como tema principal do mais famoso dos heróis, o Homem de Ferro. Introduziu este obra-prima para um público jovem mostrando a relevância e o poder que o disco ainda exerce no presente.

Todas as faixas são poderosas e cada uma tem o seu caráter próprio, se você tirar uma faixa o equilíbrio se perde, tudo se desmonta. O impacto deste disco foi e é muito forte, real e me parece eterno. Ainda hoje tem um garoto ou uma garota que estão escutando os acordes de "Hells Bells" pela primeira vez e sentindo o seu mundo mudar, com certeza pra melhor. Mudou o meu e sou eternamente grato por isso.

O Rock and Roll não é poluição sonora!

Parabéns e muito obrigado Angus, Malcolm, Brian, Cliff e Phil. Vocês serão heróis para sempre.

Andreas Kisser

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