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Uma Chamada Perdida

Diretor Eric Valette blefa e quem tem que pagar para ver somos nós

17.04.2008, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H35

"Seu fone, sua vida", diz um anúncio publicitário numa das primeiras cenas de Uma Chamada Perdida (One Missed Call, 2008), remake hollywoodiano do japonês Chakushin ari (2003). A dependência da tecnologia nos dias de hoje é vista com pessimismo nessa linha de terror oriental, que remete às fitas VHS de O Chamado. E nada como um fantasma secular, vestindo farrapos e grunhindo como um neanderthal, para nos castigar por nosso desalmado consumismo.

O fantasma rancoroso de Uma Chamada Perdida se alastra por celulares. O telefone toca e a chamada cai. Quando vai olhar a tal ligação não atendida, a pessoa percebe na caixa postal que deixou uma mensagem para ela mesma, de um futuro breve, na hora de sua morte. E depois a próxima vítima sai a partir da lista de contatos do defunto anterior. Nem vale explicar muito - o principal é saber que a estudante Beth (Shannyn Sossamon, de Regras da Atração) e o policial Jack (Edward Burns, Confidence) terão seus caminhos cruzados por essa maldição.

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No original japonês, a direção do ousado Takashi Miike (Três Extremos) consegue dar um certo fôlego ao tema batido. Já o remake, assinado pelo francês Eric Valette, em seu primeiro trabalho hollywoodiano, não tem a mesma sorte. Com o perdão do trocadilho, Valette entra na rodada com um dois de paus, e entra pra perder.

O tema já está desgastado e sua fórmula mais do que manjada: protagonista vira alvo de maldição e corre contra o tempo para investigar a origem dessa maldição antes que chegue a sua hora. Valette não faz nada para dar uma reviravolta ou qualquer originalidade que seja a essa fórmula. E a maneira amadora como conduz o filme, partindo desse comodismo, beira o irritante.

A começar pela exposição. Alfred Hitchcock não era chamado de mestre do suspense por acaso; sempre tentava arrumar uma solução visual para aquilo que outro mataria com uma frase de diálogo. Se Hitch visse a forma com que Valette tenta armar o suspense em torno das mortes premeditadas ele espumaria. Na trama, quando fulana descobre que morrerá no dia seguinte às 19h50, ela passa a falar as horas o tempo inteiro. "Faltam 20 minutos! Tenho dez minutos até morrer!", repete o relógio-cuco travestido de personagem. Custa botar um raio de um relógio de parede ao fundo para o espectador ao menos ter o ânimo de prestar atenção no filme?

E, carências do diretor à parte, a escalação do elenco já era um passo para trás (com exceção da gloriosa presença de Ray Wise, ator que nasceu para o terror e no gênero se encontrou). Como todos os outros remakes de terror japonês já foram feitos, sobram os atores de segunda linha. Shannyn Sossamon tenta disfarçar que toma sustos sem perder sua pose blasé e Edward Burns entra em todas as cenas como se tivesse caído no set de filmagem por acidente. Se os envolvidos em Uma Chamada Perdida já conhecem de antemão o blefe na mão do Valette (muito bom esse trocadilho, não é?), por que diabos somos nós que temos que pagar pra ver?

Pra não deixar a impressão de que o filme não presta, pelo menos as cenas com o olho mágico dão uma idéia... Pode anotar aí: em breve teremos um filme de terror em que a pessoa amaldiçoada só enxerga o fantasma pelo buraquinho da porta. E agora? Espia pelo olho mágico ou não espia? Abre a porta ou não abre? Será o espírito do capacho ou alguém um dia morreu eletrocutado na campainha? Não perca.

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