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O Exterminador do Futuro: A Salvação | Crítica

Quarto filme da série tropeça ao flertar com rumos novos, mas não faz feio na ação

04.06.2009, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H48

O sucesso e a qualidade dos dois primeiros O Exterminador do Futuro vêm do talento do cineasta James Cameron para harmonizar, como bom contador de histórias, teoria de viagem no tempo com investimento pesado em ação e efeitos visuais. O Exterminador do Futuro: A Salvação já sai perdendo porque McG, ainda que tenha mão para a ação, evidentemente não é um James Cameron.

Como reverter a desvantagem? A produtora Halcyon Company, que adquiriu os direitos da série quando ninguém queria tocá-la depois de T3, faz o mais seguro, o mais prudente: evita contrariar ou adicionar números e dados à já enrolada cronologia e reaproveita marcas consagradas de T2 para ganhar os fãs. Estão lá a música do Guns, os banhos de aço fundido e nitrogênio líquido, as frases clássicas, até a cena do exterminador de metal líquido escalando o automóvel é emulada aqui.

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As mudanças são exigência do momento: Cameron não queria que o adolescente Connor pegasse em armas em 1995; em 2018, John Connor (Christian Bale) não se separa de seu fuzil um minuto para liderar parte da resistência humana contra as máquinas, ainda que sob um comando militar multinacional. O visual enferrujado do futuro lembra Mad Max e Arnold Schwarzenegger virou um figurante de luxo. Permanece, porém, a premissa que norteava os longas anteriores: no meio da disputa maior com as máquinas, uma vida precisa ser preservada a todo custo. Desta vez não é a de Connor, mas a de seu pai, Kyle Reese (Anton Yelchin).

Roteiristas do terceiro filme, John Brancato e Michael Ferris adicionam aqui um personagem novo - polêmico, mas que em teoria não contradiz a cronologia - que não é apenas o "exterminador da vez": Marcus Wright (Sam Worthington), um condenado à morte em 2003 que acorda em 2018, descobre que seus ossos viraram metal e quer entender por quê.

O filme começa muito bem porque se restringe à essência: Connor procura Reese e quer ganhar a guerra, Marcus quer explicações. Não há muito o que discutir - é marchar pelo deserto sempre em frente. Se tinha algo a explicar aos desavisados que desconhecem a franquia, McG o faz com um texto breve durante os créditos de abertura. Por uma boa meia hora, portanto, o diretor se concentra no que sabe fazer. O belo plano-sequência em que Connor sobe no helicóptero e depois cai e assiste à explosão mostra que não é preciso picotar a imagem como um Michael Bay para fazer ação convincente sem gastar muito dinheiro.

Os problemas aparecem logo depois da longa cena de ação que começara no posto de gasolina (em que McG demonstra um domínio do ritmo digno de James Cameron). Não apenas porque é um clímax grandioso que o filme tem dificuldade em superar depois, mas porque naquele momento o roteiro tem que parar um pouco para respirar e desenvolver personagens.

E desenvolver personagens é esse desafio que blockbusters correntes enfrentam mal. Exagera-se na exposição (termo usado para designar a forma como o filme nos entrega informações essenciais sobre a história) porque os realizadores sentem necessidade de explicar ao espectador cada um dos exterminadores novos, de criar uma subtrama para Marcus, um dilema de "segunda chance"... Paralelamente, faltam peças no arco de John Connor. Como ele construiu uma liderança capaz de fazer as pessoas segui-lo cegamente, como um messias?

Didático, mas omisso

Falta a T4 mais foco, enfim, saber priorizar informações. Quando McG teve de cortar a cena na chuva de Blair (Moon Bloodgood), por exemplo, o trecho ficou desconjuntado. E aí toda aquela historinha romântica de "você tem um coração bom" fica mais difícil de engolir. Falta aos realizadores, acima de tudo, entender que um filme da série precisa de tensão ininterrupta. O drama vem do clima de suspense, não do texto.

Paradoxalmente, T4 peca não só no didatismo, como também na omissão. OK, é uma cronologia embolada: pra se ter uma ideia, a série de TV e o terceiro filme, sozinhos, conseguem divergir até em relação ao dia em que acontece o Julgamento Final. Mas ao escolher suprimir informações que poderiam confundir ainda mais, Brancato e Ferris criam uma trama algo episódica. Não fica claro se o continuum espaço-tempo foi respeitado ou se o futuro mudou em relação ao que se previa.

Exemplificando a omissão: de um lado, os realizadores dizem que o futuro desértico do filme não é o mesmo futuro mostrado em T2; do outro, eles capricham até para deixar o rosto de Christian Bale parecido com o do ator Michael Edwards (que aparece em uma visão do futuro no longa de 1991). Percebe-se que há uma urgência em apagar vínculos - afinal, a Halcyon planeja uma segunda trilogia de filmes - em diálogos do tipo "o destino nós que fazemos" ou "esse não é o futuro de que minha mãe falava" (presente no trailer), e ao mesmo tempo John Connor se apega ao continuum de forma até irracional.

McG e seus desenhistas de produção (cuja importância é cada vez maior em relação à dos roteiristas) conseguiram visualizar um futuro interessante. Falta descongestionar narrativas e tomar coragem para consertar a linha temporal. Uma hora eles vão ter que tocar novamente no assunto viagem no tempo - que, não por acaso, sequer é mencionado neste filme.

Saiba onde o filme está passando
ESPECIAL O Exterminador do Futuro

Nota do Crítico
Bom
O Exterminador do Futuro: A Salvação
Terminator Salvation: The Future Begins
O Exterminador do Futuro: A Salvação
Terminator Salvation: The Future Begins

Ano: 2009

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 130 min

Direção: McG

Roteiro: John D. Brancato, Michael Ferris

Elenco: Christian Bale, Sam Worthington, Anton Yelchin, Moon Bloodgood, Bryce Dallas Howard, Helena Bonham Carter, Common, Roland Kickinger, Michael Ironside, Jane Alexander, Chris Browning, Chris Ashworth, Jadagrace, David Midthunder

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