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Stranger Things injeta terror e tensão em seu ano mais maduro até aqui

Composto de sete episódios, o Volume 1 já está disponível na Netflix

Omelete
4 min de leitura
27.05.2022, às 06H00.
Atualizada em 31.05.2022, ÀS 14H35

Os irmãos Duffer sempre foram muito certeiros nas suas escolhas de trilha sonora para as temporadas de Stranger Things. Logo, não é surpresa que o uso de "Separate Ways (Worlds Apart)", do Journey, para o trailer tenha sido mais simbólico do que apenas uma desculpa para aproveitar a tensão do teclado de Jonathan Cain. A música de 1983 capta muito bem a essência da série nesta quarta temporada, tanto em formato, quanto em conteúdo. Porque depois da Batalha no Starcourt, o grupo de amigos de fato se distanciou — quando não literalmente, como foi o caso da mudança dos Byers para a Califórnia, em estado de espírito. Em outras palavras, o Volume 1 chega à Netflix marcado por um clima de incertezas, com seus heróis questionando sua dinâmica enquanto turma, mas também tentando se entender como indivíduos conforme dão sentido aos seus traumas acumulados.

É curioso que esteja na desconstrução inicial destes relacionamentos, aparentemente inabaláveis e tão centrais para o sucesso de Stranger Things, o caminho para que ela experimente mais uma vez seus êxitos do ano de estreia. Porque, mais do que um mero novo inimigo, o sádico Vecna surge como um destino final em comum, uma razão para que eles se reencontrem. Mas, tão importante quanto, como um recurso para que a série faça o que fez tão bem antes: conduza o espectador na sua construção de universo.

Veja, isso não quer dizer que a nova temporada seja um simples repeteco. Ainda que continue se pautando, sim, por uma amálgama de referências dos anos 1980 — desta vez, destacando A Hora do Pesadelo — e mantenha-se fiel à sua essência, este ano marca um período de amadurecimento geral para a série, e um dos sintomas disso está justamente no Vecna. Sua crueldade, seu modus operandi e sua história de origem apontam para uma evolução natural do terror. O espectador não sente só a ansiedade do pré-ataque do “feiticeiro imortal”, ele o presencia. Acompanha os ossos da vítima se contorcendo, o sangue escorrendo dos seus olhos, a vida deixando seu corpo. É evidente que ser tão gráfico também adiciona um peso à narrativa e uma urgência à missão dos protagonistas, mesmo que os episódios sejam tão mais longos.

A duração dos capítulos também poderia ser interpretada dentro da chave do amadurecimento, embora no fundo mais pareça uma experimentação para ver o quanto Stranger Things consegue prolongar a tensão. E, realmente, a série não tem pressa para dispor as peças do seu tabuleiro, nem para explicar a lógica do seu universo tintim por tintim para o caso de alguém ter perdido o fio da meada. No entanto, por mais que a experiência destas 9 horas de temporada esteja longe de ser custosa, ela não é sempre orgânica. Na realidade, às vezes a série perde a mão, e o que era para ser recebido com suspense fica mais cansativo do que propriamente te deixa na beirada do sofá.

Um exemplo claro está no desenrolar da trama de Hopper (David Harbour) na gulag e da missão de resgate de Joyce (Winona Ryder) e Murray (Brett Gelman). Com exceção de alguns momentos cômicos pontuais, acompanhá-los é muito frustrante. O antigo delegado de Hawkins ficou tão às margens do coração da história que é difícil disfarçar que sua volta para a série é despropositada. A verdade é que, ao final do Volume 1, Stranger Things prova para si mesma que não precisava dele. Ele foi um gancho sem saída. Só um pretexto para Joyce deixar sua casa e, assim, permitir as ótimas piadas que partem do simples fato de Jonathan (Charlie Heaton) e Argyle (Eduardo Franco) estarem chapados demais.

Joyce, aliás, é a maior injustiçada dessa temporada. Enquanto todos desempenham papéis ativos na resolução dos problemas, a personagem de Ryder foi reduzida a caretas que, por mais adoráveis que sejam, servem apenas de degrau para que seus parceiros de cena sejam heroicos e movam a história. Uma pena, porque a personagem é mais do que isso.

Mesmo assim, ao final dos sete primeiros episódios, Stranger Things entrega uma experiência robusta, divertida e estimulante que, apesar de oferecer muitas respostas, deixa um gosto de quero mais. Não só porque há mais para se desvendar, mas porque a antecipação dos reencontros e, convenhamos, das muitas histórias de amor é grande. Infelizmente, os dois últimos episódios da temporada chegam apenas em 1º de julho. Mas, cá entre nós: para quem esperou quase três anos para voltar para Hawkins, o que é um mês?

Assista a seguir a nossa entrevista com o elenco da série:

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