Depois dos prêmios recentes no Oscar, Festival de Berlim e Festival de Cannes, o cinema brasileiro agora mira no Festival de Veneza, que acontece no final de agosto. E o movimento para emplacar um longa-metragem nacional na seleção já está em curso.
Durante o evento Rio2C, o Omelete conversou com Alex Medeiros, diretor de Dramaturgia, Documentários & Filmes do Globoplay e Globo Filmes, que adianta: “Eu não posso falar qual, mas temos, sim, um título que a gente acha que tem uma boa chance de estar em Veneza. A gente tá olhando para isso porque é um negócio, né?”, diz o executivo. “Tem prêmios que mudam o patamar comercial de uma obra e outros nem tanto, mas o prêmio sempre abre muita porta. Esse olhar sempre existiu por parte das produtoras, né? E agora a gente [na Globo], como contratante dessas produtoras independentes, a gente também tá se estruturando para olhar mais para isso, como as produtoras sempre fizeram.”
A vitória recente de Wagner Moura e Kléber Mendonça Filho por O Agente Secreto em Cannes, neste mês, não deixa esfriar o interesse mundial pela perspectiva brasileira. Para Medeiros, neste momento, porém, o olhar internacional não é necessariamente determinante para o que se decide produzir. “A gente tem tido a felicidade de ter histórias sobre o Brasil, feitas por criadores brasileiros, falados em português, que estão atraindo o interesse de parceiros internacionais, né? A gente tá muito preparado para aproveitar essas oportunidades. Mas a nossa missão e vocação é o público brasileiro. A gente tá agora com mais ou menos 80 produções em curso para as nossas várias plataformas. E uma coisa que eu aprendi também nessa jornada incrível durante Ainda Estou Aqui foi o quanto a gente precisa se apropriar do nosso lugar na América Latina. Eu aprendi muito disso com o olhar do Walter [Salles], inclusive um dos filmes do Walter, Diários de Motocicleta, é uma história latino-americana, né? A nossa parceria com a Telemundo, que ainda não tem um projeto anunciado, remete um pouco para esse lugar.”
O executivo do Globoplay diz que o formato de co-produções internacionais e a excelência da produção brasileira e latino-americana podem permitir que esse momento de visibilidade internacional se sustente. Mas e em relação aos mecanismos de incentivo à produção e distribuição aqui no país? Para Medeiros, o atual debate sobre uma possível regulamentação do streaming - bandeira defendida por agentes culturais e produtoras junto à Ancine para fomentar a autonomia do audiovisual nacional frente às plataformas estrangeiras em operação no país - não é um tabu.
“A imensa maioria das nossas séries para o streaming não é feita com esses incentivos porque ainda não há regulação para isso, mas, sim, a gente usa muito recurso incentivado para produções dos canais por assinatura, e inclusive provavelmente a Globo continua sendo o maior contratante desse tipo de recurso. Durante os primeiros anos da Lei do Audiovisual [aprovada em 1993] a produção dos canais por assinatura da Globosat subiu muito. Então esses recursos são muito importantes”, diz Medeiros. “Então não é um tabu. A gente acompanha o que está acontecendo, sem entrar muito no aspecto político, e acho que ainda tem muita incerteza. Não estou nessa linha de frente, mas vejo muito pouco consenso sobre isso nas conversas de que participo. Acho que tem potencial de um novo ‘boom’ caso aconteça como aconteceu com a Lei lá atras, quando foi encontrado um caminho rápido de colocar as coisas de pé. A gente espera que o setor audiovisual, como segmento da sociedade, se estruture da melhor forma e que seja o melhor para o ecossistema do audiovisual.”
O Rio2C está acontecendo na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro, até o dia 1 de junho.
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