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Wolverine: Arma X

A história que começou a explorar o passado do mutante

29.04.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H14

Desde sua primeira aparição, ocorrida em Incredible Hulk 180 em 1974, passando por seu recrutamento para fazer parte da nova formação dos X-Men no ano seguinte até explodir em popularidade em meado dos anos 80, Wolverine é, sem sombra de dúvida, uma das personagens mais interessantes da Marvel e com certeza o mais popular dos X-Men. Sua agressividade, seus maneirismos, seu modo de falar e sua atitude perante o mundo, sintetizada com brilhantismo na frase eu sou o melhor no que faço, mas o que faço melhor não é nada agradável fez com que o baixinho conquistasse uma legião de fãs para si, a ponto de ser o primeiro X-Men a estrelar e manter um título solo por mais de uma década.

A popularidade de Wolverine, no entanto, ultrapassa em muito o mundinho habitado por fãs de quadrinhos principalmente por um motivo: seu visual, especialmente devido às garras de adamantium que se projetam do pulso.

Durante muito tempo - e, a bem da verdade, até hoje - o passado de Wolverine foi marcado por áreas cinzentas e contradições. É praticamente impossível se ter certeza de certos fatos da vida do nanico. Ele não tem uma história de vida semelhante, por exemplo, à de um Peter Parker, onde certos fatos são imutáveis: o herói era um adolescente nerd, que, agraciado por uma picada de aranha radioativa ganhou poderes fantásticos e, motivado por uma tragédia pessoal, decidiu usar seus dons para o combate ao crime, adotando a alcunha de Homem-Aranha. Simples e eficiente, não?

Não é esse o caso de Wolverine. Toda vez que roteiristas decidem jogar alguma luz no passado do invocado mutante, vem alguém e trata de quebrar essa lâmpada e empurrar os cacos pra debaixo do tapete, na maioria das vezes, usando a muleta dos implantes de memória, os quais Logan supostamente sofrera quando recrutado pelo projeto Arma X.

Dentre as muitas perguntas em torno da personagem, a principal indagava justamente sobre sua marca registrada, ou seja, qual seria a origem das garras de adamantium de Wolverine? Por que todo seu esqueleto foi revestido com esse metal? Como e com que propósito, isso ocorreu?

Durante anos, essa pergunta reverberou na mente dos fãs, até que, em 1991, o talentoso Barry Windsor-Smith decidiu responder à questão em Arma X, mini-série em quatorze partes, incluindo o prólogo e o epílogo, publicada em terras tupiniquins pela primeira vez em Grandes heróis marvel 35, pela editora Abril.

Na obra de Smith, Logan ainda não é Wolverine. Na verdade, é um policial em decadência, que, desde sua aposentadoria forçada e precoce, não faz mais do que beber e se meter em brigas. Isso até ser capturado por homens misteriosos que o levam a uma instalação militar cuja localização não é revelada. Essa instalação é a sede do Projeto X, programa ultra-secreto cujo objetivo primordial é criar o assassino perfeito. Ele fora selecionado pelo seu extremo vigor físico e passado conturbado.

Na visão do autor, a história se passa no começo da década de 60, época em que a histeria mutante estava longe de começar. Nem mesmo os responsáveis pelo projeto sabem da verdadeira natureza de Logan no princípio.

Uma vez lá dentro, somos apresentados a três coadjuvantes de destaque: a secretária Carol Hines, o Dr. Cornélius e o misterioso Professor. São eles os responsáveis por todo o processo que transformaria Logan na perfeita máquina de matar. É o Professor que coordena o que consiste, primeiramente, em vincular o adamantium ao esqueleto de Logan. O processo, no entanto, não ocorre como o esperado. Há um excesso de absorção do metal ocorrendo nos punhos de Logan. Esse excesso seria o responsável pela aparição das famosas garras de adamantium, capazes de cortar aço como se fosse manteiga.

Após esse processo ter-se realizado com sucesso, o trio tem a difícil tarefa de incutir implantes de memória, induzir memórias falsas e todo o tipo de condicionamento mental, com o intuito de minar a vontade própria de Logan e, assim, controlá-lo. Obviamente, a coisa não sai como eles planejam e o futuro Wolverine acaba por vencer as drogas e a confusão mental resultante do processo e escapar para as florestas geladas do Canadá, ficando por lá até ser encontrado por James e Heather MacDonald, o casal que o recrutou para fazer parte do primeiro supergrupo canadense, a Tropa Alfa.

Durante alguns anos, Arma X foi um grande marco tanto para fãs quanto para os roteiristas de Wolverine. Para os primeiros, a edição era considerada a história da origem das garras de Wolverine; para os segundos, era uma rica fonte de referências para o passado da personagem e um celeiro de idéias. Os tais implantes de memória concebidos por Smith em sua obra alimentaram toda uma série de roteiristas. Alguns até demais, já que, qualquer furo cronológico na biografia da personagem era justificado como resultado dos implantes sofridos durante sua passagem pelo Projeto X.

Infelizmente, a Marvel tem a tradição de estragar algumas de suas melhores histórias. E, com Arma X, não poderia ser diferente.

Poucos anos depois de publicada Arma X, o então roteirista de Wolverine, Larry Hamma, achou que seria uma boa idéia se, num confronto entre X-Men e Magneto, o mestre do magnetismo retira-se o adamantium dos ossos de Wolverine. Só que Larry se esqueceu de que, sem adamantium, sem garras. Sem as garras, Wolverine perderia, pelo menos, metade de seu apelo comercial. Isso deve ter ocorrido ao pessoal de marketing da Marvel, que deve ter intimado o roteirista a arrumar aquela bagunça, já que um Wolverine sem as garras é mercadologicamente - guardada as devidas proporções - quase tão ruim quanto um Super-Homem com poderes elétricos.

Pra arrumar aquela bagunça, Hamma decidiu que seria de bom tom dar a Logan garras de osso e praticamente jogar o trabalho de Smith no lixo. Isso sem contar que as tais garras de osso trariam mais problemas à já conturbada cronologia do mutante. Afinal, se já tinha as garras desde que era moleque, por que diabos Logan só passou a usá-las após sua passagem pelo Projeto X?

Mesmo assim, e ainda com as revelações sobre o passado de Logan, mostradas por Paul Jenkins e Andy Kubert em Origem, Arma X não deixa de ter mais valor ou importância na cronologia de Wolverine e é praticamente um gibi indispensável a todos aqueles que se dizem fãs da personagem.

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