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Como
vimos no último capítulo, no ano de 1986, os vampiros já
ensaiavam arreganhar os caninos e a sorrir mais uma vez. Era o prenúncio
de que, entre o fim da década de oitenta e o início dos anos noventa,
o gênero viveria um novo surto de popularidade. Era época de mudanças
fundamentais no panorama da indústria das HQs nos Estados Unidos. O ressuscitado
interesse do público por quadrinhos onde destacavam-se os mortos-vivos
motivou uma infinidade de editoras independentes a publicar títulos sobre
o tema.
A
exemplo das já mencionadas editoras WarP e Apple, a Eternity Comics
- um selo da Malibu Graphics - brindou o ano de 1989 com duas
mini-séries: Dracula e Scarlet In Gaslight.
Nesta última, o príncipe dos desmortos teve um inusitado encontro
com Sherlock Holmes. No ano seguinte, a Innovation trouxe uma adaptação
em doze edições de The Vampire Lestat, baseada no
romance homônimo de Anne Rice. Em 1991, a Eternity lançou
Ghost of Dracula, continuação de Scarlet in Gaslight.
Harry Houdini substituiu Holmes como parceiro do príncipe da noite.
Em 1990, surgiram ao todo dez HQs ou mini-séries com um morto-vivo como protagonista ou figura de destaque; em 1991, foram mais treze, totalizando 23 títulos dedicados ao tema. No ano seguinte, já se somavam 34, número que se estabilizou por mais alguns anos até começar a decrescer devido à crise que se abateu sobre a indústria em meados da década passada.
O RETORNO À MARVEL
Em
1989, os vampiros voltaram a bater ponto no Universo Marvel. O primeiro foi
Morbius e depois o Barão Sangue. Desta vez, no entanto,
o hemoglobínico nazista deu as caras na pele de Victor Strange,
irmão do Dr. Estranho. Quando seu mano sucumbiu, o mago supremo fez de
tudo para trazê-lo de volta à vida. Um de seus encantos deu certo,
mas ressuscitou Victor como um vampiro. Quando o aparelho criogênico que
o mantinha sob controle foi desligado, o reencarnado voltou à ativa,
adotando o traje e a alcunha do Barão Sangue. Como bom vampiro descolado,
foi morar em Greenwich Village - o mesmo bairro de Nova Iorque escolhido
por Morbius - e passou a sorver sangue de almas criminosas. Personagem
de ínfima magnitude, o novo Barão Sangue cometeu suicídio
em 1993. Não deixou saudade, embora, se a Marvel seguir sua tradição
de ressuscitar os mortos, ele logo deve retornar.
SANGUE NA BATCAVERNA E NO CINEMA
Enquanto
a Marvel preparava o cenário para a volta definitiva dos vampiros ao
seu Universo, a DC não deixou por menos. Em 1991, Red Rain -
Chuva Rubra, no Brasil, lançada pela Abril - mostrava uma
história do selo Elseworlds - Túnel do Tempo - em que
Batman desafiava o Conde Drácula. Ao fim da mini-série, o Homem-Morcego
viu-se transformado em vampiro. A seqüência desta aventura, Tempestade
de sangue, foi lançada nos Estados Unidos em 1994 e chegou ao
Brasil em 2001, publicada pela Mythos Editora. Nela, o ressuscitado Cavaleiro
das Trevas enfrenta um duplo tormento: Encontrar uma alternativa que supre sua
sede de sangue sem que tenha que quebrar seu juramento de jamais tirar uma vida
humana e enfrentar um exército de mortos-vivos liderado pelo Coringa.
A saga do Batman vampiro se fecha em Crimsom Mist, já prometida
para ter seu lançamento tupiniquim em breve pela Mythos Editora.
No embalo de The Vampire Lestat, a Innovation ainda adaptaria para os quadrinhos outros dois romances de Anne Rice, Interview with a Vampire - o mais famoso livro da escritora, graças à versão cinematográfica com Tom Cruise e Brad Pitt - e Queen of the Damned, este último com desenhos do brasileiro Octavio Cariello.
PROFUSÃO DE TÍTULOS
Aproveitando
a onda, vieram: Big Bad Blood of Dracula e Death Dreams of Dracula
da Apple; Blood Junkies on Capitol Hill, da Eternity; Carmilla,
uma adaptação adulta do conto de Sheridan Le Fanu, pela Aircel
(Nota: Carmilla foi um dos primeiros romances vampíricos da história,
publicado na Inglaterra em 1872 e serviu com uma das inspirações
para o Drácula de Bram Stoker); Dracula, The Impaler, da
Comax; Draculas Daughter, da Eros; I Am a Legend, adaptação
do romance homônimo de Richard Matherson, pela Eclipse; Nights
Children, da Fanta Co. e Nosferatu, da Tome. Em 1991, a Harris adquiriu
os direitos e passou a publicar Vampirella.
O ano de 1992 presenteou os vampiros com uma nova expansão de seus títulos. A Innovation, que liderava esse nicho de mercado, solidificou-se publicando uma adaptação da série televisiva The Dark Shadows. A Topps Comics entrou na briga com Bram Stokers Dracula, adaptação do filme de Francis Ford Coppola. Além delas, ainda surgiram, no mercado das independentes, Blood in the Harvest, da Eclipse; Children of the Night, da Night Wynd Enterprises; Christian Dark, da Darque Studios; Dracula In Hell, da Apple; Dracula, The Suicide Club, pela Adventure, Little Dracula da Harvey e Vampires Kiss, da Friendly.
OS FILHOS DA MEIA-NOITE
Neste
mesmo ano, a Marvel traria de volta todos os seus vampiros no universo Midnight
Sons, um selo que abrangia, dentre outros, títulos como Blade,
Vampire-Hunter, Morbius, Living Vampire e The Nightstalkers.
O arco principal dessa nova linha, que teve ainda incorporado a si velhos heróis como o Motoqueiro Fantasma (Danny Ketch), Johnny Blaze e Darkhold, começou em uma saga de seis partes dividida entre os seguintes títulos: Ghost Rider 28, Spirits of Vengance 1, Morbius 1, Darkhold 1, Nightstalkers 1 e Ghost Rider 31. Os protagonistas destes gibis formavam "Os Nove", cuja missão era garantir que o mundo sobrenatural maligno não subjugasse o nosso. Logo em sua primeira missão, foram obrigados a se confrontar com Lilith, Rainha do Mal e Mãe dos Demônios. Tratava-se de uma entidade semita e não a filha de Drácula que havia estreado em Giant-Size Chillers de 1974 e feito pontas em The Tomb Of Dracula.
Ao
fim da primeira saga, tornou-se evidente a tensão entre os dois vampiros,
Morbius e Hannibal King, e os outros membros dos Nove. Assim, cada título
passou a ter suas próprias histórias ambientadas no Universo Midnight
Sons. A resposta do público-leitor foi tão positiva que, no ano
seguinte, uma sétima revista seria publicada: Midnight Sons Unlimited.
Pouco depois, a Marvel reimprimiria antigas histórias de Morbius em Morbius
Revisited.
Em outubro de 1993, em Nightstalkers 14, teve início, então, o derradeiro arco de Midnight Sons: Siege of Darkness que estabeleceu, de forma mais sólida, a existência de uma dimensão sobrenatural paralela ao Universo Marvel regular. Na saga, muitas das personagens foram mortas e títulos como Nightstalkers deixaram de circular. Antes disso, no entanto, a Marvel ainda lançaria um oitavo gibi chamado Ghost Rider and The Midnight Sons Magazine. No entanto, com o término desta saga, as revistas de Midnight Sons foram, aos poucos, sendo descontinuadas.
As
independentes, no entanto, continuaram a investir em profusão nos títulos
vampíricos. Bad Blood: The Vampire Collection da Atomeka, Blood
and Kisses, da Fanta Co., A Blood Tale da Epic, Cadence of Dirge
da Gothic Ltda. Dracula Chronicles da Topps, Planet of Vampires e
Tales of Evil da Atlas Comics, Strange Stories of Vampires da
Warren, Terrors of Dracula, da Fawcett, Vamperotica da Brainstorm
Comics, Vampire Rock da Undead Graphics, Vampire World: Upon a Black
Spire e Vampyre Wars da Acid Rain Studios, Vampyres, da Eternity
e Bathory: Countess of Blood da Boneyard Press são alguns exemplos
presentes no mercado americano naquela época. Para registro, a Condessa
Elizabeth Bathory, protagonista do último título mencionado, foi
uma nobre eslovaca do século XV, presa sob a acusação de
ter assassinado moças - virgens ou não - no intuito
de se banhar em seu sangue a fim de conservar a juventude.
Fora
das independentes, além de Blade e Morbius, DC e Image
também investiram em títulos vampíricos. Na DC, tivemos
Vamps, publicada em formato de mini-séries através
de seu selo Vertigo. O primeiro arco de histórias dessa série
chegou a ser publicado no Brasil pela Tudo em Quadrinhos Editora. Um segundo
arco chegou a ter seu primeiro número lançado pouco antes da editora
desistir da publicação de quadrinhos. A Image, por sua vez veio
com Crimson de Humberto Ramos, título publicado pelo Wildstorm
de Jim Lee em formato de série fechada, hoje já encerrada. Antes
de criar o vampiro irlandês Cassidy para atuar ao lado de Jesse
Custer e Tulipa em Preacher, Garth Ennis chegou a introduzir
e eliminar o chamado Rei dos Vampiros no período em que escreveu John
Constantine: Hellblazer. Ainda na Marvel, tivemos uma versão desmorta
da X-Man Tempestade, coadjuvante no título Mutant X, hoje cancelado.
Atualidade e Futuro
Hoje,
após uma onda de cancelamentos, raros são os quadrinhos em que
vampiros são as personagens de destaque. Angel, da Dark
Horse, baseado na série de TV de mesmo nome, é um dos poucos sobreviventes.
Buffy: The Vampire Slayer, também da Dark Horse e baseada
em programa televisivo, pode entrar na categoria, ainda que os bebedores de
sangue exerçam papel de vilões-coadjuvantes. A Chaos! Comics,
famosa por suas personagens ligadas ao sobrenatural, tem em Chastity
seu principal título vampiresco. Ambas as editoras estão entre
as poucas independentes que sobreviveram à crise editorial dos anos 90.
Chastity, inclusive, vem sendo publicado no Brasil pela Editora Atlantis. Já
Angel teve uma edição especial lançada em terra
brasilis pela Mythos Editora.
Na
Marvel, Blade e Morbius ainda resistem, aparecendo vez por outra como coadjuvantes,
principalmente nos títulos do Homem-Aranha. O primeiro terá uma
segunda chance com um título mensal na linha adulta da Marvel, a Max
Comics. Com o sucesso do filme Blade, Morbius também está
cotado para as telas de cinema, o que deve lhe render um pouco mais de atenção.
Na DC, com o término de Preacher, Cassidy não deve mais
retornar. No entanto, o selo Vertigo sempre pode gerar outro gibi de morto-vivo
quando menos se espera.
O fato é que a figura do vampiro exerce grande fascínio sobre nós mortais desde os tempos antigos. Apesar de estarem em baixa nos quadrinhos e no cinema, é da natureza dessas criaturas retornar de suas tumbas quando menos se espera. Portanto, não causaria surpresa se, de uma hora para outra, uma nova leva de apreciadores de sangue torne tingir de vermelho as páginas das histórias em quadrinhos.
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