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Sete perguntas para três Gralhas

Sete perguntas para três Gralhas

23.04.2001, às 00H00.
Atualizada em 02.01.2017, ÀS 01H06

Certo dia, ao encontrar as fabulosas gemas do poder, o jovem Gustavo Gomes descobriu que elas lhe conferiam fantásticas habilidades: poderes sonoros, de vôo, superforça e supersentidos. Sua vida mudou totalmente. A partir daquele momento, Gustavo deixou de ser mais um repetente de vestibular para entrar na história como o Gralha, o Vigilante das Araucárias!

Que atire o primeiro pinhão quem não lembrar daqueles famosos quadros que apresentavam nossos heróis dos quadrinhos, anos atrás, sempre na primeira página. Se você for velho mesmo, vai até lembrar que, de vez em quando, o texto mudava. No entanto, fica retido aquele “certo dia, após assistir a um experimento nuclear...

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Se você é desse tempo, ou se simplesmente gosta de ter uma visão diferente do universo dos super-heróis, o Gralha vai cair feito uma luva. Criado em 1997, a partir de uma homenagem ao Capitão Gralha (herói de HQs dos anos 40), por uma trupe de quadrinhistas de Curitiba, o herói chega esta semana às lojas de quadrinho no álbum O Gralha - Primeiras Aventuras da Via Lettera.

O livro é uma coletânea de histórias publicadas originalmente em jornais, revistas e na Internet, que retratam o cotidiano de um herói cujo maior inimigo está nos piores clichês criados em 60 anos de super-heróis. Traz o trabalho de 13 quadrinhistas, entre roteiristas e desenhistas. O Omelete sentou-se, virtualmente, para conversar com três desses caras, tentando descobrir, afinal, quem é o Gralha e de onde surgiu essa idéia maluca.

São eles: José Aguiar, 25 anos, dez deles trabalhando com HQs e ilustração em geral (e colaborador do Omelete!); Antonio Eder, 29 anos, que lançou seu primeiro fanzine em 1988; e Luciano Lagares, 28, o único paulista no meio dos curitibanos, também com dez anos de HQs.

:: Senhoras e senhores... Os Gralhas ::

Antes de a gente começar nosso bate-papo, queria saber um pouco mais sobre o béquigraundi de vocês: o que já fizeram em matéria de quadrinhos, formação etc.

José Aguiar: Bom, Meu nome completo é José Aguiar Oliveira da Silva, nasci em Curitiba em 9 de junho de 1975. Comecei a publicar tiras de quadrinhos aos 15 anos. Era uma série semanal na extinta sessão de arte dos leitores na Gazetinha, suplemento infantil da Gazeta do Povo. Depois de algum tempo parado, levei essa série (“O Boi”) para outro jornal e continuei até 1993. Aí, acabei numa editora de livros didáticos. Depois de um tempo, saí de lá junto com o Antonio Eder e o Luciano Lagares e formamos o Núcleo Estúdio Gráfico. Antes ainda, formamos um grupo na Gibiteca de Curitiba, que era o Núcleo de Quadrinhos (como pode perceber somos bem originais...) para fazer fanzines, exposições e palestras sobre HQ. Daí, saiu a Manticore, o Almanaque Entropya e o Gralha. Agora, faço novas tiras para a Gazeta do Povo (“Pensão João” e “Folheteen”) e o “Oito Bola” para o jornal Primeira Hora, mais uns cartuns aqui e acolá. Fiz desenho industrial profissionalizante e faculdade de Artes Plásticas.

Antonio Eder: Eu nasci em 71 aqui em Curitiba mesmo. Nos quadrinhos, desenho de forma séria desde que lançei o meu primeiro fanzine, O Riso do Louco, em 1988. Desde então, colaborei e produzi um zilhão de zines. Mas tudo mudou de rumo quando passei a publicar quadrinhos para revistas e jornais. Saiu material meu na Metal Pesado, Ervilha, Panacea, Quark.... e as publicações que realizamos aqui em Curitiba mesmo: Dr. Clima, Almanaque Entropya e Manticore. Para piorar, publico tiras, participo de livros cooperados de cartuns, estou editando com o ABS Moraes um novo zine chamado Réptil e faço quadrinhos para a única revista de escoteiros que existe no Brasil (não, eu não sou escoteiro...)

Luciano Lagares: A cidade onde nasci é São Bernardo do Campo, São Paulo, em 1972. Saí de lá em 1992 e já havia publicado alguma coisa na extinta Inter Quadrinhos.A partir daí, participei de alguns zines em Curitiba onde me fixei com ilustrador, quadrinhista e animador. Entre as publicações recentes de que participei estão a Manticore, o Almanaque Entropya, a revista Metal Pesado Especial 15 anos da Gibiteca, a revista Metal Pesado número 3, entre outras. Minha formação é de artes plásticas (ano de conclusão: 1997), embora não goste do rótulo. A maior parte do que tenho feito com relação a desenho e afins é para o mercado publicitário, que dá certo retorno financeiro.

No meu entendimento, a idéia por trás do Gralha está no desenvolvimento de um herói-template: uma personagem que não sirva como figura principal da histórias, mas mais como um fundo, uma cobertura, para vocês explorarem o universo de clichês e da linguagem dos quadrinhos norte-americanos. O que vocês têm a dizer sobre isso, e o que mais pensam sobre a personagem&qt;&

A Curitiba do Gralha

Antonio Eder: De longe, as melhores HQs do Gralha são justamente aquelas em que ele é pano de fundo, mas, para ser sincero, no começo eu detestava a idéia do projeto Gralha por uma simples razão: minha formação de leitor de quadrinhos é outra. Quando criança, lia a Krypta e coisas do tipo, e, no dia em que caiu um gibi do Batman na minha mão, dei risada e joguei no lixo... Mas percebi que os outros desenhistas que fizeram as primeiras HQs do Gralha estavam levando tudo muito a sério, caprichavam no desenhos dos músculos, elaboravam os cenários e fundamentalmente se enrolavam para contar a mais boba das histórias. Quando chegou a minha vez de publicar o Gralha no jornal, fiz uma HQ de 2 páginas chamada O natal este ano é numa sexta feira. Lembro que fui criticado pelo desenho, pelo roteiro... ou seja, pela história toda. Mas tá lá uma história que você lê e diz: interessante. Deste modo, foi como tratei todas as HQs do Gralha que tive a oportunidade de produzir e sempre abusando das possibilidades do desenho.

Luciano Lagares: O Gralha é um ótimo exemplo pra mostrar que quadrinhos, mesmo de super-herói, tem N abordagens diferentes. Tudo bem que não atinja seus milhões de leitores, mas tem um pessoal que curte e não é qualquer um. É um pessoal exigente e que não engole tudo. A gente teve que dar explicações sobre muitas coisas. Eu, particularmente não gosto do gênero, embora seja um dos primeiros a que tive acesso. Acho que outros partilham do meu sentimento quanto a super-heróis e, por isso, o Gralha atingiu esta característica nada original.

Todos as personagens nasceram da idéia de aproveitar os ícones da cidade de Curitiba. Já que o trabalho seria publicado por um jornal paranaense, vimos a oportunidade de mostrar serviço. Não dá pra dizer que foi tudo minuciosamente planejado. O que aconteceu foi um misto de se garantir o espaço cedido pelo jornal, ganhar um troquinho, publicar quadrinhos e - o mais pretensioso - tornar o personagem um produto nacional. Claro que parte disso fracassou.

José Aguiar: Puxa! Alguém entendeu o espírito da coisa! O Gralha é apenas um pretexto! Digamos que o universo que desenvolvemos ao seu redor é a real estrela das histórias. Aprendemos isso com o Spirit (viva Will Eisner!). Algumas de suas melhores histórias o tem como mero coadjuvante. É uma sacada fantástica ver como funciona o mundo através de outros olhos que não os do protagonista.

Quando escrevo uma HQ do Gralha, também parto do seguinte princípio: desde quando um adolescente idiota o suficiente para se vestir daquele jeito seria capaz de ter as respostas para qualquer problema&qt;& As coisas acontecem ao seu redor e ele apenas lida com elas da melhor maneira que pode! Ou seja, nada de muito extraordinário... Na verdade, eu sempre me ponho no lugar dele e penso: Eu saberia como sair dessa&qt;&. Heróis sempre pensam em eletrólise, tabela periódica e astronomia enquanto esmurram seus adversários. Talvez por isso sejam heróis. Eu, no lugar deles, morria em 5 segundos, antes de encontrar uma maneira mirabolante e pseudocientífica de detonar meu inimigo.

Me irrita um pouco essa sabedoria toda dos super-heróis. Parece que basta cair um raio em sua cabeça para você ser tornar um ser humano mais esperto. Na verdade, fico feliz que essas coisas só aconteçam nas HQs. Senão o mundo seria o caos! Não confio nem em mim com superpoderes. Quanto mais nos outros. Quando pequeno, tinha certeza que meu irmão (que não lia HQ) ganharia poderes e os utilizaria para um fim medonho... o destino jamais seria generoso com alguém com minha bagagem quadrinística.

E o referencial não é só americano. Claro que ele é o principal, pois não há nada mais americano do que super-heróis. Acho que sintetizam bem a visão que os próprios americanos têm de si mesmo. Do que gostariam de ser. São como querem que o mundo pense deles. Também buscamos referencial no underground americano e nos quadrinhos europeus, por exemplo. Tentamos o mangá, mas não deu certo. A estrutura das HQs do Gralha (até o momento) não comporta a linguagem japonesa. Pra mim, pelo menos, desenhar mangá não é só fazer olhos esbugalhados e queixo triangular. É uma questão de linguagem!

Uma das características mais interessantes da produção do Gralha está na participação de vários autores, além do trio Aguiar/Eder/Lagares. Quais são os critérios para convidar esses escritores e desenhistas&qt;& Que tipo de contribuição esse pessoal trouxe&qt;&

Desenho de Edson Kohatsu, arte final de Luri Kohatsu e cor de Edu Moreira

José Aguiar: Utilizamos alguns critérios para os convidados: em primeiro lugar, tem que ser uma pessoa aberta a críticas. Não há nada pior do que um fulano que chega no grupo, pega o bonde andando e quer revirar tudo de acordo com idéias pré-concebidas. O Gralha não é um projeto autoral, por mais que alguns trabalhos até sugiram isso. Ninguém é mais dono dele do que os outros no grupo. Por isso, é necessário um entrosamento. Algumas pessoas tentaram participar, mas saíram por não se enquadrarem nesse esquema; o que às vezes é ruim, pois acaba acumulando trabalho para uns poucos. Em dado momento, o Antonio, Luciano e eu assumimos o leme e passamos a coordenar o projeto. No mais, procuramos alguém talentoso e que queira entrar nessa roubada com a gente.

Quanto às contribuições diferentes... eu fui aquele sujeito bitolado em heróis de colante. Por metade da minha vida, só via isso na minha frente; o que me gera bastante constrangimento na frente dos meus colegas. Eles adoram tirar sarro desse meu referencial. O Antonio, por exemplo, é um cara que nunca leu um gibi de herói na infância. Ele preferia Kripta do Terror. O Luciano nunca foi um entusiasta dos HQs. Ele pintava antes de se juntar a nós. Acho que fizemos mal pra ele... O resto da trupe é ainda mais bizarra. O Tako é caricaturista, o Augusto quer desenhar heróis pro exterior, o Edson também... São pessoas ainda mais diferentes no mesmo barco; o que acaba gerando um certo conflito de pontos de vista.

As surpresas são muitas. Toda HQ nova que não é feita em equipe é uma surpresa. Nunca temos uma idéia real do resultado final que um dos desenhistas vai apresentar. Pra mim, isso sempre foi muito benéfico, abriu muito meus horizontes do que é possível (ou não) nos quadrinhos. Uma espécie de competição. Bem sadia.

Antonio Eder: O que vale ressaltar é que muitos desenhistas não tiveram suas histórias publicadas porque o resultado final estava uma droga mesmo e pode ter certeza que banquei o advogado do diabo do Gralha para não ver desenhista sem talento publicando, mas mesmo assim uns dois passaram... não vou dar nome aos bois. É só ver no álbum....

Para resumir, sempre foi dificil convidar qualquer pessoa além da tradicional panelinha. O motivo básico era EGO de quem iria participar. Houve um cara que convidei e de cara ele já queria reformular todo o conceito criar uma origem toda em cima de conceitos da Era de Ouro, enfim, cair na organização objetiva do elemento super-herói. Dai, eu falei não, não é por aí a brincadeira.

Luciano Lagares: Essa é a parte complicada da história. Muita gente queria participar da produção das histórias em quadrinhos do Gralha. Havia sempre muitas idéias novas, mas sempre aludindo à velha fórmula de heróis. Não dava pra contar com iniciantes, porque eles mal faziam quadrinhos. Apareciam com um monte de pin-ups dentro de quadros, muitos palavrões, muitos músculos, dentes rangendo e pouca storyline, argumento, ou mesmo seqüência decente. Sempre somos acusados de fazer uma panelinha e não permitir a entrada de ninguém. Sempre me pareceu desculpa pra não se esforçar um pouco mais. O pessoal acha que quem está publicando tem que aceitar qualquer lixo. Acho que é a falta de uma escola decente.

O Lagares falou num certo fracasso de alguns propósitos que vocês tinham para com O Gralha. O que exatamente fracassou&qt;&

Antonio Eder: Imagine uma fila indiana. Eu sou o primeiro da fila, faço minha HQ e vou pra o último lugar esperar a minha vez de novo. Daí, é a vez do Zé, do Luciano, do Tako e por aí vai... só que depois que a maioria dos envolvidos publicou a primeira vez, eles simplesmente sumiram. E as desculpas é que não faltam, mas o fato é que chegou um momento que só nós aqui do Núcleo estávamos mandando ver no trabalho, e isto fica claro na coletânea. Isto exige uma atitude. A partir da HQ Bem vindo a Cidade Sorriso, nós planejamos todas as histórias para o segundo ciclo de aventuras do Gralha, e praticamente fizemos tudo acontecer. O que sempre vi no quadrinho nacional foi total falta de profissionalismo (não digo todos, mas boa parte). É lógico que acaba sendo uma peneira para ver quem tá a fim de dar o sangue.

Luciano Lagares: O jornal Gazeta do Povo deixou de se interessar pela publicação do Gralha por dois motivos (segundo seus editores): o primeiro era que a nova formatação do caderno FUN (onde o Gralha saía) seria mais voltada ao público teen, para quem o Gralha não funcionaria. O segundo motivo era que alguns dos editores se diziam cansados deste tipo de material. Não queriam saber dele nem de graça. Sendo assim, a tarefa de publicar este material foi por água a baixo.

É possível criar-se um herói, uma figura, que agrade a todas regiões culturalmente heterogêneas do país&qt;& Ou vale mais a pena criar personagens setorizadas, mais a ver com a cultura de um local&qt;&

Luciano Lagares: Me parece que trabalhar uma personagem regional é mais desafiador. Você tem que encontrar minúcias na cultura local para que a caracterização seja convincente. Uma personagem que concentre em si uma cultura mais abrangente pode carecer de objetividade. Sem falar na confusão que gerar. Não sei se a questão é valer a pena. Isso vai de cada um. Se um cara tem facilidade em desenvolver um Dr. Manhattan da vida, bom pra ele. Se, no entanto, sua área é mais um Batman, que atua numa cidade específica, siga por aí.

José Aguiar: É o que eu estava falando sobre os heróis americanizados. Por isso mesmo, é difícil um herói local pegar no Brasil. Nós somos um povo mais irônico e sarcástico. Se o herói for muito americanóide, vamos demolí-lo pela falta de originalidade. Se for muito regional, vamos acusá-lo de ufanismo e falta de originalidade também. Os brasileiros não têm visão idealizada (pelo menos não esse tipo de idealização) de nós mesmos.

Vejo tanta gente produzindo heróis com cara de para americano ver... é algo que enraizou feito peste no gosto do público. Na Manticore, nós pensamos sempre no terror e ficção (dois gêneros sempre em alta por aqui) como uma alternativa para o público. No caso do super-herói, eu não sei. Estou curioso com a resposta do àlbum do Gralha para ver como algumas pessoas de outros lugares vão reagir. Por aqui, tem muita gente que torce o nariz por ter essa faceta regional. Não que seja esse o tom da série. Fugimos disso... Muita gente não gosta por ser um super-herói diferente do que costumam ver. Há ainda os que gostam pelas duas razões. Na verdade, não tenho uma resposta.

Seria possível viver só de HQs no Brasil&qt;& Sei que o Núcleo Estúdio Gráfico, formado pelos três, não trabalha somente com quadrinhos. O que mais vocês fazem&qt;&

O Núcleo Estúdio Gráfico produz também quadrinhos institucionais e infantis.

Luciano Lagares: Impossível. Talvez no que eu mais discorde com o pessoal é quanto ao fato de produzir quadrinhos de graça. Tem um monte de picaretas aí que pedem páginas de HQ, às vezes até coloridas. Publicam e você nunca vê a cor do dinheiro. Fanzine é uma coisa bastante diferente. Você se vira, faz o que quer. Minha opinião é que muitas tentativas mal fadadas acabaram com a credibilidade dos quadrinhos nacionais. É só ver a quantidade de porcaria que sai. Tem gente que coloca a culpa no leitor, mas eu discordo.

Enfim, se quadrinhos desse dinheiro suficiente pra você comprar o material que gasta para produzi-lo, já seria ótimo. O Antonio disse, estes dias, que nós aqui do Núcleo fechamos um ciclo, ou seja, produzimos de uma forma ou outra quase todos os gêneros de quadrinhos. Fizemos terror, ficção, infantil, alternativo, super-herói, institucional, educativo, etc. E daí&qt;& Alguém ganhou muito dinheiro a nossa custa.

José Aguiar: O núcleo é um estúdio de ilustração. Trabalhamos muito com publicidade, livros didáticos e desenho animado. Quadrinhos são o nosso ideal. Por mim, faria o dia todo. Mas não dá. Muitas vezes, fazemos projetos como a Manticore mesmo sabendo o prejuízo que pode dar. Quadrinhos são uma necessidade orgânica. Infelizmente dão uma mixaria... quando dão.

Antonio Eder: Não é possível (infelizmente) viver só de quadrinhos no Brasil, isto é fato. Mas desistir da arte só por isso já é conformismo.O projeto Gralha é um bom exemplo, tem lá seus defeitos mas também tem seus acertos.... e, cá entre nós, foi o Jotapê Martins que sugeriu fazer a coletânea do material. Para mim, isto é uma boa prova de que qualquer material bem feito terá seu lugar ao sol (para ficar desbotando...)

Quais são os planos para o futuro&qt;& Alguns de vocês colocam um clima meio “negro” para a situação dos quadrinhos por aqui. O que os motiva a continuar&qt;&

Adaptação de O gabinete do Dr.Caligari, clássico do cinema alemão, para a Manticore 3

José Aguiar: Estamos empenhados em conseguir uma revista para o Gralha. Temos até um número piloto já feito. Explico: o espaço do jornal é muito restrito do ponto de vista criativo - temos que fazer HQs curtas para que os leitores não se esqueçam ou simplesmente não percam a sequência dos acontecimentos - e de público. Ficamos limitados a quem lê aquele jornal. O fato das histórias serem curtas é até estimulante e desafiador, mas há coisas que necessitam de mais espaço. Desde o fim do ano passado, este tem sido nosso objetivo: conseguir um espaço maior como um suplemento, não só para o Gralha. Outra coisa seria um curta de animação. Nós aqui do Núcleo já trabalhamos na área há um bom tempo e seria ótimo criar algo nessa linguagem. Mas ambas as coisas são complicadas de viabilizar. Mais pra frente, por que não um segundo volume do álbum&qt;& Estamos curiosos para ver como o público do resto do país vai reagir ao Gralha. Se gostarem...

Quanto a outros trabalhos, há o Almanaque Entropya, que fazemos de quando em vez. É uma publicação mais underground. Cada autor paga uma cota para viabilizar a publicação. Se tudo correr bem, até o fim do mês sai o número 4. O último saiu há um ano. São quadrinhos mais experimentais: muito mais autores do que o Gralha, e sem personagens fixos. Muitos da trupe do Gralha também participam.

Além, é claro, da Manticore. Temos mais 3 números mofando na gaveta. Há um preview da terceira edição no site www.quadrinho.com.br/manticore. Dê uma conferida.

Antonio Eder: Clima negro&qt;& Não existe nem clima e nem o negro quando se fala em quadrinhos nacionais. Eu sou cabeça dura. Só sei desenhar quadrinhos. Trabalho com ilustração, mas não paro de desenhar quadrinhos. Sei que não dá dinheiro e menos de 5000 pessoas no Brasil dão valor ao nosso quadrinho interno bruto. É uma guerra. E sei que estou do lado errado do front e, a qualquer momento, vou levar um balaço na minha ideologia.

Quantos aos projetos nós temos centenas. Eu tenho um montão deles. Na verdade, temos três revistas de quadrinhos (50 páginas cada) com arte pintada à mão prontinhas (qualidade Manticore), na gaveta. Mas, em todo caso, voltei aos fanzines, porque posso ver meu material publicado e lido.

Luciano Lagares: Essa pergunta é complicada e simples ao mesmo tempo. Eu gosto de desenhar. Desenho não só quadrinhos; tenho um baita livrão onde fico rabiscando um monte de coisas que, às vezes, nem sei como foram parar lá. O pior é que não costumo mostrar esse livro pra ninguém. É uma maneira de alguém expressar alguma coisa através do simples rabisco. Eu fiz violino por quatro anos. Hora ou outra, eu me pego tirando algumas notas no instrumento, sem pretensão alguma. Os vizinhos não curtem muito.

Acho que quadrinhos são muito parecidos neste sentido. A única diferença é que precisamos de alguém que leia o que queremos dizer. Muita gente se delicia com o fanzine. Sai coisa muito legal e bem produzida, mas, no fundo, todo mundo quer publicar num lugar onde o editor te liga no meio da noite e diz que seu trabalho é legal e que quer vê-lo publicado. Só que a gente sabe que não é bem assim.

O Omelete agradece a José Aguiar, Antonio Eder e Luciano Lagares pelo ótimo papo. :-)

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