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BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS 2 - Frank Miller ataca novamente - parte 1

BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS 2 - Frank Miller ataca novamente - parte 1

16.11.2000, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11
Desde maio último, graças a esforços do editor Bob Schreck, responsável por todos os títulos do Homem-Morcego na DC, Frank Miller está trabalhando em Batman: The Dark Knight Strikes Again, a mini-série que dará seqüência à sua obra mais famosa, Batman: O cavaleiro das trevas.

Editado pela DC Comics em 1986, Batman: O cavaleiro das trevas foi um dos primeiros quadrinhos a receber destaque na grande imprensa do mundo inteiro. Juntamente com Watchmen de Alan Moore e Dave Gibbons, tornou-se o ideal dos gibis nos anos oitenta. A famosa mini-série em formato prestige levou o gênero super-heróis a patamares inusitados, utilizando personagens como metáforas políticas e novas técnicas narrativas. Até hoje sua influência faz-se sentir na indústria das HQs do mundo inteiro. O cavaleiro das trevas inspirou autores a ousarem mais em suas obras, enquanto levou muitos a cultivar uma estética violenta e desesperançosa que quase se tornou padrão dos super-heróis no final dos anos oitenta e começo dos noventa.

UMA ABORDAGEM INUSITADA

Quinze anos depois, Miller está voltando à sua obra mais conhecida. No entanto, não tem intenção alguma de se repetir. Sua abordagem agora pretende ser completamente diferente. Em entrevista à edição 1392 do Comics Buyer’s Guide, o renomado informativo semanal editado por Maggie Thompson, ele comentou: Eu não entraria nessa se fosse pra fazer a mesma coisa. Se é pra bancar o Kamikaze, então eu quero me divertir.

A primeira notícia consistente sobre os novos planos de Frank Miller havia sido veiculada semanas antes no número 1385 do CBG. Nessa edição, contrariando expectativas de quem esperava rever o mesmo estilo angustiado e raivoso de O cavaleiro das trevas, Miller falou com detalhes da nova índole e das condições físicas de Bruce Wayne. Em Batman: the Dark Knight Strikes Again, o herói deve aparentar dez anos menos. No entender do autor, nos meses que separam a primeira saga da atual, o Homem-Morcego terá se cuidado, coisa que não havia feito nos anos que antecederam a primeira série. Ele estará em paz consigo mesmo e terá superado a ira e a dor causadas pela morte de seus pais cinqüenta anos antes.

O QUE É UM HERÓI&qt;&

Carrie Kelly, a Cat-Girl (Moça -Gato)

Na mini-série com lançamento previsto para meados do ano que vem, a América terá se tornado uma ditadura fascista de tons moderados. Todas as notícias, nos meios de comunicação, são risonhas e francas. Passa-se a falsa idéia de que não há mais crimes. As tevês não cansam de repetir que a vida é boa. Por isso, ninguém mais precisa de direitos civis. O fato de que todos os super-heróis desapareceram reforça essa ladainha mentirosa. Dá para imaginar, então, como Batman representa uma pedra no sapato dos poderosos. Ele é o elemento anarquista na história e cabe ao seu intelecto descobrir o paradeiro de seus antigos colegas e trazê-los de volta.

Acompanhado dos jovens membros da Gangue Mutante que o seguiram à batcaverna ao término da primeira mini-série e da espoletíssima Carrie Kelly – antes a Robin e agora a Moça-Gato –, Batman vai inspirar uma nova geração de heróis. Na verdade, num mundo sem heróis, seu retorno, por si só, serviu como catalizador de mudanças. Diante da nova situação, o Homem-Morcego determina que Carrie encontre os jovens meta-humanos enquanto ele trata de ir atrás da velha guarda. A coisa se complica quando Lex Luthor, o mestre do mundo, identifica a volta dos heróis e decide criar, antes que seja tarde demais, sua própria e corrupta versão da Liga da Justiça. Por sua vez, inúmeros vilões da DC terão destaque, mas não serão vistos como criminosos pelas pessoas mas como heróis.

Não é à toa, portanto, que a questão que permeia todo este novo projeto seja: o que é um herói&qt;& No entender de Miller, o impacto e o glamour dos super-heróis com seus trajes maneiros fazem com que eles quase não precisem ser heróicos. O herói, então, acaba sendo o sujeito que vence e ganha a medalha. Miller acredita que o erro está na premissa equivocada do famoso lema O crime não compensa. Claro que o crime compensa! E compensa muito, haja visto o grande número de larápios se esbaldando no mundo todo. A mensagem, portanto, tem de ser outra: O crime é errado. Quer compense ou não, é errado e ponto final!

Na entrevista ao CBG, Miller afirmou que está elaborando um Batman que se tornou o Herói Perfeito. Ele não remói mais o assassinato dos seus pais, uma coisa que aconteceu quando tinha seis anos de idade. Pelo amor de Deus, o homem está beirando os sessenta. Já superou esse trauma, embora ele o tenha inspirado e formado o cerne de seu heroísmo. Três anos se passaram desde o fim de O Cavaleiro das Trevas. O Homem-Morcego está mais calmo e melhor do que nunca. Tem todas as peças da sua vida no lugar. A raiva e o pesar transformaram-se em determinação virtuosa. Em Dark Knight Strikes Again, ele será uma figura muito mais poderosa, que terá passado por sua provação. Para Miller, todo herói de tem que ser posto à prova. É assim que eles são definidos.

UMA CELEBRAÇÃO

Indagado sobre suas motivações para voltar ao universo do Cavaleiro das Trevas, Miller explicou, em entrevista a Charles Brownstein do site Comic Book Resources que, depois de quinze anos, eu tive algumas idéias e bateu a vontade de brincar com os brinquedos da DC. Quis brincar com os grandes super-heróis. Já fiquei longe tempo suficiente pra não estar mais cansado deles. E, vendo a que ponto as coisas chegaram nos últimos anos, achei que um lustro nos móveis e uma arrumação na casa viriam bem a calhar. Pense em mim como o experiente xerife tendo de voltar a Dodge City porque os jovens estão atirando pra cima na igreja, assustando os cavalos e tratando mal as mulheres.

Em conversa com Maggie Thompson, Miller foi mais adiante. Comentou que vê O cavaleiro das trevas como uma invectiva enquanto The Dark Knight Strikes Back está mais para uma celebração. Em 1986, sua proposta foi subverter a imagem vigente de Batman como um representante quase oficial da lei. Sua intenção foi torná-lo assustador e reverter a pausteurização do mito do super-herói. Isso resultou num justiceiro taciturno e autopiedoso. Miller entende que hoje tudo é diferente. Ele quer mostrar o quanto o gênero super-herói pode ser empolgante. Desta vez, não pretende ser melancólico, sarcástico ou desconstrucionista. A seu ver, já se abusou demais desses expedientes. Se eu vou fazer uma HQ de super-heróis, tem que ser em grande estilo, disse Miller. As coisas estão lúgubres demais. Os heróis ficaram tão feios que até seus músculos têm músculos. A elegância de Gil Kane desapareceu. Não se vê mais o regozijo absoluto do anel energético do Lanterna Verde ou a magia do Flash, que se move tão rápido que ninguém o vê.

Não há noção do desejo básico por trás dos super-heróis, decreta Miller. Pra mim, todo mundo que trabalha hoje com eles deveria ser obrigado a escrever, em uma só frase, qual é o desejo central de sua personagem. Cada história teria de ecoar esse tema. Essas personagens representam tanta coisa – as boas pelo menos representam. Do jeito que está, eu não sei mais quem são esses caras. Não têm mais graça. Eu quero trazer de volta o prazer. Vai ver, é um pouco de nostalgia de minha parte. Se for, eu não tenho vergonha de admitir. Super-heróis devem ser heróis. Agora, o que temos é gente feia enfrentando gente mais feia e o cara com mais armamento vence. O fundamento básico de um super-herói é que o cara de colante salva inocentes de coisas ruins. É inacreditável como quase não se vê mais disso nos gibis.

< Continua >

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