Você sabe se portar quando está presenciando o fim de um trechos de história da (boa) música pop à sua frente? É melhor prestar atenção a cada detalhe ou jogar o corpo em direção ao fluxo de consciência que você sabe que não deve acontecer nunca mais? A dúvida dividiu a plateia de fãs e penetras curiosos na festa do LCD Soundsystem, atração principal do festival No Mondays, que aconteceu no dia 18 de fevereiro, em São Paulo.
A banda liderada pelo geniozinho James Murphy é cheia de predicados preciosos à última década da música moderna. Provou que, novamente, o frontman não precisa ser um galã com requebrado impecável ou voz de pardal. Liderou um movimento que devolveu a Nova York a condição de cool. Inventou uma mescla de rock e música eletrônica que influenciou o indie a fundo. Foi a trilha sonora da vida (e da pista) de milhões de hipsters pós-adolescentes. Validou o uso (agora já ressecado...) do instrumento cowbell para centenas de bandas que orbitam ao redor do Brooklyn. E foi, sem medo do exagero, uma das marcas mais interessantes a formatar a década pós-11 de setembro.
lcd soundsystem
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Pois agora, com a virada dessa primeira parte dos 2000, o LCD Soundsystem anunciou (choque!) seu fim. As últimas apresentações do grupo estão marcadas para abril, em sua cidade natal. E os brasileiros deram a sorte de ver uma das últimas apresentações. Esta foi, fato raro para uma banda no ápice, a quarta viagem do LCD Soundsystem a São Paulo - já passaram por aqui em 2004 (no SónarSound), 2006 (no Skol Beats) e 2007, em show solo na Via Funchal.
Daí voltamos à dúvida do primeiro parágrafo. Todos posicionados no palco, globo de espelhos no teto, Pat Mahoney e James Murphy trocando olhares e a introdução calma e discursiva de "Dance Yrself Clean" (que também abre o último álbum, This is Happening) começando a encher o ar, hora de fazer o que? "Eu quero tocar até que a hora chegue", diz a letra. E a gente acredita, pois poucas vezes se vê uma banda tocando com tanta vontade, mesmo com o cansaço de fim de turnê amarrado na cara de todos.
Quer analisar cada detalhe? Pode-se fazer isso. Talvez você prefira ver a técnica impulsiva de Mahoney, na bateria posicionada na frente do palco. Ou talvez o fôlego impossível de Murphy, que alcança timbres longuíssimos sobre a base eletrônica, agarrado ao seu microfone vintage. Ou ainda a concentração divertida de Nancy Whang. Quer pensar em como eles partem o tempo entre cordas, percussão e sintetizadores sem soar retrô ou conceitual demais? Ou então pare e preste atenção ao discurso de "All My Friends" - afinal, eles foram praticamente a voz de uma geração!
Mas não, talvez essa não seja a sua. Talvez você esteja mais interessado na festa insuportável de boa que uma banda consegue armar, quando música e vocais se tornam só uma massa de ritmo. Então é hora de gastar o suor e os cotovelos para dançar os bons hits - "Losing My Edge", "Daft Punk Is Playing at My House" e a niilista "Yeah", do primeiro disco, "Get Innocuous!" do segundo e "Drunk Girls", do último - que fizeram os momentos altos da noite. Ou ficar dançando com os pés em "Tribulations" e no pós-punk de "Movement".
Depois de tudo isso, você pode até arriscar uma ou outra lágrima em "New York, I Love You But You're Bringing Me Down", o bis de despedida. Pois aí é hora de lembrar que tudo o que é bom de verdade tem que acabar. E você percebe que chegou à idade de ficar torcendo por uma turnê de reunião da sua banda favorita. E então você pensa melhor.
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