Em show duplo, Bush e Stone Temple Pilots mostram energia de décadas passadas

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Em show duplo, Bush e Stone Temple Pilots mostram energia de décadas passadas

Bandas engajam público com suas faixas clássicas, fazem bons shows, mas parecem lutar contra a possibilidade de se tornarem covers deles mesmos

15.02.2019, às 07H20.

Bush e Stone Temple Pilots estão no Brasil para uma série de shows como parte de uma turnê conjunta. Três cidades diferentes que irão ver as apresentações de alguns dos grandes nomes remanescentes do rock de décadas passadas.

Stone Temple Pilots vem com o novo vocalista, Jeff Gutt, enquanto Bush chega ao país com dois novos integrantes: O guitarrista Chris Traynor e o baixista Corey Britz, que integram o grupo desde 2010.

A banda responsável pela abertura da noite paulistana, após a apresentação dos brasileiros do Republica, foi o STP. A plateia formada majoritariamente por pessoas com mais de 28 anos, não parecia tão animada até a primeira nota de “Wicked Garden” que, cantada por Gutt - que mostra postura e voz muito próximas do que Scott Weiland apresentava - acendeu o público como o flash de um raio no mato seco.

Com isso em destaque, se torna interessante perceber como um membro novo para a banda, praticamente desconhecido do público brasileiro, acrescenta vida ao palco. Sangue novo para dar uma pegada mais fresca, sem os problemas da rotina de tantos anos na estrada, algo que parece ter dado um novo gás para Dean DeLeo, Robert DeLeo e Eric Kretzparece.

Durante o show, que durou pouco mais de uma hora, foi possível perceber uma dinâmica interessante: Será que um vocalista, ainda desconhecido do público, mas apoiado em faixas clássicas, é capaz de gerar algum tipo de frisson? A resposta é sim. Talvez menos do que alguns dos ocupantes prévios do posto, mas, ainda assim, com gritos e agarrões.

Durante a apresentação, algo que chama a atenção para a performance do STP é a forma como as nuances e atmosferas são trabalhadas. A alternância entre momentos pesados e intensos e atmosferas mais calmas, é um fator importante para manter o interesse da plateia no que acontece sobre o palco.

Porém, vale ressaltar que as faixas mais conhecidas são peças fundamentais para que essa variação funcione, já que, apesar do disco mais recente do grupo ter sido lançado em março de 2018, somente duas faixas fizeram parte da noite (“Meadow” e “Roll Me Under”). Esse baixo impacto das criações mais recentes acaba trazendo à tona a pergunta clássica: Até que ponto é interessante para uma banda se manter refém dela mesma?

Para os fãs mais antigos, esse processo é interessante, já que poder acessar músicas como “Creep”, “Big Empty” e “Plush”, com uma pegada ainda mais potente durante os shows, é algo revigorante, que acalenta o coração, arrepia e tira lágrimas dos olhos. Mas será que esse é o objetivo do grupo, tornar-se cover de si mesmo?

Apesar disso, a apresentação toda contou com uma energia intensa, a plateia conectada, respondendo, gritando e atenta. As interações rápidas, a boa escolha do repertório, o bom aproveitamento dos clássicos e os momentos que causam sensações, fazem do show do STP algo marcante.

No entanto, se a ideia for expandir os horizontes para além dos fãs cultivados no passado, buscar uma forma de tocar novas audiências é algo necessário. 

O retorno do Bush depois de 20 anos e um gostinho dos anos 90

Um dos detalhes mais interessantes sobre o Bush, encarregado de encerrar a noite, é que os ingleses só tocaram no Brasil uma única vez, em 1997. Depois disso, nunca mais voltaram. Agora, tanto tempo depois, ver a energia de Gavin Rossdale no modo mais próximo dos anos 90 é, sem dúvida, uma boa surpresa.

O vocalista, de 53 anos, corre pelo palco, pula, grita e toca guitarra como um jovem de duas décadas atrás. Existe algo na forma como ele se porta que traz à mente o espírito rebelde do grunge ou do pós-grunge - como alguns preferem chamar - à tona.

No entanto, o Bush é refém da mesma armadilha do STP. Com dois novos membros, desde o fim do hiato do grupo, em 2010, e mais três discos lançados, o grupo renova suas energias com essa mistura de gerações, mas consegue engajar o público de forma completa somente quando aposta em suas faixas clássicas como “Glycerine”, “Swallowed”, “Machine Head” e, a mais pedida da noite, “Greedy Fly”.

Isso não é demérito. Criar músicas que permanecem como referência é algo para poucos e por isso, mesmo depois de duas décadas longe do Brasil, o grupo ainda consegue reunir fãs aguerridos em frente ao palco.

Essa demonstração de carinho faz com que Rossdale ressalte as diversas tentativas de retornar ao Brasil até comentar: “Eu tenho expectativas muito altas com vocês. Muito altas”. Esse sentimento pode ser apreciado na forma como ele pula, joga a guitarra no chão, até chegar a hora de se embrenhar no meio da plateia e caminhar por todos os espaços do Credicard Hall. Da área vip até o fundão.

Porém, ao contrário do que o frontman expõe no palco, as pessoas já não têm a intensidade da plateia de um show adolescente, mas, ainda assim, não deixam a poeira baixar por quase nenhum instante, cantando e interagindo durante todo o tempo.

No entanto, mesmo com a banda demonstrado força e forma no palco, ela também acaba presa ao mesmo questionamento: Como não perder a relevância, se manter como um ponto de interesse e não se tornar um arremedo de si mesmo? Mais cedo, Rossdale afirmou não se preocupar com isso, mas sim com a qualidade da obra que entrega. Porém, se não existe interesse em algo novo, chega um ponto que só ser bom não é o bastante.

E com isso, no final das contas, não dá para negar que os dois shows agradam fãs de longa data - a maior parte do público presente -, mas não preenche e nem reverbera como parte do dia a dia de quem está chegando à linha de frente do consumo musical e cultural, agora.

Em todo caso, Bush e Stone Temple Pilots tocam no Rio de Janeiro (nesta sexta 15) e em Belo Horizonte (no domingo 17). Saiba mais aqui. http://premier.ticketsforfun.com.br/shows/show.aspx?sh=BUSHSTUB19

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