Música

Entrevista

Armada abre o selo VAYPOR focado no novo gênero da e-music Wave

Mike Hawkins, chefe do selo, fala com exclusividade sobre os projetos para o novo segmento da gravadora

23.05.2017, às 12H14.
Atualizada em 24.05.2017, ÀS 10H43

Nenhum artista gosta de se prender a gêneros ou qualquer outro tipo de coisa que possa sedimentar ou cercear a liberdade criativa deles, certo? No entanto, sempre que um novo movimento surge e começa a ganhar visibilidade, na tentativa de entendê-lo e fazer com que mais pessoas possam conhecê-lo é algo natural, e isso é o que está acontecendo agora com o Wave ou VaporWave, um novo segmento da música eletrônica que na semana passada ganhou um selo da Armada Music, VAYPOR, que será especializado em lançamentos desse segmento.

Mike Hawkins VAYPOR novo selo Armada

O omelete conversou com Mike Hawkins, DJ e produtor responsável pelo novo selo, que lançou sua primeira faixa do segmento (ouça abaixo) e explica um pouco mais dos objetivos da empreitada. Mas antes disso, caso você ainda não conheça esse novo gênero musical, vamos a alguns pontos importantes - A faixa também está disponível nos principais serviços de streaming.

Chamado de novo gênero dentro da música eletrônica, matéria da Highsnobiety traça um rápido histórico das faixas evidenciando que as músicas ganharam destaque principalmente por meio do Soundcloud, plataforma na qual diversos produtores postaram seus trabalhos com elementos de dubstep, jungle, house, techno e hip-hop.

No entanto, toda essa mistura gerou um resultado sonoro muito mais marcado, denso, coeso e que se espalha em ondas pelo ambiente. Após isso, comunidades versando sobre o gênero começaram a aparecer na Internet e a contar com espaços específicos na Europa e nos Estados Unidos, com seu epicentro em Londres, onde muitos eventos de música e também de compartilhamento de ideias para produzir são realizados constantemente.

Em todo caso, o que você vai ouvir, principalmente nas produções com menos foco comercial é uma mistura de sons que lembram as camadas do The xx e uma densidade que vai levar os festeiros mais emotivos às lágrimas em diversas pistas ao redor do mundo.

Hawkins e o Wave
Hawkins abre a conversa dizendo que o Wave é um gênero que ele tem seguido há algum tempo e que cresceu muito de um tempo pra cá. "Alguns dos grandes artistas estão em Londres e eu entrei em contato com eles quando surgiu a ideia de criar o VAYPOR. Isso me pareceu o correto a ser feito". Ele destaca ainda que o selo deve trabalhar com uma boa amplitude de gêneros, mas que ainda sim o Wave é o carro chefe, e comenta que será um desafio consolidar o estilo no mercado da música eletrônica. "Mas eu acredito que a boa música sempre vai se destacar no final e que o VAYPOR está pronto para prover, no futuro, uma plataforma para todos os novos gêneros e músicas incríveis, desde que sejam diferentes e de grande qualidade", e segue, "VAYPOR é a casa para tudo que é diferente. Nós queremos trabalhar com as músicas que outros selos e gravadoras têm medo de trabalhar. Eu trouxe a ideia para a Armada e eles amaram", destaca.

Sobre como se interessou pela nova sonoridade, Hawkins comenta que o Wave o pegou justamente por ter muita atmosfera em conjunto com uma vibe forte, “[...] é muito feminino, a música tem uma energia sexual, e tantas outras qualidades dos outros gêneros que já estão por aí há algum tempo”, e destaca justamente que o novo gênero combina “o sentimento descontraído de batidas lentas, batidas do trappy com sintetizadores atmosféricos e nostálgicos. Mas o ritmo me pegou mesmo quando eu comecei a escutá-lo - e eu estou realmente orgulhoso de hoje conseguirmos assinar com alguns dos maiores artistas do segmento e ajudá-los a crescer”.

Sobre o surgimento de um novo gênero, frescor e mercado
Não dá pra negar que uma preocupação de todos os amantes de música é como um sistema pensado para fazer com que as faixas sejam produzidas com constância possa levar todo o frescor dessas criações. Quanto a isso, Hawkins responde que “Geralmente, eu acho que música boa sempre sobressai se elas tiverem as condições corretas para crescer. Com o VAYPOR o plano é que eu tenha meu próprio time realizando a curadoria do selo e todo o respaldo de uma grande gravadora como a Armada”. ele justifica também que a marca [Armada] é uma das principais do mercado e “[...]quando eu trouxe a ideia para eles, eles amaram. Então, manter as coisas frescas é 100% sobre qualidade, afinal existem discos incríveis que ainda hoje soam muito bem. Eu quero que a VAYPOR tenha música realmente atemporal e claro, com os traços modernos, também. Enquanto isso tiver atitude e caráter”.

Já, sobre o mercado ele se mostra extremamente otimista, mesmo com um gênero musical que apresenta sonoridade mais densa e menos expansiva quando comparada aos principais hits da EDM. Mas enfatiza que a expansão do gênero vai depender de alguns fatores e segue para um exemplo prático: “Skit e Kareful, dois dos caras que eu estou trabalhando atualmente estão fazendo festas de Wave com ingressos esgotados em diversas grandes cidades! Por isso eu acho que este é um gênero que realmente pode crescer, pois no fundo existe um movimento e um sentimento para fazer algo diferente, saindo da cena que já está estabelecida”. E complementa justificando o que leva as pessoas para as festas de Wave: “As pessoas vão porque o show é diferente, não é sobre sacudir a cabeça por sete horas, mas sim sobre sentir essa energia única. Eu acho que no tempo certo, pode ser material para festivais, mas precisa crescer por meio dos locais pequenos onde a atmosfera é o principal”.

E claro, uma das coisas que chama a atenção no novo segmento logo de cara, é justamente a clara alternância entre altos e baixos, e as diversas camadas sonoras construídas para cada momento das faixas, algo que não acontece com as músicas mais tocadas atualmente. Em todo caso, ver um novo segmento musical surgindo e contando com o empenho de um gravadora especializada, será que pode influenciar o mercado? Sobre isso, Hawkins afirma que pode acontecer se “gente suficiente começar a fazer isso [criar esse tipo de música]”, e segue destacando que no final das contas, o que ele pode fazer como um artista é criar e expor suas criações para o máximo de pessoas possível. “O resto é por conta das pessoas. Mas vale lembrar que movimentos começam por que a música ressoa no ouvinte e ele tenta mostrar isso para seus amigos - isso é o que qualquer estilo musical de sucesso precisa em uma fase inicial”.

Subjetividade da arte e o Brasil
Não dá pra negar que a sonoridade Wave parece carregada de emoções que evoluem com a música ou com o set e isso é capaz de gerar uma boa conexão entre as pessoas na pista de dança. Será que é a hora das pessoas irem para os clubes e expandirem ainda mais suas experiências por meio da música?
"Com certeza! Eu acho que em algum lugar nessa trajetória nós perdemos um pouco da sensação que faz parte da música, principalmente no mundo da música eletrônica. É tudo sobre 'quebrar tudo' e 'ir com tudo'". E segue comentando que fazer isso pode ser legal por um tempo, "Eu aproveitei meu tempo de raves -, mas eu me lembro quando a música eletrônica antiga realmente conectava as pessoas, a gente não precisa ir mais de 5 ou 6 anos atrás para encontrar uma cultura completamente diferente ao redor da música eletrônica e eu quero trazer isso de novo. A música deveria tocar sempre as cordas dos nossos corações”.

O VAYPOR já realizou seu primeiro lançamento na última sexta-feira (22) e tem mais um release planejado para junho. E claro que a pergunta de quando devemos ver isso ao vivo no Brasil não poderia faltar.“Eu espero poder voltar relativamente em breve, mas é muito cedo para cravar planos específicos".

Ficou curioso sobre o gênero? Mike Hawkins sugere alguns nomes bacanas para você conhecer um pouco mais. “Ouçam caras como Skit, Kareful, Palence - alguns dos nomes que nós estamos assinando para a VAYPOR, mas também busquem nomes como MYSTXRVL e Deadcrow. O Youtube é seu amigo. No final, existe um punhado de música a uma busca de distância”.

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Confira os destaques desta última semana

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