O início do show do KARD, no Carioca Club, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Créditos da imagem: O início do show do KARD, no Carioca Club, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Música

Artigo

KARD carrega show longo e sincopado na base da energia e do profissionalismo

Com 2h30 de hits, solos e covers, quarteto de k-pop enlouqueceu os fãs em São Paulo

Omelete
3 min de leitura
24.07.2022, às 15H40.

O sabor sonoro do KARD é tão distinto dentro do cenário do k-pop que fica difícil não se envolver na forma como o quarteto o apresenta no palco. Na última sexta (22), o grupo trouxe ao Carioca Club, em São Paulo, essencialmente um espetáculo de música latina filtrada pelos olhos do k-pop. Na backing track que ditava o show (nem sinal de instrumentos no palco), sintetizadores aéreos eram colocados por cima dos batuques tropicais de canções tanto do começo da carreira do grupo (vide “Dímelo”) quanto do álbum mais recente deles (“Ring the Alarm”).

Por vezes, a EDM tomava a frente dessa alquimia musical, especialmente no clímax das canções que mais mobilizaram o público, como “Bomb Bomb”. Sem aviso, a batida de rumba saía de cena e dava lugar a sopros e toques de sintetizador graves, enquanto os integrantes do KARD se adiantavam para a ponta do palco, chamando o público para a festa - e ninguém ousava recusar o convite. De qualquer forma, foi um flow interessante que se revelou durante as 2h30 da apresentação: do eletrônico ao latino, e de volta outra vez.

Até por isso se mostrou curiosa a escolha de “recortar” esse flow com constantes pausas para conversas com a plateia. Foi quase matemático, na verdade: de 2 em 2 músicas, o telão atrás dos integrantes voltava para o logo principal da turnê e a intérprete de coreano contratada pela Highway Star aparecia no canto do palco para traduzir as piadinhas, agradecimentos e competições boladas pelos integrantes. Para comparar com outro show de k-pop recente, o 2Z buscou suceder suas canções de maneira bem direta antes de assumir um tom mais populista na metade final do show.

Foi a energia e profissionalismo dos quatro artistas no palco que se certificou que o KARD não perdesse a boa vontade do público durante esse processo constante de pausa-e-retorno. BM é a bomba de carisma, confiança e alegria do grupo, além de ser o seu dançarino mais exímio. Na seção solo do show, capitaneada por “13IVI”, ele hipnotizou o público com passos meio-improvisados, meio-coreografados, e o sorrisão que exibia durante a execução de várias das outras rotinas de dança não enganava: este é um homem que nasceu para o palco, e que ama estar nele.

Enquanto isso, Jiwoo desfilou o seu timbre áspero, mas surpreendentemente elástico, por cima das canções do grupo, e brilhou solo em uma rendição surpresa de “My Medicine”, do The Pretty Reckless. Eventualmente se arriscando no rap, a integrante mostrou um charme mais descontraído do que a colega Somin, que faz mais o estilo “princesinha”, mas que impressionou igualmente com os vocais aveludados e com o estilo atencioso ao lidar com os fãs - especialmente na fase final do show, em que os integrantes abandonaram as coreografias ensaiadas em favor de fotos e brincadeiras com o público.

O quarto elemento do grupo é o líder e rapper J.Seph, acolhido de braços abertos de volta à formação após cumprir o seu serviço militar obrigatório durante a pandemia de covid-19. A ausência foi sentida, porque o público ia à loucura sempre que ele tomava à frente para soltar seus versos, vários deles em compasso impecável (ele é destaque em “Hola Hola”, canção do álbum de estreia do grupo). Acima de tudo, porém, o retorno de J.Seph evidenciou o seu papel como presença estabilizadora para o KARD.

Nos discursos perto do final do show, foi ele quem mencionou os anos difíceis da pandemia, e a necessidade de momentos de relaxamento e catarse diante de tanto estresse. É a habilidade de um líder de chegar no coração do porque o show do KARD, mesmo com seu ritmo atrapalhado pelas pausas constantes, ter conseguido conquistar os fãs por 2h30 no Carioca Club: as coreografias impecavelmente ensaiadas, os vocais se erguendo por cima das backing tracks, a sucessão dos hits, b-sides e baladas… tudo isso é esperado, é preciso, e é confortável. Em tempos como os nossos, não são coisas ruins para ser.

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