Elenco reunido na première de Cidade de Deus: A Luta Não Para, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Créditos da imagem: Elenco reunido na première de Cidade de Deus: A Luta Não Para, em São Paulo (Caio Coletti/Omelete)

Séries e TV

Entrevista

Cidade de Deus atualiza legado do filme olhando comunidade “de dentro pra fora”

Elenco falou ao Omelete sobre desafio de honrar e modernizar clássico do cinema

Omelete
3 min de leitura
30.08.2024, às 06H00.

Eu acho que tenho que responder, primeiro, como morador da Cidade de Deus, literalmente cria de lá”. O sentimento expressado por Victor Andrade, o Geninho de Cidade de Deus: A Luta Não Para, foi ecoado por vários de seus colegas de elenco durante entrevista ao Omelete na première da nova série, em São Paulo (SP) - a missão desse grupo de artistas parece ser honrar o legado de Cidade de Deus, clássico cinematográfico de Fernando Meirelles e Kátia Lund, mas também mostrar um caminho diferente para falar da favela.

Cara, eu cresci assistindo [o Cidade de Deus original]! Tenho 27 anos, a obra tem 22”, apontou Andrade. Seria o maior dos mentirosos se disse que imaginava que um dia estaria no elenco de uma continuação. A gente sempre quis ver mais daquele mundo, daqueles personagens, mas nunca teve nem especulação - como eu ia imaginar? [...] É muito legal fazer parte disso sendo alguém que é de lá, que vive essas realidades, que conhece essas histórias, que pode dizer que a gente faz arte, é artista, que tem muita coisa boa lá”.

Roberta Rodrigues, que retorna como Berenice (agora líder comunitária) em A Luta Não Para, apontou por que a espera de mais de duas décadas para retornar à Cidade de Deus pode ter sido uma bênção: “[A Berenice] sempre foi uma mulher empoderada, mas agora é 20 anos depois e a gente pode mostrar mais isso. Nesse tempo, eu tive muitas transformações, o nosso país teve muitas transformações, e poder mostrar a mutação desses personagens é lindo, porque agora é um olhar de dentro da comunidade”.

Quando o filme saiu, muita gente disse que nem sabia que aquela realidade [da favela] existia, mas hoje as pessoas não podem mais falar isso, todo mundo está bem informado”, continuou ela. “O que falta agora é saber através do olhar das pessoas da comunidade, humanizando, mostrando que tem afeto, luta, resistência, política. Nós vamos mostrar isso”.

Outro nome familiar do elenco, o protagonista Alexandre Rodrigues só topou retornar ao seu Buscapé quando entendeu este novo ângulo sobre a vida na comunidade: “O meu medo desapareceu a partir do momento que eu comecei a ler o roteiro, e entender a história que o Buscaspé  ia permear agora. Aí consegui falar: 'Caramba, agora sim!'. O ponto de vista é totalmente focado na potência da comunidade, das pessoas da comunidade - e esse foi o ponto de vista que também ficou faltando no filme original”.

Luellem de Castro, a Leka da série (filha de Buscapé, e cantora de funk popular na CDD), encapsulou esse sentimento se dizendo “feliz por fazer parte de Cidade de Deus no tempo de agora”. Agora podemos falar de outras coisas, mostrar para as pessoas que a violência existe, mas que existe muito mais na favela. Quando penso em favela, em filmes com pessoas pretas na favela, fico pensando que só mostramos o tiro, o sangue, mas não o sorriso”, disse a atriz. “A nossa série chega com muito sorriso, com muita coisa boa, para mostrar que a gente é tristeza, mas também é potência”.

O primeiro episódio de Cidade de Deus: A Luta Não Para já está disponível para streaming na Max. Os próximos capítulos vão ao ar semanalmente, sempre aos domingos às 21h, na HBO e na Max.

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