Há uma leva de filmes nacionais de terror, elogiados em festivais no exterior, previstos para estrear em circuito daqui até dezembro e coube a Motorrad - única produção a defender o Brasil na seleção oficial de Toronto (TIFF), em 2017 – puxar esse bonde macabro, sendo o primeiro a entrar em cartaz, nesta quinta (1º).
Elogiado por seu ritmo frenético em sua passagem no TIFF e laureado com o prêmio de melhor filme no Festival Rio Fantastik, o novo longa-metragem de Vicente Amorim (que dirigiu Viggo Mortensen em Um Homem Bom) é um jogo de gato e rato sob duas rodas. Feita com personagens delineados pelo quadrinista Danilo Beyruth, a trama, escrita por L.G. Bayão a partir de uma ideia do proditor L.G. Tubaldini Jr., acompanha o esforço de um grupo de jovens para escapar de uma horda de motoqueiros cujo rosto jamais é visto.
Carla Salle é a mulher misteriosa que vai atrair o jovem Hugo (Guilherme Prates) e seus amigos para uma trilha, num terreno pedregoso, onde o perigo vai do violento à alegria. Na entrevista a seguir, Amorim relata os desafios de se apostar numa narrativa de suspense no cinema brasileiro e relembra os percalços que foi filmar na Serra da Canastra, em MG.
Omelete: Por que é tão difícil fazer o dito "cinema de gênero" no Brasil e de que forma Motorrad desafiou essa dificuldade?
Vicente Amorim: O mainstream no Brasil sempre se dividiu entre filmes realistas e comédias populares. Os produtores e os agentes públicos olhavam com desconfiança para o cinema de gênero, que era encarado como uma curiosidade, na melhor das hipóteses, e não como algo viável, artística ou comercialmente. O outro lado da moeda era o cinema de autor, que, sem ambições comerciais, foi “a” aposta “segura” de duas gerações de cineastas. Para os produtores tradicionais, acostumados com quase um século dividido entre realismo e comédias populares ou o porto seguro do cinema de autor, cinema de gênero era doido, estranho e caro. Tentei durante vinte anos fazer um filme de gênero, sem que nenhum produtor topasse. Os produtores tradicionais não estavam totalmente errados: bom cinema de gênero precisa ser mesmo doido e estranho e os produtores brasileiros são caretas demais. Mas não precisa mais ser tão caro, como provamos com o Motorrad. Precisa, sim, de um bom conceito, talento, garra e entrega.
Qual foi o maior desafio técnico das filmagens?
Os desafios “naturais”: frio, calor, chuva, distância. Fazer ação nessas condições é muito difícil. Só a equipe mais bad-ass do cinema brasileiro consegue.
Qual foi a contribuição mais significativa do quadriniista Danilo Beyruth para a narrativa de Motorrad?
Além da criação dos personagens, ele ajudou na supervisão do tom geral do filme.
O que a experiência deste filme te ensinou sobre os dispositivos do medo, seja como terror ou como thriller psicológico?
Medo precisa ser estabelecido da forma mais bruta, logo de cara. Depois, é preciso trabalhar com a expectativa desse precedente, superando-o a cada novo momento do filme.
Como está seu atual projeto?
Este novo filme se chama A Divisão e fala sobre os policiais que combateram a onda de sequestros no Rio de Janeiro nos anos 1990. Foi todo rodado e já está em pós-produção. Será um thriller policial épico, violento e emocionante.