High Flying Bird

Créditos da imagem: Netflix/Divulgação

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Crítica

High Flying Bird

Filme sobre basquete ousa ao não tratar sobre o esporte e sim todas as questões sociais que estão envolvidas nos bastidores

08.02.2019, às 18H25.
Atualizada em 08.02.2019, ÀS 19H09

Cerca de dez anos atrás, o diretor Steven Soderbergh foi demitido dias antes das filmagens de Moneyball começarem. Segundo o estúdio responsável, o roteiro havia sido muito mexido. Acontece que o filme se tornou um clássico, recebeu seis indicações ao Oscar e, por consequência, acabou causando um hiato na carreira de Soderbergh, magoado e sem esperanças com o que Hollywood havia se tornado. Nunca será possível ver a versão dele, mas graças a Netflix podemos ver um filme com uma pretensão bastante parecida: mostrar os bastidores inescrupulosos de uma liga esportiva americana. Esse é High Flying Bird

Infelizmente, o pássaro que dá nome ao título do longa não conseguiu voar tão alto. Durante uma greve na NBA, Ray Burke (André Holland) é um agente tentando manter seu mais novo cliente satisfeito. Erick Scott (Melvin Gregg) foi a primeira escolha no draft e, logo após assinar com a liga, achou que se tornaria um all star, com contratos e patrocínios milionários. O filme se desenrola mostrando Ray e seus aliados tentando negociar com os donos dos times melhores condições de trabalho. 

Desde o retorno de sua “aposentadoria”, Soderbergh vem buscando ousar e experimentar. Assim como em seu último lançamento, Unsane, o diretor filmou tudo com um iPhone 7. Também arriscou ao fazer um filme sobre basquete em que não há basquete: as cenas do esporte em si devem somar menos de 5 minutos. Desafios desse tipo são aclamados e se tornam expoentes de uma vanguarda quando o produto final é brilhante, mas, quando se prova um tanto quanto frustrante, é necessário repensar: será que todas essas artimanhas valeram a pena? O longa demora muito a engatilhar e, quando o público finalmente começa a pegar gosto, acaba. Por muitas vezes é difícil acompanhar os personagens e suas relações, ao passo que todo mundo soa ser mais genial do que realmente está se mostrando. Se High Flying Bird fosse uma trilogia, esse certamente seria o segundo volume, no qual os personagens acabaram de superar um grande evento e estão se preparando para o próximo. O problema é que o grande evento não foi mostrado, e o próximo obstáculo a enfrentar também não será. 

Embora ande em um ritmo bastante enrolado, fica claro que o propósito principal do filme é a crítica ao sistema das ligas americanas. Nesse sentido, a produção é bastante afiada e não usa meias palavras. Os jogadores são tratados como peças descartáveis de um grande jogo de xadrez, orquestrado por homens brancos bilionários - em um esporte que cerca de 75% dos jogadores são negros. Um dos motivos do diretor ter sido demitido de Moneyball foi a tentativa dele de usar entrevistas de jogadores reais. O estúdio considerou que esse elemento fugia muito dos filmes ficcionais de esporte. Em High Flying Bird, essas entrevistas estão presentes e servem para endossar as críticas que o roteiro aponta, trazendo um toque documentarista. Nelas, vemos jovens jogadores de ponta da NBA, como Karl-Anthony Towns e Donovan Mitchell, falando sobre suas transações do esporte universitário para a liga profissional. 

Um aspecto que não é passível de críticas é o elenco. André Holland mais uma vez traz uma atuação sutil e acurada. O background de seu personagem, Ray Burke, poderia ter sido melhor desenvolvido, e não causa uma comoção tão grande só pelo enredo. Mesmo com o protagonista apenas dando lampejos de seu passado sofrido, graças ao ator, é possível se emocionar em uma cena ou outra. Embora as atuações dos coadjuvantes também sejam ótimas, é como se a maioria estivesse reprisando papéis anteriores, em diferentes graus, o que pode se tornar um tanto quanto decepcionante para o público que já assistiu as outras produções. 

Kyle MacLaclhan vive o dono de um dos times e é a personificação do antagonista. Sua caracterização lembra muito a do Agente Dale Cooper na 3ª temporada de Twin Peaks, enquanto está no “corpo” de Dougie Jones; já a sempre excelente Zazie Beetz, assistente de Ray Burke, nada mais é do que a personagem Van de Atlanta - ligeiramente mais sagaz; Caleb McLaughlin, basicamente, faz uma ponta como Lucas Sinclair, de Stranger Things; e, por último, o ator Melvin Gregg repete o papel de jogador de basquete com um incrível potencial vivido na 2ª temporada de American Vandal. Quando se olha o elenco do filme, é difícil não se empolgar com os primorosos nomes, mas não é por isso que o público que vê-los nos mesmos papéis. 

High Flying Bird não é tão inovador e arejado quando o diretor parece achar que é. Ainda assim, não é ruim. As críticas feitas às ligas são ácidas e trazem uma série de reflexões que não cabem em um só filme. Afinal, embora a janela para tais discussões seja a transição dos calouros para a liga profissional, nas entrelinhas podemos encontrar apontamentos sobre o racismo, homofobia e outros problemas sociais que permeiam nossa sociedade. E, só dessas discussões terem sido feitas de forma a atingir um grande público, o filme prontamente se justifica. 

Nota do Crítico
Bom
High Flying Bird
High Flying Bird
High Flying Bird
High Flying Bird

Ano: 2019

País: EUA

Duração: 1h30 min

Direção: Steven Soderbergh

Roteiro: Tarell Alvin McCraney

Elenco: Andre Holland, Zachary Quinto, Zazie Beetz, Bill Duke, Caleb McLaughlin

Onde assistir:
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