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Festival de Cannes | Capharnaüm, de Nadine Labaki, pode tirar o favoritismo de Spike Lee

Cineasta libanesa tem tudo para ser a segunda diretora a ganhar a Palma de Ouro em 71 anos do prêmio

17.05.2018, às 18H27.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Nenhuma das sessões promovidas pelo 71º Festival de Cannes desde sua abertura, no dia 8 de maio, terminou com uma choradeira em massa tão grande quanto a que se viu nos minutos finais de Capharnaüm, da libanesa Nadine Labaki. Não por acaso, o favoritismo em torno da Palma de Ouro de 2018, antes concentrado sobre Spike Lee por BlackKklansman, agora está dividido entre ele a diretora de 44 anos.

Antes conhecida por cults como Caramelo (2007) e E Agora, Onde Vamos? (2012), ela pode ser a segunda mulher cineasta a receber a Palma em 71 anos de evento: a única que ganhou essa honraria foi Jane Campion, da Nova Zelândia, em 1993, por O Piano.

Seria uma vitória mais do que simbólica num ano em que o festival debateu dia a dia os temas do #MeToo, do empoderamento feminino e da desigualdade de gêneros. Porém, a Palma para Labaki não seria apenas uma vitória por simbolismo, mas também por mérito: Capharnaüm é uma experiência narrativa perturbadora, indo da fofura à tragédia na cola de uma criança.

"Falta organização e continuidade à indústria do cinema do Líbano, mas nos sobra a certeza de que vivemos cercados de problemas, de feiúras sociais no trato com nosso povo", disse, quando passou pelo Brasil para lançar Rio, Eu Te Amo (2014), já na preparação de Caphanaüm.

Aplaudido de pé numa das sessões para a crítica, o filme é amparado numa montagem capaz de administrar traços sentimentais distintos em seus atos: começa como thriller de tribunal, vira folhetim, muda para a aventura, cai no trágico e dá uma guinada para uma reflexão social de tônus geololítico.

Na trama, um menino com 12 anos (ele não sabe), preso por esfaquear alguém (quem é? só saberemos lá pelo fim), leva seus pais (relapsos e violentos) à Justiça. O motivo: ele quer processo o casal por ter dado a vida a ele e não ter se esforçado em zelar por seu bem e amá-lo. O garoto, Zein, é vivido por uma força da natureza de cerca de 1 metro de altura chamado Zain Alrafeea. Abusado, corajoso, enraivecido, ele sai de casa, tenta a sorte em todas formas de trabalho e acaba tendo que cuidar de um bebê etíope. Juntos, eles arrancavam risos, suspiros e choro do público de Cannes. Em seu olhar para cortiços e conjuntos habitacionais, a fotografia, assinada por Christopher Aoun, evoca Cidade de Deus em uma lógica de favela movie.

Faltam três filmes da competição oficial, que serão exibidos nesta sexta-feira (18) em Cannes: Un Couteau Dans Le Coeur, de Yann Gonzalez (França); Ayka, de Sergey Dvortsevoy (Rússia); e Wild Pear Tree, de Nuri Bild Ceylan (Turquia). Nadine Labaki, Spike Lee, o italiano Matteo Garrone (com Dogman, exibido nesta quinta) e o russo Kirill Serebrennikov (do musical Leto) não saírão daqui sem prêmios.

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