"Ninguém nunca gravou três filmes gigantes em sequência. E a coisa mais interessante que eu descobri nos últimos 14 meses é exatamente o por quê". Tradicionalmente contido, o diretor neozelandês Peter Jackson mal conseguiu esconder o riso nos bastidores das gravações quando, com sutileza, colocou em palavras o nível da “furada” em que se meteu para levar aos cinemas a hoje celebrada trilogia de O Senhor dos Anéis. Somente para as filmagens ele dedicou 274 dias -- isso tudo coordenando uma equipe de mais de 2 mil pessoas e com 26 mil figurantes indo e vindo do set. A dimensão do projeto era sem precedentes, assim como a ideia de rodar todos os filmes de uma vez só.
Não bastassem os desafios de tocar uma aventura fantástica nessa escala, o cineasta tinha nas mãos a tarefa de adaptar livros adorados, mas que por muito tempo carregaram o estigma de serem “infilmáveis”. Desde a década de 1950, quando a saga criada por J. R. R. Tolkien virou objeto de interesse dos mais variados estúdios, era evidente que se tratava de uma trama longa demais para ser comprimida em um só filme. Entretanto, ninguém estava disposto a se comprometer com mais de um título sem uma garantia de sucesso: não apenas a fantasia não era um gênero tão popular, como os cenários grandiosos da Terra Média exigiam um orçamento robusto para serem recriados em tela.
Ainda assim, houve quem tenha tentado. Depois de Help! e Os Reis do Ié-Ié-Ié, os Beatles se propuseram a transformar os livros de Tolkien em filme. Paul McCartney e Ringo seriam os hobbits Frodo e Sam, respectivamente, enquanto John Lennon viveria Gollum e George Harrison, Gandalf -- escalação essa aprovada anos depois por Peter Jackson, diga-se de passagem. Eles tinham a ambição de ter Stanley Kubrick à frente do projeto que, obviamente, seria um musical. Apesar da hesitação do diretor de Lolita ter afetado as intenções da banda, foi o próprio Tolkien quem minou qualquer chance do longa sair do papel. “Ele não gostava da ideia de um grupo pop fazendo sua história”, Jackson contou à BBC sobre a história que ouviu do próprio McCartney.