Mas seja como for, mangá ou anime, dublado ou legendado, o que não falta em One Piece são fãs fieis. Alguns amam tanto a saga de Luffy que não conseguem guardar tanto sentimento para si e buscam meios de compartilhar a experiência. Foi o que aconteceu com Matheus Joy Boy (34), um dos principais criadores de conteúdo sobre One Piece, no Brasil. Falando sobre a obra desde 2012, Matheus sentiu uma urgência de falar sobre a trama que estava consumindo: “essa vontade me fez começar a criar vídeos em uma comunidade no Orkut, em 2012. Aí foram surgindo pessoas dizendo que gostavam, aí eu fui expandindo para outros mangás também, mas o foco até hoje é One Piece”.
Assim como Pah, Matheus começou a ler o mangá no início dos anos 2000. Ele conta que a história o ajudou a superar um momento difícil da vida que foi a perda do pai, em 2001. “Eu fiquei encantado com a obra”, conta ele, que conheceu a mulher com quem tem um filho através da paixão comum por One Piece. Mas diferentemente de Matheus e Pah, muitos fãs do anime tiveram contato com a obra quando “o bonde já havia partido” e pegaram um anime ou mangá com 500 semanas para colocar em dia. Isso, segundo Matheus, é refletido em seu público, que conta com outras pessoas adultas, mas também crianças. Para ele, esse choque geracional que One Piece proporciona é muito significativo, pois, permite um diálogo mais amplo e variado em torno da obra.
Durante seus mais de 20 anos acompanhando One Piece, poucas coisas incomodaram Matheus, pelo contrário. Ele diz que gosta até mesmo das sagas menos populares. “Tem muita gente que não curte o Arco de Skypie, e quando comecei a ler o semanal, estava em Water 7-Enies Lobby, que vem depois. E Skypie tem um desenvolvimento lento, quem acompanhou semanalmente achou um desenvolvimento lento. Tem um pé de feijão que nunca cai… você vai ficando impaciente com aquilo”, brinca Matheus. “Mas, no geral, não vejo tantos defeitos assim”, afirma.
Qual é o melhor ou pior arco de One Piece pouco importa. Afinal, se analisarmos a obra como um todo, vemos que a riqueza de detalhes e precisão de estendem por todos os capítulos. A discussão que vez ou outra volta para a mesa dos fãs da franquia é se a história é política ou não. Muitos dizem que sim, outros afirmam que não e alguns até acusam criadores de conteúdo de analisar a obra através de sua própria visão de mundo, sela ela qual for. Analisando tecnicamente, One Piece claramente traz política em todos os seus momentos. Veja bem: Luffy é um pirata e para ele praticar pirataria é necessário que alguém tenha definido o que é ou não considerado crime de pirataria, ou seja, criado leis. Consequentemente, temos um órgão que controla e pune quem não cumpre a lei — a marinha — e o Governo Mundial, que as definem e alteram ao seu bel-prazer. Para Matheus, a história tem muita política e pautas sociais. “Você vê gente desesperada passando fome em Wano. O Oda fala sobre consciência de classe, luta contra opressão. Já no começo, Luffy escolhe o símbolo dos piratas em vez da marinha. Se a gente parar para pensar, geralmente os protagonistas escolhem se juntar a um grupo militar ou paramilitar, mas em One Piece, Luffy escolhe a liberdade”, diz ele, antes de citar os Dragões Celestiais, nobres que governam o mundo e usam capacetes de vidro para não respirar o mesmo ar que a plebe.