"Matrix se tornou um daqueles clássicos de Hollywood que todo mundo já viu, mesmo que não tenha visto”, define a YouTuber Sarah Zedig. “Eu consigo imaginar alguém que nunca assistiu a Matrix olhando para o pôster do filme em um serviço de streaming e pensando: ‘Ah, eu basicamente já sei tudo sobre esse aqui’. Mas esse cara que eu acabei de imaginar está completamente errado”.
Lançado em março de 1999 nos EUA, e em maio por aqui, o primeiro Matrix conquistou o mundo pré-virada do século com a história de Neo (Keanu Reeves), um hacker que descobre que o seu mundo é na verdade uma simulação virtual e se junta a um grupo de rebeldes para lutar contra as máquinas que mantêm os humanos dopados e condicionados a esse programa de computador.
“Como O Poderoso Chefão ou Alien - O 8º Passageiro, cada elemento desse filme foi parodiado, pasteurizado, homenageado ou reinventado inúmeras vezes, em praticamente todos os tipos de mídia populares do século XXI”, admite Zedig, que faz ensaios sobre filmes, séries e outros artefatos de cultura pop em seu canal no YouTube, e em junho se juntou à amiga Sophie (codinome: Curio) para um vídeo épico de quase 2h sobre a trilogia Matrix.
Ela está certa, é claro. Matrix arrecadou US$ 466 milhões em bilheterias ao redor do mundo em 1999 - valor que, ajustado pela inflação, corresponde a impressionantes US$ 741 milhões hoje em dia. O impacto cultural do filme não pode ser mensurado só em números, no entanto, como fica claro quando percebemos o quanto todas as suas inovações técnicas, principalmente o famoso bullet time (em que efeitos especiais permitem ao espectador ver balas em câmera lenta atravessando o ar), se tornaram ubíquas em Hollywood.
Menos recorrente ou imitada do que esses aspectos técnicos, no entanto, é a densidade narrativa de Matrix, com seus elos profundos à filosofia de nomes como Jean Baudrillard (criador do termo “deserto do real”, famosamente usado por Morpheus em uma cena do longa) e subtextos que deram pano pra manga nos últimos 22 anos - ou 18, se você contar o tempo desde 2003, quando as sequências de Matrix foram lançadas (e nós vamos falar disso daqui a pouco).
Daí a certeza de Sarah quando diz que aquele espectador hipotético, que acha que sabe tudo sobre Matrix mesmo sem tê-lo assistido, está equivocado. As formas como a obra foi apropriada, pensada e digerida no ambiente cultural das últimas duas décadas são tão ou mais complexas do que o próprio texto do filme, o que levanta uma questão fundamental: com Matrix Resurrections marcado para estreia nos cinemas no próximo dia 22 de dezembro, o que a franquia significa hoje em dia?