É O ANO DELES

Dez anos após o fim da saga Crepúsculo, Kristen Stewart chega ao Oscar, e Robert Pattinson é o novo Batman dos cinemas. Contamos como eles chegaram até aqui

Mariana Canhisares | @maricanhisares Repórter

Robert Pattinson não mentiu quando disse que não é mais legal ser hater de Crepúsculo. Passados dez anos da conclusão da saga, os filmes voltaram a ser celebrados sem qualquer embaraço, como deve ser. E não é coincidência que este orgulho recuperado esteja tão visível em pleno 2022. Além de guilty pleasure soar como um conceito datado hoje em dia, tanto Pattinson, quanto Kristen Stewart ganharam novamente os holofotes com importantes marcos em suas carreiras: ela com sua primeira indicação ao Oscar por Spencer, e ele voltando aos blockbusters como o novo Batman.

É, Forks ficou pequena para esses dois, basta relar o olho nas suas filmografias para notar. Por isso, se você ainda os enxerga como a indiferente Bella Swan e o vampiro cintilante Edward Cullen, talvez seja a hora de revisitar o percurso, longo e proveitoso, que os levou daquela cidadezinha chuvosa dominada por vampiros e lobisomens para os climas ainda mais hostis de Gotham e da família real britânica:

DE SWAN A SPENCER

Kristen Stewart chega ao Oscar interpretando uma figura histórica, o que intuitivamente não deveria pegar ninguém de surpresa dado o histórico recente da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. No entanto, ela é uma atriz divisiva, e sua Lady Di não foi uma exceção: há quem ame, há quem odeie. Esse seu estilo particular — apático ou naturalista, dependendo do seu ponto de vista — talvez explique sua ausência no SAG, prêmio do Sindicato de Atores de Hollywood, e seu reconhecimento na premiação mais famosa do cinema norte-americano. Mas a verdade é que, embora exista uma empolgação com o ineditismo da coisa, Stewart se contenta com a satisfação de ter se conectado em alguma medida com os espectadores.

Isso diz muito também sobre suas escolhas na última década. Em entrevista à revista New Yorker, ela contou que por muito tempo foi “orgulhosamente imprudente” ao determinar seus próximos passos. “Se tivesse uma cena no roteiro que eu realmente queria fazer, e eu odiasse o resto, eu ainda o faria”. A ousadia é transparente na qualidade inconstante da sua obra, e ela reconhece: “provavelmente fiz cinco filmes realmente bons”. Mas, aliado a uma experiência de mais de duas décadas nas telonas, isso lhe rendeu também uma confiança para ser bastante honesta — o que talvez possa lhe custar até a estatueta, mas definitivamente não a carreira. Essa passa bem, obrigada.

DO VAMPIRO AO MORCEGO

Se Stewart passou boa parte da última década sendo “orgulhosamente imprudente”, Robert Pattinson escolheu o caminho oposto. Encerrado Crepúsculo, o ator britânico decidiu que trabalharia apenas com diretores singulares e em filmes menores — e tanto foi assim que ninguém esperava que ele um dia voltaria a estrelar um blockbuster. Nem Matt Reeves, que escreveu Batman com ele em mente, nem mesmo seus agentes. “Eles me disseram ‘interessante… achei que você quisesse só interpretar esquisitos completos’. E eu fiquei ‘mas ele é um esquisito!’”, contou Pattinson à Total Film.

De fato, os personagens que atraíram a atenção dele de 2012 em diante têm, no mínimo, um quê peculiar, e essa tende a ser a única semelhança entre eles. Essa postura, tão oposta à direção que a indústria tem seguido — isto é, apostando na reciclagem dos seus antigos sucessos como o modus operandi oficial —, envolve um risco considerável, e mesmo assim Pattinson diz que avalia cada decisão da sua vida minuciosamente. Na verdade, tão minuciosamente que às vezes age no impulso e diz coisas como "f*da-se! Vou interpretar um faroleiro que transa com uma sereia!".

“O fato de eu ainda conseguir trabalhos me surpreende todos os dias, não entendo. Acho que vendi minha alma por acidente”, disse à GQ. Se esse foi o caso, o negócio tem sido muito bem-sucedido até aqui.

Publicado 24 de Março de 2022
Repórter: Mariana Canhisares | @maricanhisares
Projeto gráfico: Kaique VIeira | @kaicovieira
Edição: Beatriz Amendola | @bia_amendola
Coordenação: Jorge Corrêa | @jorgecorrea_