Nos dias de hoje, Avatar é um filme que é encarado com descrença por uma parcela do público. Não à toa, um ponto de discussão recorrente sobre o filme ao longo dos anos, em especial nas redes sociais, é a questão do impacto cultural do filme. De tempos em tempos, defensores e detratores brigam de novo sobre o que a produção teria deixado de marca na cultura pop, além das grandes revoluções e a conquista do posto de maior bilheteria de todos os tempos.
Enquanto se debate os méritos no pop, Ivana Bentes acredita que o filme deixou um legado pungente tanto pelo lado lúdico, do desejo de estar em Pandora, quanto pelas questões reais em relação ao meio-ambiente: “O filme traz uma visão distópica e realista do que pode se tornar o planeta se nada for feito”, reflete a acadêmica, que ainda cita essa conexão humana com a terra através da tecnologia como uma forma de apontar a necessidade de impor limites à exploração do capitalismo contemporâneo.”
Embora a internet sempre se restrinja às comparações mais superficiais e falhe em admitir as mudanças do cenário na última década, as conversas sobre o filme trazem uma questão que acompanha o longa desde sua gênese enquanto projeto. Além das duras negociações com a Fox - em entrevista recente à GQ, Cameron lembrou de uma reunião em que ouviu Peter Chernin, então CEO da Fox, perguntar se não seria possível “se livrar da besteira hippie” - a produção ainda lidou com a descrença do próprio público durante a divulgação.
Na época do primeiro trailer, por exemplo, a revista The Hollywood Reporter chegou a noticiar que o material foi recebido na internet de uma forma que “não era tão diferente assim” da expectativa para Titanic, nos anos 90. “Foi aquela coisa de ‘por que tanto barulho? Parece os Smurfs ou os Thundercats’.”, recorda Cameron. “Logo surgiram críticas pesadas na internet, havia 7.500 comentários descendo a lenha no filme, dizendo que seria um fracasso.”
Mas o marketing de Avatar não se rendeu à inocência de achar que o material seria suficiente para engajar o público. Depois de exibir cenas do filme pela primeira vez em uma convenção de exibidores em Amsterdã, Jon Landau conta que se percebeu ali que o filme precisava de estratégias de divulgação nem tão tradicionais para impactar os espectadores.
Veio aí a ideia do Avatar Day: em 21 de outubro, um dia depois do lançamento do trailer, foram promovidas exibições gratuitas de 15 minutos do filme e em cinemas ao redor do mundo. As reações foram muito melhores que a do evento, segundo o produtor, e a partir daí pavimentou-se o caminho para o sucesso estrondoso do longa.
O resultado é conhecido: lançado em 18 de dezembro de 2009, o filme demorou pouco mais de um mês para se tornar a maior bilheteria da história, terminando sua passagem inicial pelos cinemas com US$ 2,7 bilhões acumulados - o primeiro filme a cruzar a barreira dos US$ 2 bilhões, ainda. Os relançamentos da produção, feitas para incluir cenas antes deletadas e até a versão remasterizada em 4K, impulsionaram o número para um valor próximo dos US$ 3 bilhões.
Ainda que os números de arrecadação sejam vistos por parte do público como algo a ser desconsiderado quando se tratando do tema de Avatar ser ou não lembrado nos dias de hoje, as reexibições mais recentes mostram que o interesse pelo filme continua vivo. Na última passagem pelos cinemas, ocorrida em 22 de setembro e como parte da promoção da continuação, a produção alcançou a sétima posição da bilheteria norte-americana, com novos US$ 10 milhões - no Brasil, ele conseguiu ficar na terceira colocação do fim de semana, com R$ 3,3 milhões arrecadados.
Que esses números tenham sido alcançados com um filme que na última década não gerou derivados e permaneceu inativo no licenciamento, focado no desenvolvimento de uma sequência que chega agora aos cinemas, só denota a força silenciosa de Pandora no imaginário pop.