Para Lázaro, o Brasil tem muita dificuldade na hora de discutir suas chagas e as sequelas da escravidão no país. Com o filme, ele tanta trazer uma discussão sobre racismo institucional e espera encontrar debate no público. “Não sei qual será o nível de qualidade do debate, porque o filme mexe com alguns incômodos da sociedade, mas ele foi feito justamente para isso”, diz. Para além da conscientização, o filme busca sensibilizar o espectador, o que, segundo ele, deu certo com o público norte-americano -- Medida Provisória foi bem recebido em festivais nos Estados Unidos, como o badalado SXSW, no Texas. Parte desse resultado vem desde a base do filme, quando houve uma preocupação em colocar a visão de profissionais pretos em todas as equipes do filme.
Com uma equipe predominantemente negra na frente e atrás das telas, Lázaro criou um longa que se preocupou em representar a cultura negra em cada detalhe. Roupas, cabelo, fotografia… tudo perfeitamente harmonizado com a trilha sonora criada por Rincon Sapiência. A união de tantos fatores junto da expectativa de saber a reação do público brasileiro levou a pressão do diretor às alturas antes da primeira exibição de Medida Provisória por aqui, durante o Festival do Rio. “Foi muito esquisito [o primeiro contato com o público]. Eu tenho pressão alta, minha pressão disparou uma semana antes da pré-estreia, começou a subir e descer, eu estava tenso. A sessão foi tensa para mim porque mesmo o filme tendo sido exibido em vários festivais,eu tinha muita expectativa de ver o público brasileiro”, conta o diretor, que celebra a resposta que recebeu da plateia: “Foi um alívio porque eu percebi que as intenções do filme funcionaram, as intenções de narrativa. Os momentos de comédia e drama funcionaram muito. A pressão agora abaixou”.
Rincon não foi o único rapper brasileiro a participar de Medida Provisória. A convite de Lázaro, Emicida fez sua estreia na atuação. “É um cara que eu admiro muito. A voz dele é uma voz muito importante e eu queria que esse filme tivesse vozes assim”, explica. Se você for pensar, quando começa o filme, a primeira imagem que aparece é da dona Diva Guimarães, que emocionou o Brasil todo num momento inesperado na Flip de 2017 ao falar sobre a vida dela. O filme é isso, é um filme de muitas vozes. Tanto que Medida Provisória não é assinado como um filme em que eu sou diretor e roteirista, ele é dessas vozes todas que trazem o debate racial nas suas vidas, e o Emicida não pode faltar”, define Lázaro, comemorando a resposta positiva do cantor, que filmou em tempo recorde. “Eu fiquei feliz que ele aceitou, quase que ele não pode fazer. Ele filmou em tempo recorde. Tinha dez diárias, mas ele acabou filmando tudo em dois dias e nem se percebe. Valeu muito a pena todo o esforço, porque é uma presença, uma demarcação de território”.
Durante uma gravação do programa Altas Horas, da TV Globo, que teve Lázaro e Emicida presentes, o rapper aproveitou para agradecer pelo convite e o trabalho do diretor. “O que você está fazendo com Medida Provisória, você faz questão de colocar os olhos do mundo onde eles precisam estar. É uma honra estar nesse projeto com você, minha alegria não cabe no peito. Quero que todas as pessoas assistam ao filme e se inspirem no que você é, porque você é foda!”, disse Emicida, antes de levar Lázaro às lágrimas.