Montagem da coluna de Marcelo Hessel

Créditos da imagem: Omelete/Divulgação

Filmes

Lista

Dicas do Hessel #019 | Triste, louca ou má

Confira sete recomendações de filmes com protagonistas femininas

07.08.2020, às 14H46.
Atualizada em 07.08.2020, ÀS 15H07

Durante a celebração da sua carreira de estrela de ação, na Comic-Con, a atriz Charlize Theron comentou que não se interessa tanto pelos papéis de mulheres "fortes e corajosas". Para ela, o ideal seria que mulheres na tela fossem tratadas em todas as suas complexidades, seus medos e suas eventuais fraquezas de caráter, e não só "como a ótima mãe ou como a ótima amante", ou reduzidas às lutas que travam por igualdade.

Vencer os estigmas é uma batalha de todos os dias, e por vezes os filmes conseguem iluminar essas complexidades e se aproximar um pouco mais do que entendemos ser autêntico, real. As Dicas do Hessel desta semana separam sete recomendações com protagonistas femininas que oferecem olhares múltiplos sobre desafios - os excepcionais e os rotineiros - que tornam mulheres nas telas imensamente humanas.

Boas sessões e não deixe de assinar nossa newsletter para receber as dicas antes de todo mundo. E acesse este link para conferir as edições anteriores da coluna.

Certas Mulheres

Foto de Certas Mulheres
Divulgação

O lançamento neste ano de First Cow, o novo faroeste feminista de Kelly Reichardt, reacendeu a discussão sobre a voz ativa da cineasta nos gêneros e cenários masculinizados que ela visita em seus filmes. Certas Mulheres é uma ótima oportunidade para entender como ela articula um discurso feminino sem ceder a facilidades do panfletarismo.

São três histórias que se conectam, estreladas por Laura Dern, Michelle Williams e Kristen Stewart, nos horizontes amplos do Meio-Oeste americano, masculino por si só. A paisagem sem fim amplia ainda mais as distâncias que colocamos entre nós, e Certas Mulheres é um filme muito direto e simples sobre como as pessoas terminam invisibilizadas nesse processo, mesmo entre mulheres muito próximas.

Disponível no Globoplay.

 

I May Destroy You

Foto de I May Destroy You
Divulgação

A série britânica do momento tem uma dosagem cômica e dramática que pode até lembrar Fleabag, particularmente na acidez da crônica sobre relações afetivas, familiares e profissionais das jovens mulheres solteiras de Londres hoje em dia. Essa nova produção da BBC, porém, criação da atriz, roteirista, produtora e diretora Michaela Coel, marca profundamente no chão seu caminho próprio, quando situações cômicas (uma noite de bebedeira, um encontro mal sucedido) revelam lados trágicos. Quando Coel olha muda em close-up para o nada, perplexa por duvidar de si mesma, de sua memória, de sua história - essa é sem dúvida uma das imagens fortes que vão ficar registradas de 2020, seja no cinema ou na televisão.

Disponível no HBO GO.

Rainha do Mundo

Foto de Rainha do Mundo
Divulgação

Ego e misantropia são dois ingredientes dramáticos que, bem dosados, resultam em histórias poderosas de relacionamentos, e o roteirista e diretor Alex Ross Perry costuma usar ambos nos seus filmes. A trama - sobre duas amigas que se isolam numa casa de campo para curar feridas afetivas - poderia falar de redenção no luto, se a introspecção do isolamento, ao invés de curar, não abrisse ainda mais essas feridas. Elisabeth Moss se dispõe muito francamente a ser um fio desencapado para essas pulsões em Rainha do Mundo, e o filme lançado em 2015 é um dos primeiros a colocar o talento da atriz de Mad Men e Handmaid's Tale em primeiríssimo plano.

Disponível no Telecine.

Projeto Flórida

Fofo de Projeto Flórida
Divulgação

Outro diretor que tem um olhar sensível para questões femininas ligadas no 220V, Sean Baker faz em Starlet, Tangerine e neste Projeto Flórida pequenos elogios desglamourizados da vida de percalços nas margens dos grandes centros urbanos. As grandes bandeiras do feminismo não poderiam estar mais longe de personagens que resolvem um dia depois do outro, e ao mesmo tempo, nos filmes de Baker, sobreviver aos desafios sociais e econômicos não deixa de ser uma vitória de suas heroínas. Como se passa nos conjuntos habitacionais de Kissimmee, próximos do parque da Disney de Orlando, Projeto Flórida ganha as cores de um conto de fadas infantojuvenil, o que torna suas reviravoltas e suas pequenas conquistas ainda mais ressonantes.

Disponível no Amazon Prime Video.

Coração e Alma

Foto de Coração e Alma
Divulgação

Falando em situações do dia a dia e em situações excepcionais, o filme mais recente da roteirista e diretora Katell Quillévéré, baseado no romance de Maylis de Kerangal, encadeia tramas cruzadas de forma muito segura para nublar o limite entre o que é trivial e o que é excepcional. A brevidade da vida é o grande tema deste filme francês, e sob essa perspectiva todo momento, por mais banal, ganha significados especiais. A trilha de Alexandre Desplat ajuda a dar o caráter mágico a esses momentos, numa trama de melodrama que fica mais forte quando destaca o olhar materno: como sublinhar a excepcionalidade do dia a dia quando os dramas existenciais femininos são normalmente invizibilizados?

Disponível no Amazon Prime Video.

Jovem & Bela

Foto de Jovem & Bela
Divulgação

O diretor François Ozon filtra o lema "meu corpo, minhas regras" através da tradição francesa de filmar sem pudores o feminino, a juventude e o sexo. Na trama, uma garota de 17 anos resolve se prostituir escondido dos pais e dos amigos - não por necessidade financeira mas talvez por fantasia, carência ou mesmo tédio. Ozon articula que é a partir da descoberta do desejo que se organizam afetos, interesses e relações pessoais, portanto moralizar o sexo seria o mesmo que interditar a vida em sociedade. Que essas e outras dinâmicas sejam mediadas pelo dinheiro no filme talvez diga menos sobre a prostituição em si do que sobre as nossas trocas no mundo de hoje em geral.

Disponível na Netflix.

Elle

Foto de Elle
Divulgação

Um grande filme de emancipação feminina pela força. Ao longo dos anos Isabelle Huppert se especializou naquilo que Charlize Theron chama de "personagens ferradas", para se referir às complexidades que espera de seus papéis, e é nesse tipo desconfortável de lugar - exposta fisicamente, nos extremos emocionais - que a atriz francesa de Professora de Piano se sente mais à vontade. Em Elle, Huppert vive uma empresária do ramo de games que é estuprada em casa, e decide não prestar queixa à polícia. Sempre polemista, o diretor Paul Verhoeven inverte o que esperamos do suspense doméstico e ao subverter as regras desse subgênero coloca o feminismo em pauta. Que grande sessão dupla Elle deve fazer com o Instinto Selvagem de Verhoeven (que está entrando agora no catálogo da Netflix)!

Disponível no Globoplay.

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.