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Korea
Artigo

Soltinha, Gênio dos Desejos passeia por tons sem perder o ritmo

Roteirista Kim Eun-seok mostra mais uma vez sua eloquência com a fantasia

3 min de leitura
03.10.2025, às 12H55.

Créditos da imagem: Suzy em cena de Gênio dos Desejos (Reprodução)

Mesmo com a promoção intensa que a Netflix fez para o seu novo k-drama, Gênio dos Desejos, um aspecto crucial da construção da protagonista Ka-young (Suzy) foi quase inteiramente deixado de lado em trailers, sinopses e outros materiais: ela é uma psicopata. De fato, Gênio dos Desejos passa boa parte do seu primeiro episódio lidando com este “elefante na sala”, balizando as expectativas entre o termo e a realidade de Ka-young.

O roteiro de Kim Eun-seok, veja bem, postula que nem todo psicopata precisa ser uma ameaça à sociedade. Ka-young pode até não sentir emoções como todos nós, e pode até ter um impulso violento ou outro escondido por baixo do verniz de normalidade - mas, graças principalmente às regras estritas impostas por sua avó, que a criou após o abandono do restante da família, nossa protagonista se mostra surpreendentemente bem ajustada.

O discurso é duvidoso, é claro, mas Gênio dos Desejos se safa com ele principalmente por apostar na comédia. A frieza de Ka-young vira piada textual, seja pelo esforço pouco frutífero em simular comportamentos humanos “comuns” ou pelo confronto com o Iblis (Kim Woo-bin), o tal gênio do título, que se vê encarregado da missão impossível de realizar os desejos de uma mulher que se ensinou a não os ter - pelo bem de todos a sua volta.

O que poderia ser mais uma história previsível sobre uma personagem feminina aprendendo a abandonar a autonegação, portanto, vira luta justa contra a natureza humana. E a briga é boa, porque Gênio dos Desejos ainda revela uma backstory para o seu Iblis que posiciona a sua motivação contra a de Ka-young: revoltado por Deus preferir humanos aos Gênios, ele jura corromper todos seus mestres, para provar ao Todo-Poderoso que sua criação preferida é fundamentalmente falha.

A grande qualidade do k-drama neste início é mesmo o despojamento do roteiro, que passeia entre gêneros e tons sem muita cerimônia, e vai introduzindo seus conceitos de fantasia sem sentir a necessidade de segurar na mão do espectador. Vale lembrar, afinal, que a roteirista Kim fez seu nome com Goblin: O Solitário e Grande Deus (2016-2017), megahit sobre o romance entre um ser imortal e a reencarnação de sua predestinada. A mão segura que ela demonstra para o gênero, portanto, não surpreende.

De algumas formas, inclusive, Gênio dos Desejos reedita a premissa de Goblin na ligação que tenta desenhar entre Iblis e Ka-young. Não à toa, é o aspecto que menos funciona na série, e ela sabe muito bem disso – apesar dos protagonistas Kim e Suzy já terem interpretado um casal antes (no sucesso Paixão Incontrolável, de 2016), Gênio pega leve nas implicações românticas entre os personagens, preferindo explorar outras relações para nos introduzir à vida interior das suas figuras centrais.

Aí também se deposita muita confiança nos ombros dos atores, é claro, e por sorte ambos demonstram certa medida de carisma durante os primeiros capítulos. Suzy, especialmente (e este crítico que vos fala já tinha se impressionado com ela no k-drama Doona!), encara com a dose certa de humor uma personagem que poderia facilmente alienar o espectador, entendendo onde a sua aura de superestrela pode ser utilizada para reverter o dilema de uma protagonista sem emoções convencionais.

De partida, enfim, Gênio dos Desejos é uma proposta dramática que funciona sem muitos sustos. Se é um grande k-drama ou apenas uma boa distração, só mais tempo de tela dirá.