|
||||
A Fox Film realizou recentemente uma coletiva de imprensa para Lisbela e o Prisioneiro, primeiro trabalho exclusivo no cinema de Guel Arraes, diretor consagrado por minisséries e produções para a televisão como O auto da compadecida (1999) e A invenção do Brasil (2000).
Além do diretor, estiveram presentes no evento a produtora Paula Lavigne, o compositor José Falcão, Carlos Eduardo Rodrigues (Globo Filmes) e o representante da Fox Marcos Oliveira, que declarou que a distribuidora está extremamente orgulhosa da produção e espera participar cada vez mais do cinema nacional. Dentre os astros do filme, compareceram Selton Mello, Débora Falabella, Virginia Cavendish, Bruno Garcia, Lívia Falcão e Tadeu Mello.
Segundo a produtora, a intenção de Arraes com o filme - produção que custou 4 milhões e meio de reais - foi desenvolver um projeto dentro do que ele gosta de chamar de Cinema Popular Brasileiro. A denominação engloba projetos que tenham apelo a diversas camadas sociais do Brasil, país que tem verdadeira paixão pela televisão e pelas novelas. Contudo, o diretor não acredita que o CPB deva seguir fórmulas de sucesso - algo comumente empregado em produções de Hollywood -, mas sim, apresentar um produto final popular, que deve instigar o público e ser cultural. Divertir não significa adormecer, comentou Arraes, que também acredita que o CPB é necessário para que possam surgir projetos mais criativos e autorais.
Ele comentou também que a adaptação do romance de Osman Lins para o cinema teve cerca de 30% do livro mantido no filme. O restante, são idéias novas ou situações testadas na peça de teatro Lisbela e o prisioneiro, enorme sucesso nos palcos e verdadeira paixão em Pernambuco, ou no especial de televisão produzido em 1993 para a TV Globo. Ao adaptar, você acaba escolhendo aquilo que se adequa melhor ao seu universo, disse.
Bastante atenção também foi dada a um teste de audiência, a primeira pesquisa de público realizada para um filme no Brasil. A prática é utilizada pelos grandes mercados cinematográficos para verificar a aceitação do produto em diversas classes. Entretanto, lá fora, tais pesquisas freqüentemente prejudicam as produções, massificando-as. No entanto, Guel Arraes deixou claro que no caso de Lisbela e o prisioneiro, os testes serviram apenas para tirar dúvidas de determinadas cenas - incluindo a inicial, espécie de editorial do filme - e que a edição da fita não foi determinada pelo resultado da pesquisa. Mesmo assim, o teste orientou a campanha e os trailers e foi uma experiência bacana para o cinema nacional, comentou a produtora Paula Lavigne. A aceitação do filme pelos espectadores foi de 80%.
Completam os depoimentos da equipe de produção as observações de João Falcão, responsável pela excente trilha sonora. Segundo ele, a idéia era fugir das sonoridades convencionais ou dos regionalismos. Para tanto, buscaram músicas com a cara de cada uma das personagens. O inusitado - e perfeito - resultado trabalha forrós como se fossem flamencos na voz de Elza Soares ou coloca lado a lado o som pesado do Sepultura na poética voz de Zé Ramalho, pra citar apenas dois exemplos. Música criada a pinceladas, segundo Guel Arraes.
Elenco
O clima entre os atores e equipe era de enorme descontração, fruto de um trabalho em conjunto há vários anos na peça de teatro. Artistas como Bruno Vargas, Virginia Cavendish e Lívia Falcão interpretavam papéis na peça e ganharam personagens diferentes no filme, enquanto Débora Falabella entrou em contato com o material por causa do filme. Já Selton Mello, que substituiu Bruno Vargas no papel de Leléu, também participou da montagem teatral e revelou que teve vantagens de se aventurar em outros meios com a mesma obra: na peça, fiz a mesma piada muitas vezes e de maneiras diferentes. Durante as filmagens, eu já sabia qual era a ideal para usar.
Para construir seu personagem, um vendedor ambulante malandro e sedutor, Mello fez andanças pelas feiras populares. O ator acredita que Leléu é um super-herói brasileiro, num mundo em que estamos saturados de Bruce Willis, Panteras, etc.
Já Débora Falabella, que interpreta Lisbela em substituição a Virginia Cavendish (que ganhou o papel da fogosa Inaura) disse que sua maior dificuldade foi com o sotaque. Eu era a mais deslocada do grupo e tive dificultades pra me adaptar. Mas corri atrás, assisti à peça, ao filme [para a TV] e até que foi fácil. Todos os atores me apoiaram bastante e me mudar pra lá [Pernambuco] ajudou muito. A atriz revelou também que é muito mais parecida com a doce Lisbela do que com a Mel da novela O clone, personagem que a tornou nacionalmente conhecida, ou como a Paco de Dois perdidos numa noite suja.
Estética
O pernambucano Bruno Vargas, que interpretava Leléu na peça e no filme vive o divertidíssimo Douglas, disse ter ficado bastante contente com a escolha do ambiente. O filme retrata a Zona da Mata e não o sertão sofrido da seca como todo mundo está acostumado. A opção valorizou a estética da produção, caracterizada como um nordeste pop, no qual foram explorados os camelôs, as frases de caminhão, os parques de diversão e os botecos, entre outros ambientes característicos.
O resultado, segundo o diretor, é uma vulgaridade bacana, que não tem a intenção de denegrir estilos, mas sim quebrar preconceitos existentes sobre o brega e o kitsh.
Lisbela e o prisioneiro tem estréia nacional em 22 de agosto.