Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Filmes
Crítica

A Própria Carne | Terror do Jovem Nerd se encanta por vilão de Luiz Carlos Persy

Produção apresenta horror de cabana na Guerra do Paraguai

3 min de leitura
31.10.2025, às 06H00.

A Guerra do Paraguai é um dos capítulos mais nefastos do Brasil e da América do Sul. Ainda durante o período imperial, o país se juntou ao Uruguai e à Argentina e, em pouco menos de seis anos, a Tríplice Aliança dizimou mais da metade da população paraguaia e mudou de vez a história do país. Há pouquíssimos filmes sobre essa história, e um dos mais fáceis de lembrarmos é o épico gaúcho Netto Perde Sua Alma, de 2001, estrelado por Werner Schünemann. É nesse contexto que A Própria Carne, filme que tem produção e roteiro assinados por Alexandre Ottoni, Deive Pazos, do Jovem Nerd, e Ian SBF (que também dirige), decide contar sua história. E nada mais correto para o período do que a trama se inserir no gênero do terror.

Em meio à guerra, três soldados desertores (Jorge Guerreiro, Pierre Baitelli e George Sauma) encontram refúgio em uma casa isolada na fronteira. Lá vivem sozinhos um fazendeiro (Luiz Carlos Persy) e uma jovem mulher (Jade Mascarenhas), que decidem deixar que eles passem a noite. Mas o que parece ser salvação para o grupo e uma fuga do conflito logo se revela algo tão terrível quanto a própria guerra.

É fácil perceber que A Própria Carne busca referências no terror moderno da era A24, especialmente em obras como A Bruxa, de Robert Eggers. Entretanto, ao contrário do que poderia acontecer com nomes da produção tão ligados à cultura pop, a história nunca deixa de olhar para o Brasil. Mesmo que a guerra em si acabe virando apenas um detalhe em determinados momentos da trama — quando deveria ter mais impacto —, o filme ainda volta seus olhos para a herança escravocrata e discursos que não soam importados de Hollywood.

Os diálogos, inclusive, se mostram um grande atrativo da história, com a boa dinâmica e entrega do trio principal, mas também um dispositivo ultraexplicativo, quando as imagens já carregam a mensagem principal. E aí, é impossível não pensar em dois fatores que levam diretamente a isso.

O primeiro deles é o passado dos roteiristas: acostumados com podcasts e audiosséries, os três fogem do básico “fale menos e mostre mais”, tornando situações redundantes. O uso de planos-detalhe e closes nos olhos reforça ainda mais a sensação de que a história pode ser menos visual e muito mais falada — como se pudéssemos fechar os olhos e entender tudo o que está acontecendo sem precisar ver o que se passa na tela. O mesmo vale para a geografia da casa e dos ambientes onde os personagens dormem, comem e passam pelas situações de terror. Quarto, sala e porão, são mostrados como cômodos isolados que funcionam exatamente para contar aquele segmento, mas que não parecem parte de um todo nessa cabana sombria.

O segundo é o encanto que o filme tem com a ótima atuação de Luiz Carlos Persy. Clássica voz das dublagens brasileiras, o ator domina o filme a partir do momento em que o fazendeiro entra em cena. Como um grande contador da própria história que estamos assistindo, o personagem de Persy não dá tempo ao silêncio: contesta e explica tudo o que acontece, seja com o grupo de soldados, seja com o segredo que aquela casa esconde. É difícil não se deixar levar pelo deboche do personagem e pela entrega do ator na parte física. Entretanto, momentos como aquele em que ele explica a origem do clorofórmio, por exemplo, parecem desconexos do resto da trama e uma adição, por vezes, desnecessária.

Visualmente caprichado, A Própria Carne foge da estética escura que domina o cinema recente e entrega um suspense sólido, com gore pontual e bem dosado no terço final. Apesar dos tropeços narrativos, o longa se firma como um experimento ousado do terror nacional, com identidade própria e assinatura clara de seus criadores. No fim, fica a sensação de curiosidade sobre aquele mundo e o que mais poderia ser contado a partir dele, um indício de que o terror histórico brasileiro ainda tem muito a oferecer, assim como a parceria de seus realizadores.

Nota do Crítico

A Própria Carne

A Própria Carne

2025
90 min
País: Brasil
Classificação: 18 anos
Direção: Ian Sbf
Roteiro: Alexandre Ottoni, Deive Pazos, Ian Sbf
Elenco: George Sauma, Pierre Baitelli, Jorge Guerreiro, Luiz Carlos Persy