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Entrevista

Festival de Cannes | "As democracias são muito jovens na América Latina", diz Ricardo Darín

Entrevistamos o ator que está no evento com La Cordillera, filme sobre a corrupção no continente

25.05.2017, às 10H06.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Muso dos argentinos e de todo cinema hispânico desde o sucesso mundial de O Filho da Noiva (2001), Ricardo Darín atraiu olhares de toda a Europa pra si e suas reflexões sociais ao passar pelo 70º Festival de Cannes com o thriller político La Cordillera. Aplaudido com fervor, o longa de Santiago Mitre fala de um conclave de líderes latinos e, a partir das negociatas deles, expõe a corrupção que rege todo o continente, com destaque para a exploração de petróleo do Brasil.

"Eu torço muito para que vocês saiam logo desse furacão politico em que estão. Adoro o povo brasileiro, sou muito grato pelo que vocês fizeram por filmes meus como Truman, que foi um sucesso aí. E sei que qualquer tremor político entre vocês abala a vida na Argentina", disse Darín ao Omelete.
 
Em nenhum momento dos 114 febris minutos de La Cordillera se fala o nome da Petrobrás, mas é o petróleo brasileiro que serve de combustível às tramoias narradas por Mitre, com um olho em nossa realidade. 
 
Incluído numa mostra paralela à briga pela Palma de Ouro, a seção competitiva Un Certain Regard, a produção põe Darín na pele de Hernán Blanco, o presidente argentino. Na trama, o Brasil - representado na figura do presidente Oliveira Prete, vivivo com ironia pelo ator Leonardo Franco, da série Preamar - é o alvo e o inimigo de todos. 
 
"Nossas democracias ainda são muito jovens na América Latina, o que deixa muitas feridas abertas. O nome desse nosso filme, La Cordillera, já é uma metáfora do acidente geográfico que serve de metáfora à nossa separação como continente. Busca-se a fraternidade entre os povos como se ela fosse nossa única esperança. De fato, a união entre nós é fundamental, mas a força de nossos ideais democráticos é que é a saída para cada um de nós. E esses ideais não podem estar encarnados na figura de um só homem, de um só presidente, como Blanco", disse o astro. 
 
Em Cannes, ele veio ainda fecha sua participação no novo filme, ainda sem título, do oscarizado diretor iraniano Ashgar Farhadi (de O Apartamento). No projeto, que começa a ser filmado em agosto em Madri, o argentino será o marido de Penélope Cruz. Javier Bardem também estará no elenco da produção, que lida com temas mais existenciais. Mas nada tira o foco político de Darín.
"Um amigo meu um dia me disse uma boa tirada: 'No momento em que ser político virou profissão, a preocupação de nossos governantes com o bem-estar do povo ficou para segundo plano", ironiza Darín. "Mas não podemos pôr toda a culpa sobre os políticos, porque nós os elegemos. Eles são um reflexo de nossa escolha".