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As Aventuras do Super-Homem: O seriado clássico de 1950

As Aventuras do Super-Homem: O seriado clássico de 1950

03.07.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H20
As Aventuras do Super-Homem

Warner Home Video

Quando fez sua estréia, na primeira edição da revista Action Comics, em 1938, o Super-Homem entrou para a história da cultura estadunidense e da mitologia universal. O personagem não só iniciou a indústria das revistas em quadrinhos de super-heróis, como também definiu as bases de todo o gênero, que continuam seguidas exaustivamente até os dias atuais. De forma semelhante, na década de 1950, o Homem de Aço começou uma profícua carreira numa mídia ainda incipiente: a TV.

Naquela época, ainda em preto e branco, a televisão era vista como uma novidade e havia poucos canais e séries de destaque. As Aventuras do Super-Homem, estrelada por George Reeves, explorou o potencial do meio e repercute até hoje como uma das melhores produções televisivas de todos os tempos.

No início da década de 1950, a DC Comics decidiu ampliar a participação do Super-Homem na mídia. Tendo já aparecido em seriados para cinema e rádio, a televisão era o próximo passo a ser dado pelo herói. A editora contatou então o produtor de rádio Robert Maxwell para uma primeira temporada de 26 episódios. Para promover a série, foi produzido o longa-metragem Superman and The Mole Men, que em 1951 foi exibido com sucesso nos cinemas. George Reeves, um ator de talento e porte apropriado, já havia atuava em filmes mais sérios, como E o vento levou (1939) e foi o escolhido para o papel principal. Seu Super-Homem era bastante heróico, uma força imbatível, bastante fiel à versão original dos quadrinhos. Já como Clark Kent, Reeves buscou um diferencial, interpretando um jornalista determinado e confiante, evitando os apelos cômicos que caracterizavam o personagem. Para o papel de Lois Lane, foi escalada Phillis Coates, que atuava em filmes B. Destemida e independente, caracterizou uma das heroínas mais fortes da televisão no período. O longa-metragem apresentou uma trama de ficção científica sobre os homens-toupeira, um povo que vivia no centro da Terra e passou a ser perseguido pela população de uma pequena cidade. Uma abordagem perfeita para o Super-Homem, e uma lição de tolerância sempre relevante.

Mesmo após o filme, As Aventuras do Super-Homem só conseguiu patrocínio em 1953, quando a Kellogs decidiu bancar a produção. O sucesso foi instantâneo. Como Robert Maxwell desejava uma espécie de continuação temática de seus episódios de rádio, o tom deveria ser realista e pesado, com ênfase não em elementos fantásticos, mas no combate ao crime e à corrupção. O primeiro episódio, Super-Homem na Terra, foi a tradicional história de origem, incorporando elementos dos quadrinhos e do romance escrito por George Lowther. Em Krypton, planeta habitado por uma civilização de super-homens, o líder do conselho científico, Jor-El, analisa os recentes desastres como ondas gigantescas e terremotos. Segundo seus cálculos, o planeta estava próximo da destruição total. Ele é desacreditado pelo conselho, mas como trabalhava num modelo de espaçonave, decide enviar nela seu pequeno filho, Ka-El. Na cidade de Smallville, o bebê é encontrado pelo casal Eben e Sarah Kent, e começa a desenvolver seus poderes. Aos 12 anos, Clark pergunta à sua mãe por que é diferente de todos os outros garotos de sua idade, revelando seus feitos inacreditáveis. Após a morte de seu pai adotivo, ele se muda para Metrópolis e adota o uniforme feito por Sarah com o material que o envolvia no foguete. Em sua primeira missão, o Super-Homem salva a vida de um homem que ficara preso num dirigível acidentado. Adotando uma postura de timidez moderada, Clark Kent consegue um emprego no Planeta Diário com a reportagem exclusiva do salvamento, conhecendo o editor Perry White e seus novos colegas Lois Lane e Jimmy Olsen.

Com os recursos limitados da época, tanto técnicos quanto financeiros, os efeitos especiais parecem simples, mas ainda encantam justamente por terem mostrado um ator voando como Super-Homem pela primeira vez. Inicialmente, as cenas de vôo eram feitas sempre com George Reeves pendurado por cabos, sobrevoando a cidade. Como o processo era desagradável e cansativo, logo se adotou uma nova estratégia. Com agilidade notável, Reeves aparecia saltando, entrando e saindo de janelas e prédios, com o auxílio de um trampolim. A maioria dos episódios era focada na equipe do Planeta Diário. Clark, Lois e Jimmy envolviam-se em algum mistério ou crime bizarros, e o Super-Homem entrava em cena apenas nos momentos finais para salvar o dia e derrotar os meliantes. Alguns episódios chamam atenção por suas propostas inusitadas, outros pelo tom violento e realista. Por vezes, a série possuía muito mais características de um drama policial que de aventuras de super-herói.

Um episódio inicial digno de nota é "O mistério das estatuetas quebradas", com uma premissa inacreditável. Dois homens de terno entravam em lojas e começavam a quebrar todas as estátuas disponíveis para venda, pagando por elas e recolhendo objetos aleatórios encontrados no interior de algumas. A solução do mistério por Clark Kent é digna de Sherlock Holmes. Um episódio posterior, "O Mistério dos Macacos", mostra um macaco com o uniforme de Super-Homem agindo como informante num caso de espionagem internacional. "Noite de Terror" cumpre a promessa do título, com Lois Lane vítima de uma quadrilha que já havia seqüestrado e espancado uma mulher inocente.

Quando temas de ficção científica eram explorados, estes eram fruto de invenções de cientistas, não de seres extraterrestres ou fenômenos inexplicáveis e, mesmo assim, faziam-se presentes gângsteres e criminosos comuns. Foi o caso do episódio "A máquina da mente", no qual um grande chefão do crime organizado de Metrópolis faz uso de um aparelho criado para manipular a mente de testemunhas em seu julgamento. Trata-se de um transmissor de ondas que entra em contato com a mente de um indivíduo à distância, criado para tratar distúrbios e fobias, que acaba sendo usado para fins criminais. Por uma falha em seu mecanismo, as pessoas afetadas enlouquecem e morrem. Como Lois Lane também é convocada a testemunhar, acaba sendo também a próxima vítima em potencial. Algo semelhante pode ser visto em "O Robô Fugitivo". Neste episódio curioso, somos surpreendidos de início pela presença de um robô com visual no maior estilo "Homem de Lata", que chega numa loja para prender um grupo de assaltantes. Logo o pretenso "Robocop" é capturado por uma organização criminosa, e seu inventor - que o manipulava via controle remoto - é obrigado a usá-lo para cometer assaltos, colocando novamente em jogo a vida de Lois Lane. "A Fantasia Roubada" parece ter antecipado em algumas décadas as tramas de quadrinhos polêmicas que exploram as identidades secretas dos super-heróis. Nesta história, o Super-Homem é chantageado por criminosos que encontram seu uniforme no armário de Clark Kent e ameaçam revelar seu segredo. O herói os deixa isolados numa montanha, e eles acabam caindo e morrendo acidentalmente.

Um dos momentos mais emocionantes da primeira temporada da série foi "A Carta de Aniversário", no qual Lois recebe a carta de uma garota de sete anos, endereçada ao Super-Homem. A criança era deficiente física, e pedia que o Super-Homem a levasse para andar de carrossel e montanha-russa no dia de seu aniversário. Sabendo através da notícia publicada no Planeta Diário sobre seu pedido, um criminoso vestindo uma roupa malfeita de Super-Homem a seqüestra visando conseguir as informações. Curiosamente, forma-se uma relação de amizade entre os dois, e o criminoso é traído por seu bando. Em o "Homem Bomba", temos mais uma história que explorou o potencial de todos os personagens. No edifício do Planeta Diário, Lois é algemada a um homem com o corpo envolto por dinamite, que ameaçava explodir se o Super-Homem não cumprisse suas exigências de permitir um assalto. Perry White age de forma enérgica, Clark Kent consegue sair do prédio acusando uma farsa publicitária e, como Super-Homem, consegue enganar o Bomba Humana deixando gravada a frase "Sem comentários até o fim do tempo" repetida enquanto agia. Até Jimmy Olsen, que funcionava mais como elemento cômico ou simplesmente como um garoto em perigo a ser resgatado, decide investir por conta própria contra o vilão. A primeira temporada fecha com o impressionante "Onda de Crimes", talvez o episódio mais violento e aquele em que o Último Filho de Krypton participa mais ativamente desde o princípio. Declarando guerra contra o crime organizado de Metrópolis, é vítima de uma armadilha de raios elétricos, no primeiro momento em que o vemos realmente em perigo. Ao menos aparentemente.

Como não havia confirmação sobre uma segunda temporada, Phil Coates dedicou-se a outros projetos e foi substituída por Noel Neil, a Lois Lane original do seriado cinematográfico. Quando mais 26 episódios foram encomendados, em 1953, Robert Maxwell foi afastado, supostamente porque era desejo da DC Comics e da Kelloggs um tom mais leve voltado para o público infantil. A série ficou a cargo inteiramente dos responsáveis pelo Super-Homem nos quadrinhos, Whitney Ellsworth e Mort Weisinger. Nota-se realmente a diminuição na violência, acentuando-se a ingenuidade das tramas. Em 1954, a série passou a ser exibida em cores, até seu cancelamento em 1957.

Em 16 de junho de 1959, o ator George Reeves foi encontrado morto por um tiro, e a polícia supôs tratar-se de suicídio. Contudo, o mistério permanece e será tema do filme Hollywoodland. Christopher Reeve eternizou-se no papel ao estrelar o clássico Superman, de 1978. Para o futuro, Tom Welling e Brandon Routh serão conhecidos. Muito antes que estes nomes se tornassem conhecidos, porém, George Reeves encantou o mundo com sua interpretação do Homem de Aço. Para a sua geração, ele foi e sempre será o Super-Homem definitivo.

Supercuriosidades

  • O Super-Homem era tão popular que chegou a fazer uma participação especial na sitcom I love Lucy.
  • O episódio "Pânico nos Céus" foi refilmado em duas séries posteriores do personagem, Superboy e Lois e Clark, e ainda encanta pela idéia de um Super-Homem desmemoriado.
  • O inspetor Henderson, policial criado para o seriado, foi incorporado à mitologia dos quadrinhos décadas mais tarde pelo editor Mike Carlin.
  • Escritores como Roger Stern e Jerry Ordway citam a série como sua principal influência nas histórias do herói.

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