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Robert Crumb | Quadrinista decide não visitar Austrália após ser chamado de pervertido

Além de "ser humano muito desvirtuado"

15.08.2011, às 18H19.
Atualizada em 11.05.2017, ÀS 03H00

Robert Crumb, um dos grandes nomes dos quadrinhos underground nos EUA, seria a atração principal de um festival de artes gráficas na Austrália - especificamente na prestigiada e Ópera de Sydney, cartão postal da cidade, neste mês de agosto. Não será mais. O autor comunicou à organização que não vai viajar após um jornal local publicar um artigo em que ele é chamado de "pervertido sexual", "demente" e "mente doentia".

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Na semana passada, o jornal The Sunday Telegraph publicou o artigo que, já na primeira linha, resume que "um pervertido sexual confesso, cujos cartuns explícitos não podem ser exibidos na Austrália terá uma fala e uma mostra especial na Ópera de Sydney." O jornal explica que os quadrinhos de Crumb têm cenas de "incesto, estupro, pedofilia e bestialismo", que o autor recusa-se a deixar seus quadrinhos passarem pela censura australiana e reforça que o evento que o trará é apoiado pela prefeitura.

É na entrevista com uma ativista contra abuso infantil, Hetty Johnson, que saem as declarações mais incendiárias. Johnson diz que a Ópera de Sydney estaria apoiando "os processos mentais depravados de um ser humano muito desvirtuado" e que "estes cartuns não têm nada de engraçado nem artístico - são apenas imagens toscas e pervertidas que emanam de uma mente sem dúvida doentia".

Em entrevista ao jornal The Australian (da mesma rede do Sunday Telegraph), Crumb diz que desistiu do evento por conta da matéria. "Foram coisas bem pesadas e fiquei muito, muito mal representado. Basta que umas pessoas exagerem na reação, apareçam lá e causem algum aborrecimento. Fico muito tenso de ter que enfrentar um desses grupos raivosos contra moléstias sexuais", diz o quadrnista, que mora na França. "Meus cartuns são pirados. Não tenho defesa."

[ATUALIZADO, 15/8:] Em carta publicada no Sydney Morning Herald no sábado, Crumb explica o que achou do artigo injurioso e como chegou à decisão de não comparecer ao festival. Diz que respeitou o desejo de Aline Kominsky-Crumb, sua esposa, que ficou com maus pressentimentos após ler o texto.

Alguns trechos da carta:

“Pode-se ver neste exemplo como são hábeis os profissionais da mídia de baixíssima integridade em manipular a opinião pública e os caminhos da política. A maior parte da população não costuma estar alerta para este tipo de manipulação.”

“Aline e eu discutimos o assunto várias vezes: ir ou não ir? No final das contas, ela não conseguia se livrar do mau pressentimento. Eu sabia que, se eu fosse, ela ficaria num estado constante de tensão. Ficaria rezando por mim, eu conheço ela. Eu não podia fazer isso com ela.”

“E se eu fosse, e um desses camaradas tipo Mark Chapman lesse o artigo e decidisse que o mundo precisa se livrar de lixo como R. Crumb? Esta possibilidade é o que mais preocupava Aline.”

“Desculpe, pessoal. Me sinto mal, e odeio desapontar vocês. Mas decidi que prefiro aguentar a dor de desapontar umas pessoas do que submeter minha esposa sofredora a 10 dias de medo e preocupação com o meu bem-estar. Ela tem sido muito querida comigo desde que eu disse que não ia! Até fez um bolo de chocolate pra mim!”

Leia a carta completa aqui.

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