HQ/Livros

Artigo

O Gralha

O Gralha

29.06.2000, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11
saved from url=(0022)http://internet.e-mail Caro Jotapê,

De todos os quadrinhos nacionais surgidos nos últimos anos, qual deles conseguiu alcançar 80.000 leitores mas semanalmente&qt;& E mais: são 320.000 exemplares mensais circulando somente no Paraná. Pois é, o Gralha (até onde sabemos) é o único personagem brasileiro que goza desse privilégio. Mas é claro que você deve estar se perguntando: "Quem diabos é esse Gralha, que eu nunca vi mais gordo&qt;&"

Praticamente todos os mais recentes títulos de quadrinhos produzidos em nossas terras tiveram destino não muito promissor. Isso por uma série de fatores, entre eles o simples desinteresse do público, que fez das bancas um território nada convidativo às HQs como gostariam artistas e leitores. Por esta razão, você não encontrará (pelo menos por enquanto) em nenhuma banca do país uma revista do Gralha, esse ilustre desconhecido.

Como você deve estar cansado de saber, os quadrinhos tornaram-se o fenômeno que são hoje graças aos jornais, que desde o início do século, abriram espaço a desenhistas e suas criações. Houve tempo (hoje cada vez mais distante) em que havia suplementos inteiros dedicados aos quadrinhos. Hoje os jornais já não dão tanta importância (nem espaço), mas, mesmo assim, muita coisa boa tem surgido neles. Nomes como Fernando Gonzales, Laerte, entre outros, sabem usar como ninguém o reduzido espaço hoje dedicado às tiras de quadrinhos. Ou seja, os jornais ainda são um bom refúgio. E foi aí que esse tal de Gralha (com o perdão da expressão) se aninhou.

UMA RECRIAÇÃO EM GRUPO

Na verdade, ele surgiu em outubro de 1997, numa edição da extinta Metal Pesado, um especial feito em comemoração aos 15 anos da Gibiteca de Curitiba, mas que pouca gente viu ou ouviu falar, apesar da revista ter recebido um troféu HQ Mix no ano seguinte. Para realizá-la, foram convocados vários quadrinhistas locais. Entre eles, havia um grupo que decidiu fazer uma homenagem a um ícone desconhecido dos quadrinhos curitibanos, o Capitão Gralha. Publicado no início dos anos quarenta pelo também desconhecido Francisco Iwerten, o personagem já trazia na bagagem muitos dos conceitos dos super-heróis que começavam a nascer nos EUA. Fugitivo de um planeta de homens-pássaros, regido pelo terrível Thagos, o usurpador, ele encontrou refúgio na Terra, onde utilizava seus poderes alienígenas no combate ao crime no Paraná. Misto de Flash Gordon com Super-Homem, o personagem teve vida breve. Foram publicados apenas dois números de suas aventuras, antes desse trabalho pioneiro mergulhar no mesmo abismo reservado a tantos precursores das HQs nacionais. Infelizmente, ninguém sabe se ainda existe algum exemplar de suas revistas.

Entre os quadrinhistas do grupo, foi unânime que um homem alado, com um "G" no peito e um bigodinho tipo "Errol Flynn" não seria muito bem visto pelos leitores de hoje. Optou-se então por criar uma versão atualizada do datado Capitão. Alessandro Dutra criou o visual, Gian Danton e eu, José Aguiar bolamos a história. Antonio Eder, Luciano Lagares, Tako X, Edson Kohatsu e Aguiar encarregaram-se da arte e Nilson Miller fez a capa da edição. Apesar do resultado irregular e dos estilos conflitantes de seus desenhistas, o Gralha fez sua estréia. Um ano depois o personagem ganhava sua página semanal no caderno Fun da Gazeta do Povo, onde continua suas aventuras não mais como um alienígena de bigode, mas como um adolescente que descende do Capitão Gralha original. Um herói iniciante em uma metrópole um pouco diferente da Curitiba de hoje.

Por sinal, a Curitiba do Gralha é um personagem à parte em seu universo, onde todas as características da verdadeira são elevadas à enésima potência. Localizada num futuro indeterminado, ela cresceu tanto a ponto de englobar os municípios adjacentes como bairros seus. Convivendo com um mar de arranha-céus gigantescos, estão pinheiros e muitas, muitas árvores que demonstram que, ainda no futuro, a cidade quer manter o título de capital ecológica. Em contraste com cidades fictícias como a sombria Gotham City, a Curitiba do Gralha parece crescer ordenada e infinitamente, chegando até mesmo ao Atlântico. Na verdade ela é o paraíso de qualquer super-herói. Todos os lugares comuns nela existem. Desde o cais do porto, uma base de foguetes e até mesmo a única usina nuclear não poluente do mundo, localizada em meio a uma floresta de araucárias.









O crime ainda resiste. E os super-vilões estão à solta. Araucária, Café Expresso, Biscuí do Mato, Pivete Cybertécnico, Homem Lambrequim, Doutor Botânico, Polaquinha e Bagre Humano são alguns dos extravagantes criminosos invariavelmente enviados à ilha-prisão do A.H.Ú. pelo Gralha. Isso quando o misterioso supergênio conhecido como O Craniano, cuja cabeça gigantesca é tatuada como uma pêssanka (aqueles ovos pintados pelos ucranianos na páscoa) não está tramando alguma artimanha. Definitivamente, todos os elementos "clássicos", – por que não&qt;& – "clichês" dos quadrinhos de heróis estão presentes nas HQs do Gralha. Mas nem por isso espere vê-lo como tantos heróis que habitam as banca por aí.

Sim, você vai encontrar cientistas loucos, mutantes e vilãs boazudas no universo do Gralha, mas não como está acostumado. Pra começo de conversa, ele é um homem fantasiado de passarinho. Quer coisa mais ecologicamente correta, e – por que não&qt;& – ufanista, do que ser uma Gralha&qt;& Não é a intenção do personagem se tornar um Batman tupiniquim. Não que ele negue as influências. Do Homem-Morcego, passando pelo Super-Homem ao Homem-Aranha, há de tudo um pouco em sua formação. Desse caldeirão de referências é que é feito o Gralha. Na verdade, trata-se de uma grande catarse coletiva de todas as porcarias super-heroísticas produzidas nos últimos sessenta anos. Outro choque que o leitor pode ter é a grande variedade de estilos e interpretações que o personagem apresenta. Numa era de astros siliconizados como os da Image Comics, onde todos são clones de clones, o Gralha aposta na diversidade. Tanto de estilos quanto de opiniões... para desespero de alguns leitores que só querem saber de mesmices.

Prestando atenção, às suas histórias você perceberá que alguns de seu autores nem gostam muito de super-heróis e que outros abertamente os detestam. Há aqueles que o desenham cartunizado, um punhado realisticamente ou até mesmo abstrato...E ainda assim ele é um só. Antonio Eder, Tako X, José Aguiar, Augusto Freitas, Luciano Lagares, Edson Kohatsu, Jairo Rodrigues, Rogério Coelho, Eduardo Moreira e outros que ainda devem se juntar ao Gralha, cada um à sua maneira peculiar contribuíram nesse primeiro ano do herói. Enfim, se nessa breve carreira, ele já rendeu tantas ou mais versões que o próprio Batman, em todas as suas décadas, imagine só o que o tempo reserva para o nosso singular "Vigilante das Araucárias".





Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.