Aos 78 anos e ainda em frenética atividade - tão frenética a ponto de lhe causar um infarto, durante sua visita ao Brasil, no último dia 1º (leia mais) - o veterano criador do Coringa é o tema de Jerry Robinson em Profissão Cartunista - A Vida Após Batman, documentário da produtora carioca Scriptorium em exibição na S-TV (SKY). Um tributo merecido a uma das últimas grandes lendas das HQs.
Com 1h30 de duração, o especial repassa os mais de 60 anos de carreira de Robinson, que começou nos quadrinhos aos 17 anos, como assistente de Bob Kane, o criador do Batman. Gravado nos Estados Unidos e Brasil, traz depoimentos de outros medalhões dos quadrinhos, como Will Eisner (criador do Spirit e tema do primeiro documentário da série Profissão Cartunista), Stan Lee (atual cabeça da StanLee Media, presidente de honra da Marvel e criador, entre outros, do Homem-Aranha e X-Men), Jules Feiffer (vencedor do prêmio Pulitzer de charge política em 1964) e Joe Kubert (veterano desenhista e dono de uma das mais importantes escolas de desenho dos EUA), além de brasileiros como Paulo e Chico Caruso, Ziraldo, Ique e o jornalista especializado Álvaro de Moya. A Vida Após Batman foi ao ar às 8h30 e à meia-noite do dia 6.
Desenhista por acaso
Bob Kane, criador do Batman |
No início, desenhar não passava de "um bico", uma forma de Robinson ganhar dinheiro para pagar seus estudos. Sua idéia era tornar-se jornalista. Ao aproveitar alguns dias de férias num hotel antes de ir para a Universidade da Califórnia, decidiu jogar tênis usando uma jaqueta totalmente desenhada por ele. "Um sujeito, então, bateu no meu ombro e perguntou quem tinha feito os desenhos. Quando lhe disse, ele me perguntou se eu não estaria interessado em trabalhar com um novo herói de quadrinhos". O sujeito era Bob Kane e o tal herói era o recém-lançado Batman. Robinson aceitou o convite, transferiu-se para a Columbia University e ingressou na profissão na qual continuaria toda a sua vida.
Dono de um traço marcante - muito superior ao do próprio Kane - Robinson desenvolveu seu estilo nos anos seguintes, cravando definitivamente seu nome na história dos comics ao criar o Coringa, arquiinimigo do Homem-Morcego, e participando da concepção de outras personagens importantes para a mitologia do herói, como Robin, Mulher-Gato e Pingüim. Trabalhou também em séries como Vigilante, Bat Masterson, Terror Negro e Lassie, título no qual permaneceu tempo suficiente para passar a odiar a heroína canina.
Cartunista por vocação
Embora seja mais conhecido no Brasil por seu trabalho com Batman, foi como cartunista que Jerry Robinson desenvolveu a maior parte de sua carreira. Um de seus maiores sucessos foi a série Still Life, protagonizada apenas por objetos inanimados. Quando protagonistas humanos foram introduzidos, o nome foi mudado para Life With Robinson.
A sátira política e a crítica de costumes são a principal marca de seu trabalho. Em plena Guerra Fria, ele foi co-roteirista e diretor de arte do filme de animação Stereotypes, que mostrava a forma como americanos e russos viam uns aos outros e foi custeado por empresas dos dois países. Outra série de sucesso foi Flubbs & Fluffs, satirizando erros cometidos por alunos de escolas norte-americanas.
Robinson escreveu vários livros, entre os quais The Comics: An Illustrated History of Comic Strip Art, a biografia Percy Crosby and Skippy; e The 1970s: Best Political Cartoons of the Decade.
Lutador por opção
Não bastasse seu talento como artista, Jerry Robinson destacou-se também como um grande defensor de sua categoria profissional. Ele foi um dos principais negociadores na batalha judicial entre Jerry Siegel e Joe Shuster, os criadores do Super-Homem, e a editora DC Comics pelos direitos sobre a personagem, vendida pela dupla por apenas 25 dólares quando ambos eram ainda adolescentes. Um acordo garantiu a eles uma pensão vitalícia e o direito de figurarem como criadores do herói.
Robinson é fundador e presidente do Cartoonist & Writers Syndicate, que representa 500 artistas de 50 países, incluindo 12 brasileiros. Como dirigente do CWS, ele atuou na libertação de cartunistas presos no Uruguai e na extinta União Soviética. É também integrante do conselho de diretores do Museu Internacional do Cartum, em Boca Ratón, Flórida.