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Música
Artigo

Ennio Morricone ao vivo no Rio de Janeiro

Quando a música se torna maior do que sua execução

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07.05.2007, às 20H20.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 10H03

Por ocasião do 1º Encontro Internacional de Música de Cinema, o Brasil recebeu uma lenda da orquestração cinematográfica, o italiano Ennio Morricone. O autor de trilhas formidáveis, cujo trabalho pode ser conferido em mais de 400 filmes - entre eles clássicos do western spaghetti, A Missão, Os Intocáveis e Cinema Paradiso -, agraciado com o Oscar honorário em 2007, esteve no Rio de Janeiro no dia 5 de maio, no Teatro Municipal, regendo a Orquestra Petrobrás Sinfônica. O Omelete esteve no evento e conta como foi essa noite memorável.

Quando anunciaram que o compositor Ennio Morricone se apresentaria no Rio de Janeiro, os cinéfilos ficaram em polvorosa. Seria uma oportunidade única de assistir ao maestro conduzindo seus temas lendários, concebidos para dezenas de filmes inesquecíveis, no Teatro Municipal. Mas a felicidade dos amantes da música durou pouco. Em alguns dias todos os ingressos já estavam com os cambistas. Os "negociantes" vendiam os bilhetes mais baratos por 400 reais, que oficialmente custavam 120 reais.

Tal fato nos leva a refletir sobre as dezenas de denúncias, por parte dos produtores, da proliferação de carteiras falsificadas de estudante no mercado. Para que um estudante possa comprar o ingresso é necessário que ele vá pessoalmente até o guichê, apresente seus documentos e receba um ingresso carimbado, intransferível, no qual é colocado seu nome. No caso das outras entradas, não há qualquer espécie de identificação que possa evitar que o bilhete seja repassado para outra pessoa. Assim, fazem a festa os cambistas e, como sempre, o cidadão comum é prejudicado. Na porta do Municipal momentos antes do evento, em frente à conivente polícia, era possível comprar ingressos para qualquer setor do teatro nas mãos dos cambistas. Estudantes pressionados, mas cambistas livres para atuar, portanto.

Problemas administrativos à parte, voltemos ao show... Mesmo tendo recebido credenciamento de imprensa, preferi adquirir o meu ingresso logo no primeiro dia em que foram colocados a venda. Preferi não arriscar que me colocassem na Galeria. Quem já assistiu a um concerto nesse setor do Municipal, sabe do que estou falando. Não se consegue ver nada. É melhor escutar o CD em casa.

Devidamente alojado - e num excelente lugar -, aguardei o inicio do espetáculo. Morricone entrou no palco e foi bastante aplaudido. Da primeira à última música o maestro foi ovacionado, chegando a voltar ao palco para três bis para uma platéia entusiasmada, que o aclamava de pé. Ele conduziu a Orquestra Petrobras Sinfônica com bastante propriedade, mas quem conhece seu trabalho pôde perceber que faltaram ensaios para que a apresentação fosse impecável. Existe uma hierarquia implícita em uma orquestra sinfônica. Cada seção (cordas, madeiras, metais e percussão) possui um solista (pode ser um grupo) que lidera. Os segundos violinos por algumas vezes invadiram suavemente os primeiros violinos. O público em geral não notou essas minúcias. Até porque os temas de Morricone são carregados de emoção. A música acaba se tornando maior do que a própria execução.

O maestro organizou seu espetáculo em duas partes que abordaram quatro temas. A primeira contou com músicas de filmes mais populares e foi dividida em dois capítulos, chamadas de "A Vida e a Lenda" (Os Intocáveis, Era uma vez na América e Cinema Paradiso, entre outros menos conhecidos) e "Modernidade do Mito no Cinema de Sergio Leone" (Três homens em conflito, Era uma vez no oeste, Quando explode a vingança). A segunda parte foi marcada por músicas de filmes políticos e épicos, cujos capítulos foram denominados "O Cinema do Compromisso" (A Batalha de Argel, Investigação de um cidadão acima de qualquer suspeita, Páginas da revolução, A classe operária vai ao paraíso, Pecados de guerra e Queimada) e "Cinema Trágico Lírico e Épico" (O deserto dos tártaros, Ricardo III e A Missão).

Com essa divisão, Morricone pode revisitar diferentes passagens de sua carreira. Ao mesmo tempo conseguiu agradar a cinéfilos e curiosos. Durante o show, o telão que exibiria cenas clássicas dos filmes foi descartado pelo próprio Morricone, pois encobriria o enorme coral ao fundo do palco. Para os amantes de sua música isso não fez falta, mas os curiosos ficaram perdidos durante as belas suítes temáticas do maestro italiano. Era possível escutar pessoas sussurrando pérolas do tipo, "de que filme é essa música?". Com certeza aprenderam algo novo. Esse era, afinal, o objetivo do evento Música em Cena - 1º Encontro Internacional de Música de Cinema - promover a importância da música no universo da produção cinematográfica -, que começou com o pé direito.

O festival segue agora até o dia 13 de maio e terá shows no Canecão Petrobras no dia 10 de maio com Lisbeth Scott, Wagner Tiso e convidados, e no dia 11 de maio com Gustavo Santaolalla (vencedor de 2 Oscar por trilha sonora) acompanhado da cantora Marisa Monte. Isso, claro, se sobrarem ingressos para os espectadores, afinal, na abertura do festival, a festa foi mesmo dos cambistas.

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Fotos: Rogério Resende

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