O sucesso de um console no mercado está ligado à qualidade de seus jogos exclusivos de lançamento. Ciente disso, a Microsoft fez uma de suas mais acertadas escolhas em 2001 ao acompanhar seu Xbox de Halo: Combat Evolved. O jogo de tiro em primeira pessoa rapidamente conquistou o público e despertou o interesse para o aparelho, tornando-se uma das maiores franquias dos jogos eletrônicos no processo.

Depois de uma trilogia de jogos - que migrou com sucesso ao Xbox 360 - e dois derivados, a série agora ganha Halo: Reach, game que serve de prelúdio ao original. A história acompanha a conhecida queda de Reach, planeta habitado por 700 milhões de humanos e a última grande fortaleza da UNSC (United Nations Space Command) em sua guerra contra a força alienígena Covenant. No início da aventura, o grupo Noble de soldados classe Spartan recebe um reforço, seu sexto integrante, o tenente chamado apenas como Noble Six. A primeira missão da nova formação do grupo parece uma tarefa de rotina, verificar um distúrbio rural, mas não tarda para que os Covenant apareçam.

Halo: Reach

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A história é construída de maneira a amarrar pontas soltas da saga e a desenvolvedora Bungie, criadora da série, aqui realizando seu último trabalho à frente da franquia (leia mais), o faz muito bem. A ação aos poucos vai ganhando escala e as intenções do game vão surgindo a cada aguardada cena animada entre as fases. Ainda que saibamos o que o futuro reserva a Reach, acompanhar (e jogar) a jornada é extremamente satisfatório. É terreno conhecido pelo estúdio, que parece ter se empenhado ainda mais neste jogo, já que será o último título deles à frente de Halo.

E se o primeiro game da série tinha o subtítulo "combate evoluído", o que dizer de Halo: Reach? Combate evoluído e aperfeiçoado? A jogabilidade está refinadíssima. Basicamente, todos os elementos que tornaram a série consagrada, especialmente os que forçam o planejamento e tornam mais desafiadores os encontros com os oponentes, foram melhorados. É possível resolver cada segmento de várias maneiras e os desenvolvedores espalham essas possibilidades através do terreno na forma de armas e habilidades. A maior novidade deste game, aliás, é fundamental nessa intenção. As armaduras agora possuem habilidades que podem ser trocadas em campo e usadas várias vezes. São elas "correr", "invulnerabilidade", "escudo", "holograma", "evasão", "camuflagem" e "jato portátil". Observar a fase e o posicionamento dos inimigos e tentar combinar a habilidade escolhida da armadura com um tipo específico de arma e ação em campo é parte da diversão.

De todas essas habilidades, o jato portátil é a que mais deve agradar aos fãs. Ainda que eu tenha ficado obcecado pela combinação de Espada de Energia e Holograma (o oponente ataca o seu personagem falso e você pode pegá-lo desprevenido), o jato é simplesmente divertido demais. Alcançar posições elevadas no terreno com um rifle de longo alcance ou descer dos céus disparando foguetes... o veículo portátil dá margem a todo tipo de ação, da mais refinada à mais alucinada.

A variação das missões é igualmente satisfatória. Além dos tradicionais avanços a pé e com veículo em todo tipo de terreno (caverna, cidade, pântano, planícies, edificações diversas, nave espacial...) há fases de combate aéreo. A primeira, no espaço, coloca o jogador no controle de um caça Falcon e não deve nada a títulos focados no gênero. A outra exige o controle de um helicóptero em um cenário urbano. Ambas são excelentes. Minha única ressalva é que gostaria de ter ficado mais tempo a bordo dessas naves como seu piloto, talvez usando-as como meio de locomoção entre uma missão e outra.

O Visual

Visualmente, este é o melhor Halo da série. Não poderia ser diferente, claro, com o Xbox 360 atingindo seu potencial pleno entre os desenvolvedores e a Bungie tendo quase uma década de experiência neste universo. Seria injusto afirmar que se trata do "mais belo game do console" ou coisa do tipo - a resolução e qualidade gráfica dos grandes games já faz algum tempo são um tanto indistinguiveis -, mas ele certamente está entre os mais bem cuidados. Halo: Reach aposta na direção de arte para fazer a diferença. E nesse contexto, para um game que tenta de certa forma ser realista, o uso das cores é bastante ousado... quase alegre (até que a criatura com um escudo azul royal comece a tirar pedaços de você com seu feixe de energia, claro). Outro exemplo? A belíssima e multicolorida explosão dos canhões A/C com os anéis planetários ao fundo, no céu.

Obviamente, nem tudo é perfeito em Halo: Reach. Como o game acabou de sair e ainda não há atualizações de sistema disponíveis, algo que a Bungie deve arrumar em breve, os problemas no jogo não são poucos. A inteligência artificial dos soldados que acompanham o jogador é das piores e contrasta com a excelente I.A. dos oponentes. Os aliados não entram nos veículos na hora certa, dirigem mal demais (conseguiram capotar jipes mais de uma vez, sem falar na ocasião em que fui pateticamente atropelado) e travam nos lugares mais estranhos. Em uma fase específica, não saíram do helicóptero e tive que resolver o mapa inteiro sem apoio, ainda que os escutasse ao meu lado o tempo todo! Sim, soldados invisíveis. Alguns lags gráficos também podem ser percebidos ao final da campanha.

Mesmo que esses defeitos não prejudiquem a experiência, qualquer coisa que remova o jogador do universo em que ele está imerso deveria ser evitada ao máximo. Outro problema, esse mais grave, está impedindo também que alguns usuários, donos do Xbox 360 slim de 4gb, consigam se conectar para jogar online em modo cooperativo. Mas, novamente, nada que a Bungie não possa resolver em breve. Por falar em multiplayer, uma das grandes preferências dos jogadores de Halo, o game foi lançado com vários módulos de jogo online, fora o cooperativo (cuja dificuldade aumenta de acordo com o número de jogadores). Todos com sistemas inteligentes, que podem balancear o nível dos jogadores e que facilitam encontrar amigos e convidá-los para jogar.

E, finalmente, se os responsáveis norte-americanos capricharam, os brasileiros não ficaram atrás. A Microsoft Brasil não se limitou a traduzir apenas o manual, mas dublou todo o jogo em português! Excelente iniciativa e prova do respeito crescente ao consumidor nacional de games. Eu, porém, senti falta de uma opção para jogar com o áudio original, já que as expressões em português me incomodaram... ou você também não acha engraçado um soldado no calor da batalha dizendo "estamos levando chumbo grosso!" ou outras pérolas inadvertidamente cômicas como essa? Se o caminho é a dublagem, vale a pena investir em uma adaptação mais coerente com termos militares (e em dubladores sem sotaque regionais).

Halo: Reach é a Bungie deixando a série em sua melhor forma. A Microsoft certamente enfrentará enorme ceticismo e críticas quando começar a divulgar, por outro estúdio, o inevitável próximo jogo da série. O patamar a ser superado é altíssimo e os fãs seguirão por muito tempo o slogan, "Lembre-se de Reach", deste último capítulo pelos criadores originais.

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Nota do crítico