São raras as vezes que um jogo consegue capturar aquela sensação de arrepio, como se você estivesse sendo observado. Alan Wake, exclusivo para o Xbox 360, é um dos poucos exemplares desse tipo de horror competente. Misturando referências que vão de Twin Peaks a Stephen King, o game divide através de capítulos bem definidos - encerrados por músicas que incluem canções de Nick Cave, David Bowie e Roy Orbison - um mistério que emprega metanarrativa para ser desvendado. A história é sobre a história e parte dela.

Cenários exuberantes, construídos a partir de gráficos que estão entre os melhores do mercado, colocam o jogador em uma cidadezinha costeira, Bright Falls, onde se desenrola a trama. Alan Wake é o nome do bem desenvolvido protagonista, um escritor em crise criativa que sai em férias ao lado da esposa - com quem tem um relacionamento muito bem construído através de flashbacks. Não tarda para que situações estranhas comecem a invadir a vida do casal, que é separado assim que chega à cabana que alugaram, dominada por forças sobrenaturais.

Alan Wake

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Começa então a corrida de Alan para salvar a mulher - e sua própria sanidade. Em seu caminho estão páginas de um livro que ele não se recorda de ter criado, um sujeito ensandecido e um exército de criaturas dominadas pela escuridão.

Alan Wake demorou cinco anos para ficar pronto pela finlandesa Remedy Entertainment. Mas a espera foi recompensada. O Microsoft Game Studios colocou nas prateleiras um jogo instigante, preocupado com o equilíbrio entre uma trama que prende o jogador - as páginas encontradas dão vislumbres do que vem a seguir e as cenas animadas são muito bem executadas - e jogabilidade, que traz alguma novidade.

Na aventura sombria, em terceira pessoa, humanos, animais e objetos inanimados possuídos pela escuridão precisam ser "limpos" de sua capa de trevas com o uso da luz de lanternas, faroletes, sinalizadores ou granadas de fósforo. Só depois é possível vará-las com o bom e velho chumbo para terminar o serviço. Nem sempre, porém, há munição ou tempo suficiente para enfrentar os grupos que perseguem o protagonista em bosques escuros, minas abandonadas, campos ou vilarejos-fantasma. Resta então ao jogador a opção menos honrosa: correr, ainda que isso signifique acertar corretamente o tempo dos inimigos para conseguir se esquivar e chegar a salvo em um ponto iluminado.

Infelizmente, o jogo começa a cansar depois de algumas horas. As missões não têm boa variação. Todas elas envolvem passar do ponto A ao ponto B, com vários checkpoints entre eles, sem grandes locais de interesse ao largo do caminho principal (ainda que o game tente dar estofo extra à trama com folhetos turísticos, programas de TV e rádio) e sempre com os mesmos inimigos e situações. Lá pelo final há alguma novidade, especialmente a frenética sequência da invasão do palco da fazenda (excelente) e mais objetos inanimados criando vida... Mas é basicamente sempre a mesma coisa.

O final é também muito decepcionante. Não vou entrar em detalhes para não estragar surpresas, mas o embate com o grande vilão do jogo é resolvido em uma cena animada. Ora, a trama foi perfeita ao criar verdadeira ojeriza pela figura que controla a escuridão... Mas quando finalmente temos a oportunidade de colocar as mãos nela, o jogo vira um filminho para terminar a situação, tirando do jogador a sensação de controle de seu destino. Tremendo erro, especialmente depois de tanta expectativa positiva.

Fica, porém, a certeza de que a excelente ambientação, o sistema de jogo e ótimo personagem poderão ser muito bem aproveitados em uma continuação, em que os erros do primeiro capítulo podem ser corrigidos e uma experiência ainda mais envolvente pode ser entregue. Alan Wake é um bom começo - e a Remedy e Microsoft desejam continuá-lo futuramente (o que vai depender das vendas, que ficaram abaixo do esperado). Eu certamente retornaria a Bright Falls.

Nota do crítico