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Violência Gratuita

Michael Haneke refilma quadro a quadro seu filme de 1997

18.09.2008, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H40

Michael Haneke (Caché) é frequentemente associado a adjetivos como "gênio" por uns. Outros o chamam de "sádico". Não há consenso sobre a obra desse cineasta alemão a não ser a certeza de que ele é polêmico.

Cineasta de filmes perturbadores, voltados a ocorrências violentas e possíveis, divide público e crítica simplesmente porque alguns acreditam que ele vá longe demais em seus retratos, que exigem certo preparo para serem acompanhados.

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Violência Gratuita (Funny Games), filme que Haneke dirigiu em 1997, é um de seus trabalhos que mais divide opiniões. Esteja você em qualquer um dos lados do espectro, é impossível sair inalterado da projeção, tal a força da tensão criada pelo cineasta nesse violento drama psicológico.

No filme, dois jovens simpáticos apresentam-se a uma rica família em férias como convidados de seus vizinhos. Não tarda para que suas sádicas e verdadeiras intenções se desfraldem.

As comparações com o clássico Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) de Stanley Kubrick são frequentes, mas um tanto exageradas. Há, sim, uma homenagem escancarada ali ao personagem Alex, de Malcolm McDowell, porém a intenção de Haneke não é copiar, mas questionar a própria platéia, que atua em Violência Gratuita como cúmplice, em uma escancarada crítica ao cinema de violência. Para fazer-se entender, Haneke dá as costas para um dos mais básicos princípios do cinema: a transparência. Trata-se da regra segundo a qual o cineasta e suas intenções como realizador devem dar um passo atrás para não quebrar a ilusão da Sétima Arte. Prova dessa ruptura são os momento em que o personagem Paul conversa diretamente com o público, trazendo-o para dentro do filme ou quando lhe convém, coloca-se à parte do filme, quase como um alter-ego do diretor, reeditando a história segundo sua lógica.

Apenas fica a dúvida das razões pelas quais Haneke ter decidido refilmar Violência Gratuita dez anos depois, em 2007, nos Estados Unidos. Não faz qualquer sentido, já que ele não mudou um quadro ou diálogo sequer, apenas os atores (Naomi Watts, Michael Pitt, Tim Roth, Brady Corbet, Boyd Gaines, Siobhan Fallon e Devon Gearhart entram no lugar - mas atuando igualzinho!). Até mesmo as locações são cópias fiéis americanas dos cenários europeus.

É possível argumentar que foi pensando em lucro, já que existe enorme resistência do público dos Estados Unidos a assistir filmes com legendas - mas, novamente, a lógica se perde quando observamos o teor do filme. É o tipo de produção restrita aos cinemas de arte e circuitos alternativos - normalmente bastante receptivo às legendas e produções estrangeiras, mas que arrecadam muito menos dinheiro nas bilheterias.

Haneke pode ser um gênio, mas essa decisão ficou mesmo é com jeito de excentricidade. De qualquer maneira, se você não assistiu ao original (disponível em DVD no Brasil), ao menos há agora a chance de sofrer no cinema com os sádicos de luvinhas brancas. Afinal, não há qualquer diferença entre assistir ao filme de 1997 ou o atual.

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