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Uma verdade inconveniente

Uma verdade inconveniente

01.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 08H01

O ex-vice-presidente Al Gore é motivo de chacota nos Estados Unidos desde sua derrota para George W. Bush na corrida presidencial de 2000, nos Estados Unidos. Os excelentes Trey Parker e Matt Stone sempre o mostraram em South Park com um perdedor patético pela inabilidade de superar esse fato. E, segundo as mentes criadoras do programa, isso resultou em Gore viajar pelo mundo alertando sobre os perigos de uma espécie de Pé Grande, um fantasma chamado de "ManBearPig", que poderia destruir o mundo. Essa sátira explícita foi criada em cima das palestras que Gore vem dando pelo planeta sobre os graves problemas causados pelo aquecimento global e a liberação excessiva de gases CO2. Mas para os desinformados, Gore já faz isso desde a sua eleição para a Câmara de Deputados nos anos 70 e não por causa de sua derrota para Bush. Uma verdade inconveniente (An inconveniente truth, 2006) é o registro cinematográfico sobre essa faceta de Gore desconhecida do grande público.

O documentário é essencialmente uma versão em película do slide-show que Gore vem exibindo desde 1978 sobre a sistemática destruição do meio ambiente, devido ao dióxido de carbono preso na atmosfera terrestre. Segundo Gore, o debate está terminado. A comunidade científica concorda que o planeta está aquecendo e os responsáveis somos nós. Os efeitos têm sido e serão ainda mais catastróficos. Em sua palestra, Gore apresenta dados factuais que as calotas polares estão derretendo, o nível dos oceanos está subindo e o clima vem apresentando mudanças drásticas de comportamento. Isso tudo resulta numa constância de furacões, enchentes, seca, praga de insetos e epidemias. O efeito no futuro será um caos político, econômico e social.

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O filme abre com Gore falando para um auditório apoiado por projeções, slides e vídeos. Até o humor se faz presente com um pequeno curta de Matt Groening, criador dos Simpsons. Ao mesmo tempo, o acompanhamos em aeroportos, dentro do carro e quartos de hotel, representando que a sua cruzada tem sido pelo mundo e não só nos Estados Unidos. Chega a ser surpreendente vê-lo articulado, inteligente, entendido e passional sobre o assunto. Bem diferente do monossilábico e atrapalhado candidato a presidência do passado. Ele consegue explicar o problema de forma clara e simples, usando citações de Mark Twain e Upton Sinclair. Ele emprega gráficos com mapas de estatísticas atmosféricas sobre milhões de anos lado a lado com fotografias da Patagônia, do Kilimanjaro, dos Alpes e da Antártida, entre outros locais, para revelar o impacto produzido pelo homem durante anos no meio ambiente. Chega a mostrar a diferença do que foi noticiado pelos os veículos de mídia norte-americanos e os cientistas sobre as causas do Furacão Katrina. Fica evidente que o lobby protagonizado por certos grupos poderosos influencia os meios de comunicação.

Parte biográfico, o filme também mostra que Gore foi introduzido no assunto quando ainda era universitário, durante uma palestra de Roger Revelle, um professor de Harvard. Revelle foi um dos pioneiros na medição de dióxido de carbono na atmosfera. A família de Gore, que plantava tabaco, também foi uma influência. Ele revela que o falecimento de sua irmã por câncer de pulmão provocou uma mudança na utilização do solo de suas fazendas. Outro fator importante foi a quase morte de seu filho num acidente de carro. Através dessas tragédias pessoais, o filme ganha um lado humano. E com esses elementos fica mais fácil acontecer uma identificação da epístola com os espectadores. Essa conscientização gera uma reflexão: parte do problema poderia ser evitado, se aplicássemos uma série de mudanças em nossos hábitos diários.

Mesmo assim, o cineasta Davis Guggenheim, um veterano da TV (dirigiu episódios de 24 Horas e The Shield), não cai nas armadilhas do patriotismo. Ele utiliza um tom ingênuo para dar ritmo ao filme. Inevitavelmente o tema da corrida presidencial de 2000 chega. Nessa hora, Guggenheim acelera o máximo possível com uma montagem de clipes e alguns comentários pouco eloqüentes de Gore. Um outro ponto negativo é uma certa aura de superstar criada em torno do documentado. Como também incomoda o estilo didático da produção, orientado para converter. Mas vale dizer que Gore não queria fazer o filme e precisou ser persuadido para participar do projeto. Foi convencido pela importância da mensagem, até porque somos ao mesmo tempo os vilões e as vítimas dessa história.

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