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Crítica

Reencontrando a Felicidade | Crítica

Para John Cameron Mitchell, tudo na vida é uma questão de pele

05.05.2011, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H20

Faz oito meses que o filho de quatro anos de Becca (Nicole Kidman) e Howie (Aaron Eckhart) morreu atropelado, e ela resiste à ideia do marido de visitar um grupo de anônimos também em luto. Becca não gosta do "papo de Deus", pais que se consolam imaginando que os filhos mortos agora são anjos no céu.

Em Rabbit Hole, drama que ganhou o enganoso título Reencontrando a Felicidade no Brasil, o que vale para Becca não vale, necessariamente, para Howie. Na verdade, o roteiro que David Lindsay-Abaire adaptou de sua peça homônima trata das diferenças entre marido e mulher diante da dor. Ela bloqueia o luto, ele preenche como pode afetos perdidos.

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É esse senso de isolamento que o diretor John Cameron Mitchell (Hedwig, Shortbus), também egresso do teatro, trabalha à primeira vista, mas o que diferencia Rabbit Hole de outros filmes com o mesmo tema - afinal, todo processo de luto implica uma interiorização - é o passo seguinte, o recomeço. Para Mitchell, a recuperação é antes de mais nada uma questão de tatear.

Desde o primeiro plano, quando Becca abre um saco de terra para plantar flores no jardim, Rabbit Hole se mostra sensorial. É a textura da terra, o grafite poroso sobre o papel, o açúcar fervendo em caramelo, o pelo do cachorro. Os hipercloses do diretor de fotografia Frank DeMarco, que trabalha com Mitchell desde Hedwig, têm tudo a ver com a ideia do buraco do coelho de Alice no País das Maravilhas, como se o mundo, depois de um evento transformador, pedisse para ser redescoberto.

Esse jogo de perspectivas, impossível no teatro, se estende à linguagem corporal em Rabbit Hole. Depois de filmar o sexo com propriedade em Shortbus, Mitchell faz aqui um estudo de corpos mais sutil. O fluxo constante de afastamentos e reaproximações está presente na falta de contato de Becca e Howie, que não se beijam e mal se tocam, de Becca e o garoto Jason (Miles Teller), de Howie e Gaby (Sandra Oh). A cena de Howie e Gaby no fliperama é notável, no jeito como o corpo de Eckhart orbita o de Sandra em um aflitivo pedido de ajuda.

É reaprender o tato, literalmente.

O respeito à privacidade, a uma reaproximação sensível, permanece até a cena final, em que a narração em off preserva uma certa distância das coisas. Assim como Becca, Mitchell renega a "cura religiosa". Se há algum traço de esoterismo em Rabbit Hole, é o culto à luz (negada no começo do filme, cheio de cortinas). O calor da luz está no sol do parque que bate no rosto de Becca e está na imagem, no melhor estilo comercial de margarina, de Howie na contraluz, vestido de camisa branca, de costas para a janela ensolarada. Se a vida é uma experiência sensorial, não atrapalha ter uma bela casa no subúrbio virada para o lado certo.

Reencontrando a Felicidade | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Reencontrando a Felicidade
Rabbit Hole
Reencontrando a Felicidade
Rabbit Hole

Ano: 2010

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 91 min

Direção: John Cameron Mitchell

Elenco: Nicole Kidman, Sandra Oh, Dianne Wiest, Aaron Eckhart, Tammy Blanchard, Miles Teller, Giancarlo Esposito, Jon Tenney

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