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Quando Você Viu seu Pai pela Última Vez?

Prepare o seu lenço para a história do filho que nunca se entendeu com o pai

26.09.2008, às 12H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 17H01

Logo nos primeiros minutos o drama britânico Quando Você Viu seu Pai pela Última Vez? (When Did You Last See Your Father?, 2007) nos dá as coordenadas de seu conflito principal. Quando pequeno, o filho invejava a lábia e a malandragem do pai. Adulto, se ressente por nunca ter ganhado do velho o reconhecimento que merecia. Algo aconteceu nesse meio tempo (na verdade, quase 30 anos, dos anos 60 até 1989) que azedou a relação - e é isso que o diretor Anand Tucker quer nos mostrar.

Não é o começo de filme mais promissor do mundo, dada essa avalanche de informação esquemática, mas aos poucos o diretor nascido na Tailândia, de pai indiano e mãe alemã, exercita a sutileza - a mesma sutileza que tinha chamado atenção em seu trabalho anterior, A Garota da Vitrine.

Quando Você Viu Seu Pai Pela Última Vez?

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O pai, médico, se chama Arthur (vivido por Jim Broadbent com a competência habitual). O filho, Blake (Colin Firth), escolheu ser escritor. Arthur não perde uma oportunidade de alfinetar a escolha de Blake - o pai chama o filho pelo primeiro nome quase sempre, como se desde sempre o considerasse "já um homem". Blake quer simplesmente ser compreendido. Ele sempre se refere a Arthur como "dad", pai. (Eis aí um primeiro exemplo de sutileza, as diferenças de tratamento.)

Seria um eterno distanciamento velado entre os dois se Arthur não estivesse doente, coisa que o próprio título do filme já prenuncia. Blake se sufoca, tem contas demais para acertar com o pai. Enquanto Tucker narra essa tentativa de reaproximação, acompanhamos em flashbacks como a adolescência de Blake foi crucial para queimar a ponte que já separava os dois.

Não gosto de dizer que um filme é "sensível", porque se trata de um adjetivo impreciso. O que caracteriza um filme "sensível", afinal? Acontece que é um clichê difícil de contornar. Quando Você Viu... é o típico drama que transborda "sensibilidade", expressa na forma com que a câmera se aproxima dos olhos cintilantes de Broadbent ou se afasta dele, de costas. O cineasta tailandês não deixa passar uma chance de botar uma câmera lenta - seja dentro de um carro, numa sala de jantar, durante um abraço. É tempo congelado o tempo inteiro.

E como se trata de um filme sobre memória afetiva, essa câmera lenta ganha gravidade, como se fosse preciso desacelerar a ação para que ela não escorra entre os dedos, nesses momentos finais de uma vida. Está aí um caso de cacoete (não é de hoje que Anand gosta de um slow motion) que se encaixa bem na proposta de um filme.

Essa combinação de olhares sutis com câmera lenta, mais uma predileção por rostos duplicados em espelhos, mais alguns diálogos preciosos, como quando Blake diz que o pai doente já "olha através de mim", vai irremediavelmente desembocar em choradeira. Prepare o lenço.

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