Filmes

Entrevista

Omelete entrevista: Produtores e roteirista de 300

Jeff Silver, Deborah Snyder, Mark Canton, Gianni Nunnari, Bernie Goldman e o roteirista Kurt Johnsta

26.03.2007, às 23H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H23

Em fevereiro passado, os produtores Jeff Silver, Deborah Snyder, Mark Canton, Gianni Nunnari, Bernie Goldman e o roteirista Kurt Johnstad receberam a imprensa em Los Angeles para uma rodada de perguntas e respostas sobre 300. Na ocasião a adaptação da graphic novel de Frank Miller ainda não havia entrado em cartaz nos EUA, portanto permanecia uma enorme expectativa sobre o resultado do épico de Zack Snyder. Confira abaixo o que eles contaram sobre a produção.

Como vocês convenceram Frank Miller a fazer este filme?

GN: Com um cheque enorme... ahahahahaha. Eu acho que Frank estava num momento em que ele sabia que haviam outros projetos nas prateleiras sobre os 300 de Esparta e achou melhor vender os direitos para um cara maluco como eu, já que parecia que ninguém faria o filme. Aí veio mais um cara maluco, mais dois, mais três e enfim éramos quase 300 malucos. E ele acreditou em nós, que estávamos muito determinados em fazer o filme da maneira correta. E aí entrou Zack [Snyder], e foi paixão à primeira vista entre os dois. A partir daí ficávamos renovando os direitos a cada seis meses. E isso durou uns três ou quatro anos até conseguirmos realmente fazer o filme. E parece que ficou bom...

E como foi seu primeiro contato com Zack?

GN: Nosso primeiro trabalho juntos foi um comercial. E foi uma propaganda memorável - a primeira estrelada por Robert DeNiro. Zack é ótimo.

De quem foi a idéia de colocar Rodrigo Santoro no papel de Xerxes?

DS: Eu me lembro de quando o nome dele chegou pra nós pela primeira vez. Nos encontramos com a idéia de que ele seria possivelmente um dos espartanos, mas Zack gostou tanto dele que ficou pensando que ele poderia ser o Xerxes. Aí Rodrigo voltou ao Brasil e de repente Gianni nos ligou dizendo que tinha uma fita dele interpretando Xerxes, para nossa avaliação. Ele tinha ficado muito intrigado com o personagem. Ele colocou uma touca careca, fez a maquiagem completa, e interpretou uma cena da graphic novel. Nos mandou a fita e ficamos impressionados. Ele foi o primeiro que avaliamos para o papel e o escolhemos ali.

Vocês esperavam essa resposta de público?

MC: Estávamos com os dedos cruzados, mas quando o filme ficou pronto ficamos felicíssimos, pois é ótimo estar envolvido com algo que efetivamente causa resposta nas pessoas - falação, empolgação, etc.

Esses temas de sacrifício e liberdade fazem algum sentido maior hoje em dia?

KJ: Eu acho que através da História esses temas de sacrifício, honra, responsabilidade são recorrentes. Não gostaria de politizar o assunto demais, mas sim, é possível traçar alguns paralelos se você quiser. É uma condição humana - estamos sempre querendo proteger terras, filhos, etc. e acho que isso é o que torna essa história única, ela transcende milhares de anos - é ancestral - e ao mesmo tempo moderna. E a maneira como ela é contada, toda estilizada, faz com que ela funcione em níveis diversos em culturas distintas.

Como foi o processo de adaptação?

KJ: Antes de mais nada, preciso dizer que fiquei apavorado com o nível do trabalho que tinha diante de mim. Frank Miller é icônico e você não quer estragar algo assim. Quando Zack e eu começamos a trabalhar no roteiro alternávamos cenas e criamos uma competição sadia entre nós. Em algumas cenas era facílimo adaptar: o roteiro estava todo no papel, textual e visualmente e era só fazer pequenas modificação, já que consideramos o trabalho original uma fundação sobre a qual criaríamos o nosso filme. Foi um desafio sadio.

Fale um pouco sobre a expansão da história da Rainha Gorgo, por favor.

KJ: Se dependesse de Zack ele faria um filme com duas horas de porrada, mas não dava pra ser assim. A audiência precisa de pontos de respiro ao longo da história. De outra forma ficaria exagerado. Então Zack me encarregou de todos os diálogos que chamamos de "lado B", ou seja, tudo o que não está na graphic novel. Encarei isso como um desafio, mas logo me dei conta que "espera um pouco... você só tem que olhar a HQ e eu fico com o trabalho sujo". Foi intimidador, porque, claro, como eu poderia encarnar uma rainha espartana para escrever sobre ela? A solução então foi escrever pelas bordas... pegar o que existe na HQ e ampliar. Um desses pontos foi a ausência de pontos-de-vista das mulheres espartanas e seu papel na cultura da sociedade. Historicamente eles eram tratados como iguais. Mulheres podiam ter terras, uma certa voz política... então levei isso em consideração e me entreguei às musas. Algumas pessoas usam a Força para escrever, mas aqui achei que as musas seriam mais apropriadas. Ou seja, trabalhei meio por instinto e com a compreensão da cultura, da HQ e das intenções de Zack.

O filme acabou gerando uma quantidade impressionante de merchandising também...

DS: Sim, temos o videogame, o livro making-of da Dark Horse, figuras de ação e colecionáveis adultos - já que o filme tem classificação etária alta - e teremos também réplicas dos elmos, espadas, escudos... tudo fantástico. Sem falar no boneco que fala do Leônidas, que me deixou orgulhosa, que repete algumas das frases memoráveis do filme. E até um disco de vinil com a trilha sonora!

Depois de Alexandre, Tróia e Cruzada, parece que os épicos perderam força. Vocês acham que 300 dará um novo sopro de vida ao gênero?

MC: Foi esse o nosso argumento para a Warner Bros o tempo todo. Recordo-me de Zack me dizendo que o filme tradicional de "sandálias e espadas" está morto e nós vamos reacender o interesse por ele. Acho que foi justamente isso o que mais nos empolgou. Pegar um gênero que estava morno junto ao público - por conta disso foi muito difícil convencer as pessoas a fazê-lo - e dar a ele uma nova roupagem. E eu acho, sim, que ele mudará os épicos daqui em diante. É pra isso que gente como nós está nesse negócio, afinal. Não temos a menor intenção de fazer coisas tipo Garfield 3, mas sim de romper barreiras, criar o novo.

GN: É, mas eu não me importaria de fazer 300 3. Hahahahahahahaha

Algumas das melhores frases do filme vêm direto de Heródoto, como "lutaremos à sombra". Vocês estudaram a história também, ou só a HQ bastou?

KJ: Sim, estudamos a história, a conhecíamos por cima antes, mas assim que assumimos o projeto comecei a conversar com historiadores diversos e a ler vários livros, marcando partes, mostrando a Zack, etc. Todos os acadêmicos falaram basicamente as mesmas coisas porque o mais interessante sobre a sociedade espartana é que não havia escultores, pintores, poetas... a arte era com os atenienses. O negócio dos espartanos, e tudo o que eles conheciam, era o treinamento e a guerra. Assim, toda a história deles é contada por pouquíssimas pessoas, Heródoto entre elas. E essas pessoas costumavam extrapolar e colocar seus pontos de vista sobre o que aconteceu. Mas várias linhas de diálogo do filme vêm diretamente dessas obras e foram realmente faladas nos campos de batalha, como "lutaremos à sombra", ou "soldado, volte com seu escudo ou sobre ele".

Pelo tema, o filme é essencialmente masculino. Houve preocupação de incluir novos públicos nele?

GN: Nunca conversamos a respeito. Mas como todos os filmes que fazemos, testamos este quando ficou pronto. Eu nunca vi notas tão altas na minha carreira - e acompanhei os testes do primeiro Matrix. Mais impressionante ainda foram os pontos que ele obteve junto às mulheres. Jovens e mais velhas adoraram o filme tanto quanto os homens. Isso nos deixou chocados e abriu nossos olhos para o potencial dele. Antes achávamos, como você, que seria um filme para homens, mas estávamos erradas. É um filme sobre honra, sacrifício e amor, relacionável em tantos níveis.

E o orçamento? 65 milhões de dólares é um valor baixíssimo para um épico.

GN: Não podemos discutir valores, mas posso dizer que hoje a indústria cinematográfica está estudando muito de perto este filme e o que fizemos para viabilizá-lo. Ao usar de maneira inteligente a tecnologia e ao contratarmos atores a um passo de se tornarem astros, criamos uma maneira interessante de trabalhar, que foi um grande aprendizado para todos nós. Há o fato também de Zack ter tudo tão organizado, administrado do início ao fim.

DS: Nós gravamos em apenas 60 dias, com apenas 10 dias de filmagens secundárias. Isso incluindo todas as cenas de luta, as coreografias... isso tudo consome um tempo enorme. Mas como usamos só tela azul, pudemos fazer tudo mais rápido, especialmente porque tinhamos esquemas pré-programados de luz. Outra vantagem foi que em muitos casos nem precisávamos mover as câmeras. Como era um mundo virtual dava para simplesmente mover as pessoas. Isso tudo ajudou demais.

GN: Acho que abrimos um precedente. Toda Hollywood está tentando entender como fizemos esse filme com esse orçamento. Felizmente, esse é um raro caso em que conseguimos honrar a História, a obra original e ainda fazer algo viável comercialmente.

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