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Entrevista

Omelete Entrevista: Hilary Swank

Estrela de A Colheita do Mal fala do filme, seus filmes de terror preferidos e elogia Fernando Meire

15.04.2007, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H24
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The Reaping ), novo filme de Hilary Swank , gerou interesse por dois fatores principais. Primeiro, por tratar-se de um filme bem diferente da "bi-campeã" do Oscar de melhor atriz. Conhecida pelos dramas, ela protagoniza agora seu primeiro suspense sobrenatural. Além disso, em 2005 o filme estava sendo rodado na Lousiana, o estado dos EUA mais atingido pelo catastrófico furacão Katrina, e seguiu por lá para auxiliar nos esforços de reconstrução locais.

A história mostra uma cientista traumatizada, que renega sua fé depois de um drama pessoal e passa a viajar o mundo desmentindo milagres através da razão e provando-os cientificamente. Seu cepticismo será colocado à prova quando ela chega a uma cidadezinha na Lousiana onde a primeira das lendárias dez pragas bíblicas se manifestou - e uma garotinha pode ser a chave para o mistério.

Conversamos com a atriz, surpreendentemente mais bonita pessoalmente que nos filmes, na cidade do México em março. Simpática, ela falou do suspense, sua fé, a sensualidade pouco explorada no cinema (pergunta que rendeu um sorriso derretedor) e até de Fernando Meirelles. Confira a conversa abaixo:

Você vem de uma carreira premiada, com grandes diretores, e agora fez esse filme, mais comercial. Por quê?

Hilary Swank: Diversão. Sou uma pessoa da indústria do entretenimento, gosto de explorar gêneros e possibilidades. Eu, pessoalmente, adoro suspenses sobrenaturais, especialmente os inteligente, e este processo significa pra mim algo totalmente diferente do que fiz até hoje. Acabo de fazer dois grandes dramas e achei que esta era uma oportunidade bacana de diversificar um pouco as coisas.

Foi uma decisão pessoal, então? Ou alguém precisou convencê-la de que este filmes seria importante para sua carreira?

Totalmente pessoal. Joel Silver [o produtor] me mandou o roteiro uma semana antes de eu ganhar o Oscar por Menina de Ouro e queria que eu o lesse imediatamente, apesar de eu estar completamente atribulada naquela época. Mas ele foi irredutível e eu acabei lendo-o na sexta-feira antes do prêmio. E foi um achado. Não consegui largar. Nem desconfiei das viradas do roteiro e ele me fez pensar.

As reviravoltas então são o ponto alto pra você?

Sim. Elas são inteligentes e lidam com fé e os questionamentos das fé e com as pessoas que acreditam que há explicações científicas para tudo. Será que as coisas são assim mesmo ou algumas coisas realmente são inexplicáveis? Eu adoro discutir essas coisas. Mas mais que isso, achei o filme muito divertido, um passeio de montanha-russa. Um desses filmes que você leva alguém num encontro pra apertar a mão e ficar assustado. Isso é divertido.

Já que você gosta de falar a respeito, qual a sua fé?

Eu certamente acredito num poder superior. Não fui batizada dentro de uma religião específica, não vou à Igreja ou coisa assim, mas com certeza estou mais para alguém que acredita do que uma cética. E a cada dia tenho mais crenças, especialmente ao pensar na minha vida - de onde vim e onde estou. É meio milagroso pra mim.

Mas isso não seria o poder da vontade, da perseverança?

Claro que eu trabalho duro. Não fico sentada esperando oportunidades, realmente as persigo. Mas há uma certo elemento nisso tudo que não entendo como sorte e pelo qual me sinto abençoada.

Fale um pouco da experiência de trabalhar num filme desses, cheio de efeitos especiais. Como aquela seqüência em que você abre a porta do casebre e o mundo lá fora está completamente caótico...

Eu nunca havia trabalhado com tantos efeitos especiais antes. Dizem que atuar é reagir, mas ali não tinha nada para eu me relacionar, então caí dentro de algo novo que é mais parecido com uma "atuação de caixa de areia". Sabe quando você é criança e brinca numa caixa de areia, usando sua imaginação? É mais ou menos isso. Você tem que ter fé em seu diretor, tem que acreditar que o que ele está dizendo que aparecerá ali realmente aparecerá, cuidando para não exagerar ou interpretar de maneira sutil demais. Nessa cena específica que você menciona, a dos gafanhotos, tínhamos uns mil insetos no set, mas não 100 mil insetos... então precisei usar a imaginação. Mesmo assim, pra mim mil gafanhotos já eram muitos gafanhotos!

E foi divertido fazê-lo? Gafanhotos, nadar em sangue...

Ah... pústulas, gafanhotos, moscas, sangue... que filme, hein?! Na verdade nos divertimos muito filmando. Foi uma dessas produções muito boas de trabalhar, todos nos demos muito bem trabalhando e nas horas de folga. E estávamos na Lousiana, que é um lugar incrível, com muita cultura, boa comida... foi legal demais.

Mas houve uma parte triste, não? O furacão Katrina atingiu a região enquanto vocês estavam filmando...

Quando algo tão terrível como o furacão Katrina acontece, deixando toda aquela devastação, é preciso tomar algumas decisões. Eu fui uma das pessoas que pediram para que o filme permanecesse lá, mesmo sabendo que um filme perde dinheiro a cada dia em que não está com as câmeras ligadas. Mas a Warner Brothers e Joel fizeram a coisa certa, mantendo a produção lá. Dessa forma, quem perdeu suas casas também não perderia seus empregos e parte do orçamento ajudaria a reconstruir as regiões afetadas. Depois do furacão paramos uns sete dias, mas não estávamos em Nova Orleans, mas uns 30 minutos ao norte da cidade.

Quando vocês voltaram como estavam as coisas?

Foi horrível. Um período muito, muito triste. Até agora eles estão reconstruindo e ainda têm muito trabalho pela frente. Partes do nosso set foram destruídas também e o clima estava definitivamente diferente. Mas as pessoas se entregaram ao trabalho, até como uma maneira de seguir adiante.

Quais são seus filmes de terror favoritos?

Ah, adoro esse tipo de pergunta. O Iluminado, O Bebê de Rosemary, A profecia, Psicose... e acho que eu diria O Exorcista, mas nunca assisti ao filme. Ahahahahahaha. Sabe, quando eu era menina ia assistir ao filme com um vizinho, mas minha mãe disse "não, você está proibida de assistir a esse filme - e recomendo que você NUNCA o veja!" e isso acabou ficando comigo até a vida adulta. Hahahahaha.

Pôxa, mas você agora pode vê-lo...

Sim, mas ainda ouço a minha mãe falando "ele vai arruinar você!" ahahahaha.

Veja só, dos cinco filmes citados, quatro têm criancinhas assustadoras... A Colheita do Mal também tem. Qual é a dessas crianças assombradas?

Elas funcionam! Anna Sofia [que interpreta a 'criança assustadora' de A Colheita do Mal] é uma atriz excelente. Sem ela o filme não daria certo. Ela faz um trabalho maravilhoso!

E qual é a sua praga bíblica favorita?

Bom, se eu tiver que escolher uma pra sofrer, provavelmente pegaria os gafanhotos, porque eles não picam. Mas a mais nojenta foi a praga das chagas.

Você se parece com Catherine, sua personagem?

Talvez no aspecto "mulher forte e independente", mas eu nunca tive uma desgraça em minha vida que me fez questionar minha fé e coisas do tipo. Claro, já questionei minha fé, mas como todo mundo provavelmente já o fez.

Você pode falar um pouco sobre Freedom Writers?

Claro. Esse filme mudou minha vida. Me lembrou de como é importante ter alguém que realmente acredita em você. Como uma pessoa sozinha pode mudar sua vida. A história é baseada em fatos e mostra crianças das quais a sociedade desistiu. Crianças que ouviram que elas não valiam nada e por isso desistem da vida. Aí uma pessoa chega e as ajuda a se reencontrar e a buscar seu lugar no mundo. Essas crianças são heróinas pra mim e tive um interesse pessoal na história, já que tive alguém que acreditou totalmente em mim quando eu era jovem, minha mãe. Sem ela acho que eu não seria nada.

Então é bom mesmo que você não assista a O Exorcista...

Exatamente! Hahahahahaha, essa foi a única coisa que ela me pediu, então é bom que eu a respeite! Minha mãe tem uma alma fantástica, é muito importante pra mim.

Já que estamos no México, você tem vontade de trabalhar com diretores latinos?

Nossa, adoraria. Del Toro, Iñarritu, Cuarón...

E brasileiros? Fernando Meirelles, por exemplo? Você deve ter visto Cidade de Deus.

Adorei Cidade de Deus. Gostei muito de O Jardineiro Fiel também, mas Cidade de Deus é melhor. Adorei o uso de câmera, especialmente aquela cena da galinha.

Quando você assiste a um filme gosta de se concentrar em detalhes técnicos, então? Câmeras, luz...

Na história também. Em tudo. Sabe, às vezes é difícil pra mim, por ser parte da indústria do cinema, sentar-me e assistir ao filme e me perder na história. Fico reparando nos pequenos detalhes, nas pequenas mudanças de maquiagem, cabelo, figurino... na maneira como os atores estão interpretando. Para que eu esqueça que estou no cinema o filme precisa ser muito, muito bom.

E onde estão seus dois Oscar?

No momento eu estou mudando de casa e estou viajando muito com os meus filmes então não tenho um lugar definitivo pra eles. Eles são os "Oscars Andarilhos" - vão para a casa da minha mãe, para a casa do meu agente... mas minha mãe é mesmo a baby-sitter deles. Na verdade ela deve estar nesse exato momento na minha estrela na calçada da fama [em Hollywood], cuspindo na estrela e dando uma polida nela. hahahahahaha.

O diretor Stephen Hopkins parece ter desenvolvido uma espécie de fetiche, num sentido bom da palavra, por você. Especialmente pela forma como ele a filmou, os ângulos, buscando maneiras de torná-la ainda mais linda na tela. Mesmo em certas cenas dramáticas ou assustadoras ele busca maneiras de evidenciar sua beleza. Você gostou disso, pretende explorar mais sua sensualidade daqui pra frente ou prefere uma abordagem mais paternalista do seu diretor, como a de Clint Eastwood?

Bom, eu achei que este foi o filme que mais me mostrou como realmente sou, fisicamente. A pessoa no filme é realmente eu, como eu sou. Não levanto cedinho e fico malhando um saco de areia 5 horas por dia... então foi realmente legal pra mim interpretar um papel no qual não precisei passar por mudanças físicas. Stephen também quis explorar isso, mostrar esse meu lado, que nunca havia sido mostrado antes... então... e fico feliz que você tenha notado isso.

E você fez recentemente o calendário Pirelli... você acha que está mais sexy agora?

Parte da definição de sentir-se sexy é sentir-se confiante no seu corpo. Não é necessariamente uma questão estética, mas de sentimento, e eu certamente me sinto melhor comigo hoje do que jamais me senti. Mas espero que isso continue! Quem sabe eu não continuo pensando assim quando fizer cinqüenta.

Pra terminar, fale um pouco, por favor, sobre Clint Eastwood. Você assistiu aos dois últimos filmes dele, Conquista da Honra e Cartas de Iwo Jima?

Claro!! Eles são fantásticos. Adorei Cartas, é um dos melhores filmes do ano passado. Clint, em uma só palavra, é uma anomalia. Ele só fica melhor, melhor e melhor e é prova de que uma pessoa não deve jamais descansar sobre seus louros - "tenho esses prêmios então agora eu posso relaxar". A vida é crescimento e desafios, fazer coisas que te dão medo, estar disposto a cair.

A Colheita do Mal estréia em 20 de abril nos cinemas brasileiros.

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