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Filmes
Entrevista

Omelete entrevista: Diego Luna

Omelete entrevista: Diego Luna

MF
02.12.2004, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 12H06

171
Criminal


EUA, 2004
Policial - 87 min


Direção: Gregory Jacobs
Roteiro: Fabián Bielinsky (filme Nove Rainhas), Gregory Jacobs

Elenco:


John C. Reilly, Diego Luna, Maggie Gyllenhaal, Peter Mullan, Zitto Kazann, Jonathan Tucker

Diego Luna ficou conhecido quando filmou E sua mãe também (Y tu mama tambíen, 2001), ao lado do amigo de infância Gael Garcia Bernal. Mas sua paixão pela atuação é mais antiga que isso. Diego perdeu sua mãe em um acidente de carro quando tinha apenas dois anos e passou a viver mais intensamente o dia-a-dia do pai, um famoso cenógrafo do México. De lá para cá, participou de diversas novelas e aos poucos foi conquistando seu espaço no cinema mexicano e mundial. Entre outros, ele participou de filmes como Frida, o western Pacto da Justiça e o último filme de Spielberg, Terminal. Aparentemente bastante calmo e feliz, mas fumando muito, o mexicano conseguiu guardar 15 minutinhos para falar sobre a refilmagem do argentino Nove Rainhas, que em Hollywood virou Criminal, as dificuldades de se fazer cinema na América Latina e as filmagens em de Solo Diós sabe, em que contracena com a brasileira Alice Braga (Cidade de Deus).

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Como eles chegaram até você e como trabalhou o personagem? Você usou a referência do filme original, o argentino Nove Rainhas?

Estava filmando em Porto Rico, fazendo um filme bem comercial [Dirty Dancing - Noites de Havana] e querendo bastante fazer em seguida um filme mexicano, um projeto menor, em que o roteiro fosse a coisa mais importante. Quando chegou o roteiro de 171 - Criminal e me convidaram, eu li e gostei muito. Na época, eu não tinha visto Nove Rainhas ainda. Tive uma reunião com o diretor [Gregory Jacobs] e ele me disse ‘escrevi o roteiro pensando em você e John C. Reilly e os produtores estão me dando a chance de falar com vocês primeiro". Achei [a idéia] muito honesta. Era um filme pequeno, rodado nos Estados Unidos em 28 dias, algo bem parecido com o que fazemos no meu país. Fiquei bastante interessado de poder fazer um filme como este nos Estados Unidos.

Quando ele me disse que tinha chamado John, Maggie Gyllenhaal e Peter Mullan, eu fiquei muito impressionado. E neste momento decidi não ver Nove Rainhas até o fim das filmagens, para ter a minha própria concepção e tomar as decisões que eu achava que eram as corretas para o meu personagem. Foi bom porque pude desenvolvê-lo de acordo com o que o filme pedia, com o que Los Angeles pedia. No fim das filmagens vi que fiz a coisa certa em não ter visto, pois Gastón [Pauls] está super bem e seria um peso enorme em meus ombros, pois ficaria pensando nas decisões que ele tomou no filme todo.

Acho que o simples fato do filme ser ambientado em Los Angeles já o torna diferente e eu seria injusto com o roteiro de Criminal se tivesse visto Nove Rainhas antes. John também não tinha visto e tudo correu muito bem. Para a gente, este filme é único, de uma certa forma. Também é uma forma de reconhecer que o cinema argentino tem contato ótimas histórias e tem feito filmes muito bons. Por outro lado, dá muita esperança porque há produtores e diretores nos Estados Unidos que têm a curiosidade em saber o que acontece no mundo, principalmente na América Latina. Espero que um dia o presidente deles tenha a mesma curiosidade.

E gostei muito de saber que Soderbergh tinha comprado os direitos para este filme, pois com certeza com este dinheiro, eles poderão produzir mais um ou dois novos filmes na Argentina.

O que você achou do Nove Rainhas e porque você acha que as pessoas deveriam ver esta refilmagem?

Gostei muito! Ricardo Darín é um dos meus atores favoritos. Gastón também está super bem. Mas acho que são filmes distintos. Em Nova Rainhas, era muito importante a situação que a Argentina vivia naquele momento, pois o problema dos bancos é crucial no filme. E este é um filme em que Los Angeles é tratado como um personagem. É um retrato de uma cidade onde vivem pessoas do mundo todo, mas que não convivem entre si. Há muitas fronteiras na cidade e não há mistura. É um filme também que fala das diferenças de classes e raciais que há por lá e como pode ser útil falar espanhol em uma cidade como Los Angeles, principalmente se você é um malandro.

Os malandros são meio que atores. São caras que vivem contando mentiras, fingindo que são outras pessoas e se aproveitando da vulnerabilidade das pessoas. Tirando proveito do ponto fraco dos outros. São improvisadores, como os atores que fazem stand up comedy. Todo dia, eles contam uma história diferente e fazem os outros acreditarem. É uma vida muito emocionante, não? É como estrear uma nova peça de teatro todos os dias. A diferença é que eles podem acabar na cadeia, no caso dos atores, o pior que pode acontecer é receber uma crítica negativa.

Você assistiu Chamas da Vingança, com Denzel Washington?

Vi até a metade num avião. (risos)

No filme, a Cidade do México é retratada de uma forma bem caricata e bem negativa. As mulheres são todas prostitutas, os homens são traficantes de drogas, os policiais corruptos... O que você pensa quando vê um filme como este sobre a sua cidade, o seu país?

Nada! Isso ocupa muito espaço na minha cabeça. Se você não gosta, não tem que ver. Acredito que há filmes bons e ruins. Não acho que projetos como Chamas da vingança represente o meu país para o mundo. Nenhum filme consegue representar um país. É impossível captar em filme um país inteiro e toda a diversidade que ele oferece. É triste ver esta visão ingênua, mas é assim.

Por isso que gostei de ver que em Criminal, um filme feito nos Estados Unidos, o personagem mexicano não parecia um cara do mal. Em uma passagem, o personagem do John C. Reilly diz para o meu a vantagem é que você tem cara de bonzinho.

Normalmente, nos filmes que são feitos nos Estados Unidos, os personagens latinos são uns filhos da puta, traficantes, de um modo geral, são pessoas da máfia mexicana, agressivos. Neste filme, o personagem é só mais um cara que está buscando seu lugar nesta cidade.

Mas eu acho que os filmes são sobre seres humanos, e não sobre raças e culturas. Todos nós passamos pelos mesmos processos, nos apaixonamos, todos queremos ser felizes ao lado de alguém, todos cometemos erros.

Isso te dá coragem de fazer filmes que representem melhor o seu país?

Sim, mas eu prefiro ver a história. Deixemos as representações dos países para os documentários. Os filmes são histórias, mentiras. Acreditar em algo que você sabe que não é a realidade e se deixar enganar é uma sensação bonita. Quero contar histórias que me digam algo, histórias que quando estou lendo o roteiro me deixam com vontade de saber o que vai acontecer no final.

Não estou tentando dizer que não há violência no mundo. Em Amores brutos, por exemplo, é um filme que mostra a violência na Cidade do México. Os próprios filmes brasileiros mostram também um lado violento, mas de uma forma diferente, porque é a realidade que a gente vive hoje.

A violência está em todos os lados. O que acho é que cada diretor sempre acaba falando de si mesmo. Há diretores que vivem fazendo filmes de pessoas que matam outras pessoas. Seus sonhos devem ser terríveis, não? (risos) Imagino que eles têm pesadelos todas as noites. Creio que os diretores só falam sobre aquilo que têm na cabeca. Por isso que há diretores com quem quero trabalhar, e outros que não.

Você está aqui em São Paulo para filmar Solo Diós sabe com o Carlos Bolado. Faz um tempo já que este projeto está acontecendo, não?

Sim, faz tempo, como todo projeto latino-americano, que leva mais de seis anos para ficar pronto.  

Sobre o que é o filme e como está sendo esta experiência?

Este projeto é sobre uma brasileira e um mexicano. É um road movie que vem de San Diego - Califórnia até a Cidade do México e depois termina em Salvador - Bahia e São Paulo. É uma história de amor e, como qualquer road movie, é uma históra de gente buscando sua identidade. É uma história muito linda.

Finalmente estou fazendo algo que queria há muito tempo. É muito difícil filmar na América Latina e é muito difícil fazer o projeto que você quer. Há muitas dificuldades. Estamos filmando em dois países [Brasil e México] onde reina a burocracia, mas isso sempre acaba dando mais ânimo, pois as pessoas que chegam até o final, é por méritos próprios, pela gana de fazer o filme. E esta é uma boa forma de saber em quem confiar. Os que fraquejam na metade do processo, é melhor mesmo que eles não estejam com você no final. As pessoas que se envolvem, é mesmo por convicção porque o nosso cinema não nos dá a mesma vida que o cinema americano. O cinema nos faz perder as coisas. Perder amigos, perdemos o carro, às vezes temos que vender a casa para terminar o filme. Isso acaba tirando o melhor das pessoas.

Por outro lado, dá uma certa tristeza ver como as pessoas estão no fim das filmagens. Por todo o tempo que se demora para levantar um projeto, as pessoas estão [no fim] como se estivessem voltando da guerra. Enquanto se está procurando formas de financiar um filme, se perde projetos e mais projetos e quando você chega ao set, já está nocauteado. Esta é a condição do cinema da América Latina. Mas é por isso também que os filmes que são bons, são tão bons! Porque a força do nosso cinema está em nossas histórias. Afinal, as história que contamos estão na cabeça de um diretor por anos.

É um prazer também participar desta primeira co-produção México/Brasil. Espero que sirva para que se faça mais e que compartilhemos mais, porque temos que fazer como o cinema asiático e agir como um bloco. É uma pena que Nove Rainhas tenha sido tão pouco divulgada no México, por exemplo. E apenas 20% dos filmes mexicanos estréiam na Argentina.

Além deste filme, tem também o Goal, que é um superprojeto sofre futebol. Fale um pouco sobre este filme.

Gosto muito mesmo de futebol. Michael Winterbotton me chamou para fazer este filme e no mesmo dia peguei um avião e fui para a Inglaterra conhecê-lo e decidimos que íamos trabalhar juntos e tal. Começamos a ensaiar, vivi em Newcastle, filmamos umas coisas da segunda unidade, mas houve um desacordo com os produtores e ele saiu do projeto. Agora, Contrataram outro diretor [Danny Cannon] e estão reescrevendo o roteiro. Não sei mais se vou participar, porque tenho que ler o roteiro novo para ver se gosto. Afinal, não posso fazer um filme só porque quero jogar futebol com Ronaldinho. (risos) Porque depois de dois anos as pessoas ainda se lembram disso, o Ronaldinho não quer mais jogar com você e você ainda tem que defender o filme em entrevistas.

Como era a história original?

Nunca vi um filme sobre futebol que eu gostasse e isso era muito emocionante, fazer um filme sobre algo que nunca foi bem mostrado. A história era um pouco parecida com um filme de Winterbotton, In this world, que era o caminho de um menino afegão até Londres. [Desta vez] era um filme sobre o caminho de um mexicano que sai de Los Angeles e termina em uma equipe na Inglaterra. É o sonho de 80% dos meninos deste mundo. Pelo menos era o meu. Eu queria que isso tivesse acontecido comigo, mas não rolou. (risos).

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