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O Tigre e a Neve

Roberto Benigni 2: Um maluco no Iraque

24.05.2007, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H25

O tombo com Pinocchio foi tão feio que Roberto Benigni achou melhor voltar para a guerra.

O comediante italiano ganhou a simpatia de Hollywood em 1999, ano em que levou os Oscars de melhor ator, trilha e filme estrangeiro por A vida é bela, versão naïf-pantomímica do Holocausto. Quando sua versão superproduzida de Pinocchio não vingou em 2002, Benigni, compreensivelmente, resolveu apostar no garantido. E da Segunda Guerra pulou direito para a invasão do Iraque.

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Sim, O Tigre e a Neve (La tigre e la neve, 2005) é mais uma leitura "nariz vermelho" de um flagelo humanitário. Não, não é um filme de kung-fu. Sim, Benigni continua incorporando o personagem otimista e saltitante. Não, ele não morre no final.

Desta vez o personagem é Attilio de Giovanni, um professor e poeta que tenta conquistar a mulher de seus sonhos, Vittoria (Nicoletta Braschi, mulher e musa de Benigni). Attilio age como um maníaco - persegue-a por todo canto, prepara jantares, repete o tempo inteiro que a ama, sonha com o casamento dos dois... Mas Vittoria não quer saber de Attilio.

Quando ela viaja a Bagdá para entevistar Fuad (Jean Reno), um especialista em literatura árabe, o impensável acontece: no mesmo dia os Estados Unidos invadem o Iraque para tentar depor o tirano Saddam Hussein. O carro em que Vittoria estava é atingido no meio de um conflito e ela fica à beira da morte. É o mote para que Benigni entre em campo de batalha.

Quem viu A Vida é bela sabe bem o que esperar - o comediante circula em meio a escombros e feridos com aquela cara de quem acaba de descer de outro planeta, tagarelando como um LP arranhado e mexendo-se freneticamente como um cocainômano no auge da abstinência. Tudo o que Attilio quer, na hora em que chega a Bagdá, é encontrar Vittoria. Quando encontra, num corredor de hospital lotado, tudo o que quer é salvá-la.

É o dramalhão em sua essência: os dois personagens não têm nuances psicológicas. Vittoria é a vítima e Attilio é o herói (um herói poeta, ainda por cima). Nesse meio, mais interessante é o perfil que Jean Reno dá a Fuad - não só por ser um respiro ao frenesi que Benigni nos impõe, mas também por ser um retrato do árabe do ponto de vista do cinema ocidental.

Difícil é aguentar as parlapatices - Benigni atravessando o deserto numa moto quebrada, engraçando-se com um camelo... Justiça seja feita, a reviravolta do final é inesperada. Não só porque faz sentido, pensando o filme como um todo, mas também porque expõe uma fraqueza de Attilio. No fundo o problema de Benigni nem são os trejeitos, mas a imagem messiânica que ele faz de si mesmo. E, no desfecho de O Tigre e a Neve, aprendemos que aquele personagem não era tão perfeito assim.

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