Filmes

Entrevista

O Garoto de Liverpool: Omelete entrevista Aaron Johnson

Ator conta como foi se tornar John Lennon nas telonas

03.12.2010, às 18H26.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 04H12

Mesmo quem acha que os Beatles nunca saíram de moda tem que concordar que eles voltaram com tudo. É discografia no iTunes, show de Paul McCartney no Brasil... No dia 9 de outubro deste ano, John Lennon teria completado 70 anos se estivesse vivo, e na próxima-quarta-feira, dia 8 de dezembro, seu assassinato completa três décadas.

Embora O Garoto de Liverpool (Nowhere Boy) tenha estreado no Reino Unido há exatamente um ano, a distribuidora Imagem Filmes foi feliz em esperar tanto tempo para lançar o longa-metragem aqui, aproveitando esse intervalo de datas tão importantes para os fãs do beatle.

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O filme relembra a juventude de John Winston Lennon, entre os seus 15 e 20 anos, época em que descobriu o rock n' roll, formou sua primeira banda, The Quarrymen, e conheceu Paul McCartney e George Harrison. Nossos parceiros do Collider entrevistaram Aaron Johnson, o intérprete de Lennon na cinebiografia, e ele fala um pouco do peso da responsabilidade e da sua preparação.

Quando você descobriu que iria interpretar John Lennon, você se sentiu acuado?

Aaron Johnson: É, acho que sim. Mergulhei nisso de um jeito bem ingênuo. Senti que precisava fazer o máximo de pesquisa possível, para me sentir confortável quando chegasse o primeiro dia de filmagens e jogar tudo fora, saber meus limites e reagir instintivamente.

Que tipo de pesquisa você fez?

Pesquisei tudo. Assisti a todos os documentários, li trechos de biografias, ouvi entrevistas e gravações que ele fez, comecei a fazer aulas de guitarra e aprendi a tocar rock n' roll e músicas do Elvis e de Buddy Holly. Também assisti a fitas deles, porque essas eram as pessoas que o inspiravam, que ele teria assistido e visto no palco, e acabaria incorporando ao estilo dele. Tentei cobrir todos os aspectos. Tem uma entrevista da [revista] Rolling Stone em que ele conta que quando conheceu Yoko [Ono], ele era um espírito livre na época, e que os Beatles eram uma fachada. Quando a mãe dele morreu, ele sentiu muita amargura e raiva. Usei muito disso. Na entrevista, ele também falou muito sobre sua tia Mimi e sua mãe, falou sobre inseguranças. Isso nos ajudou a encontrar aquela pessoa especial que precisávamos para humanizar Lennon, trazê-lo de volta às raizes e torná-lo inocente e ingênuo, nessa jornada em que ele lentamente está se tornando o Lennon que nós conhecemos.

O que te deixou mais nervoso: interpretar um personagem tão icônico ou cantar e tocar guitarra nas telas?

Cantar e tocar guitarra. Esse não é meu ponto forte, não sou músico. Mas essa era uma grande parte dele e desse momento da vida dele, e era algo muito especial. Eu já sabia que teria que aprender. Quando eles estavam escolhendo os atores, na verdade estavam procurando músicos. Quando eu li o roteiro, estava disposto a isso e estava muito determinado a pegar esse papel, mas sabia que não saber tocar me prejudicaria. Então comecei a me preparar mentalmente e comprei uma guitarra, apesar de não saber tocar.

Foi difícil entrar no estado emocional de John Lennon, por causa das relações complicadas que ele tinha com a tia e com a mãe dele?

Tudo estava no roteiro, basicamente. Eu conseguia me indentificar com muito daquilo, e pude tirar muito de minhas experiências. Muito veio do processo de, lentamente, ir descobrindo mais sobre Lennon e o que ele tinha para dizer sobre como ele se sentia quando estava com a mãe, e como ele era quando estava com a tia. A mãe dele era uma mulher excêntrica, de espírito livre e dez anos à frente de seu tempo. Ela era uma pessoa que ele amava e admirava muito, mas não sabia muito bem como conviver com ela, caso a perdesse de novo. Ele estava constantemente lutando com isso. É tudo uma questão de quem ele seria com a mãe, como ele seria com a Tia Mimi e como ele seria com os garotos da banda. Havia muitos aspectos diferentes do Lennon. Ele estava sempre tentando se esconder. Ele usava essa fachada sarcástica, convencida e esperta que nós sempre conhecemos, mas ele tinha muitas feridas. Existia muita dor e insegurança ali.

Foi difícil mudar do sotaque dos EUA de Kick-Ass, e aí acertar o sotaque de John Lennon?

É tudo meio misturado, para mim. Eu ainda estava terminando Kick-Ass, que na época também era muito difícil porque estávamos filmando em Londres, que é minha cidade natal, e metade da equipe era inglesa. Isso dava uma dor de cabeça, porque eu era esse garoto nerd, fã de quadrinhos dos Estados Unidos. E então eu li o roteiro de O Garoto de Liverpool, já sabendo que poderia ser meu próximo trabalho, e adorei. Tive um dia de folga, em que fui no teste de elenco e não tive tempo de me preparar, porque ainda estava filmando Kick-Ass. O que eu fiz foi passar minhas horas de almoço no YouTube tentando encontrar filmagens antigas dele, porque eu não conseguia me lembrar da voz dele. É engraçado, mas na Inglaterra ninguém lembra como era o sotaque dos Beatles. Os ingleses só conhecem as músicas. Então eu já sabia que ele tinha um sotaque distinto e tinha que acertar isso, mas também sabia que ia entrar lá com um cabelo grande e armado, e eles não me achariam adequado para um papel dos anos 1950. Tive que mudar minha linguagem corporal, o jeito de me vestir, penteei o cabelo para trás, para diferenciar os dois papéis.

Você aprontava muito na escola, como John?

Quando abri o roteiro, na página dois tinha uma cena em que ele estava na sala do diretor, e pensei: "Ah, isso é familiar". Eu já conhecia esse cara.

Você já sabia muito sobre John Lennon antes de começar a fazer o filme? Como esse trabalho mudou o que você achava dele?

Se você explora o passado de John Lennon, vai compreender melhor a poesia e arte dele. É por isso que temos a música "Mother" [no filme]. Essa é provavelmente uma música que todos nós já ouvimos antes, e é linda, mas quando você a escuta depois de saber da história de como ele cresceu, ela realmente te toca e é um ponto importante no filme. Eu conhecia as músicas dos Beatles e como eles influenciaram outras bandas, mas nunca conheci essa parte da vida dele. Não sou fanático, então conseguia olhar de fora.

Como foi filmar algumas músicas sem ter autorização para usá-las no filme?

"Mother" seria a música do final. "Hello Little Girl" e "In Spite Of All the Danger" eram músicas de momentos muito importantes, então precisávamos delas para o filme. Eles não nos dariam os direitos sobre as músicas até que assistissem a alguma coisa, o que significava que teríamos que filmar a cena mesmo assim, e aí pedir os direitos. Paul McCartney tinha os direitos de "Hello Little Girl" e "In Spite Of All the Danger" e Yoko Ono tinha os direitos de "Mother".

Filmamos "Hello Little Girl" numa casa que estava abandonada há 30 ou 40 anos, porque ela ainda tinha o visual dos anos 50. Eles disseram então que precisávamos levantar o tapete e embaixo do sofá em que eu estava sentado achei um jornal, preservado, de 1968, e tinha o rosto do John Lennon na capa, foi muito louco. Tem muitos momentos assim durante todo o filme. Então filmamos a música e aí Paul McCartney cedeu os direitos, porque ficou feliz com o resultado.

Você conheceu Paul ou Yoko?

Sim, conheci os dois. Yoko assistiu ao filme e, no momento em que viu, ela disse que daria os direitos de "Mother". Ela estava chorando. Tanto ela como Paul elogiaram nossa performance e gostaram do filme. O que mais podíamos pedir?

Havia um plano B para essas cenas, caso vocês não conseguissem os direitos?

Não. Pensamos em usar "That Will Be the Day", mas não era tão poderosa quanto "In Spite Of All the Danger". Essa foi a primeira música que eles escreveram juntos. Precisávamos muito dela.

Para terminar, você poderia falar sobre a continuação de Kick-Ass? O filme está em desenvolvimento?

Mark Millar e John Romita estão escrevendo uma história em quadrinhos, mas eu não sei. Vai depender do [diretor] Matthew Vaughn, e no momento ele está dirigindo X-Men: First Class. Se ele decidir voltar a Kick-Ass, ficarei feliz em fazer o filme.

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