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Noel - Poeta da Vila

Cinebiografia correta bota mais amor de perdição na vida do sambista

01.11.2007, às 15H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H30

Noel Rosa era um corpo estranho no mundo do samba carioca dos anos 30. Filho branco de classe média, embrenhou-se no meio dos malandros negros. Numa roda cheia de músicos da Vila Isabel, parecia mais magro e mais frágil do que realmente era. Foram justamente essas suas características que ajudaram a aproximar a música que se fazia no morro dos ouvidos que estavam no asfalto.

Noel - Poeta da Vila, cinebiografia dirigida por Ricardo van Steen com base no livro Noel Rosa: Uma Biografia, de João Máximo e Carlos Didier, joga as suas fichas na representação visual dessa disparidade: o ator escolhido para interpretar Noel, o igualmente estranho Rafael Raposo, com um queixo afundado como o do biografado, não parece sequer nascido na mesma vizinhança de sambistas como Ismael Silva (Flávio Bauraqui) e Wilson Batista (Mario Broder).

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Convencionou-se dizer que a formação intelectual de Noel foi um dos fatores que o ajudou a se destacar entre as marchinhas anuais de carnaval a partir de "Com Que Roupa?", de 1930. O apelido de poeta vem daí - suas letras versavam, como de outros compositores, sobre mulheres, bebida e cigarro, mas as rimas de Noel continham também uma crônica social original.

Conta a favor do filme o fato de a carreira e a vida de Noel terem sido bastante breves. O compositor de "Fita Amarela" tinha apenas 27 anos quando morreu de tuberculose, e a efemeridade cabe bem num longa de 100 minutos. Em outras palavras: uma vida mais vasta teria problemas em ser condensada na tela. A intensidade com que Noel viveu está toda no filme de Van Steen, ainda que suas desventuras amorosas ganhem frequentemente mais espaço do que a sua música na tela.

É a necessidade de dar ao público um drama amoroso a se prender - a história de Noel com a dama de cabaré Ceci pode até ter sido menos importante na vida do músico, mas na tela o que norteia a trama de Noel - Poeta da Vila é mesmo o amor interpretado por Raposo e Camila Pitanga. Uma amor, vale dizer, que tem ápice na bela cena dentro do carro, com o bloco do carnaval passando do lado de fora. É o momento mais emblemático do filme: o homem fica, a sua música segue.

De resto, Noel - Poeta da Vila é bem o tipo de homenagem que não desagrada nem constrange - a reconstituição da época é correta e o respeito aos retratados é grande. O que causa mais ruído é uma mania de casting que assola diversas produções nacionais: colocar caras conhecidas para viver personagens totalmente opostos às suas personas públicas.

Já é difícil ver Jonathan Haagensen no papel de Cartola e levar a sério Paulo César Pereio como médico, mas não dá pra engolir Otto como gringo e Supla vivendo Mário Lago, por exemplo. É em horas assim que qualquer imersão que o espectador tenha no filme periga se perder definitivamente. Não há suspensão de descrença que resista às "pontas afetivas", esse mal que um dia há de ser erradicado.

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