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Marley e Eu

Adaptação do romance best seller é chorosa e uma exaltação à resignação

24.12.2008, às 13H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H43

Antes que me chamem de insensível, "anti-canita" ou coisa parecida, já começo esta crítica informando que não consegui segurar as lágrimas ao final de Marley e Eu (Marley & Me, 2008). Mas bem que tentei (o que me rendeu uma dor de cabeça que durou horas). Acontece que o clímax é mestre numa universal forma de manipulação melodramática que encadeia todos os mais sofridos acontecimentos e frases possíveis. Dessa forma, segurar as lágrimas beira o impossível. Mas é perfeitamente possível odiar tê-las vertido.

O filme dirigido por David Frankel (O Diabo Veste Prada) adapta o livro do colunista do Philadelphia Inquirer John Grogan. Best seller recente, o romance reúne as memórias do autor sobre seu labrador Marley e relata "as importantes lições de vida que seu cachorro neurótico o ensinou".

Marley

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O grande problema é que não vejo as tais "importantes lições" prometidas na sinopse do filme e no material de divulgação que o casal Grogan (ele é vivido por Owen Wilson, ela por Jennifer Aniston) extrai de seu cachorro. Trata-se de um drama sobre maturidade, sim. Sobre um homem aprendendo a lidar com suas responsabilidades. Mas o cão... esse é mera desculpa estética e medida de tempo, já que a história começa com sua compra e termina na sua velhice. A relevância do animal à história é quase nula.

O filme até tenta - dá inúmeras pistas que a chegada do cachorro possa estar mudando seu dono, mas elas se restringem a comentários de terceiros, que percebem como Marley virou assunto da coluna que o protagonista escreve. O roteiro da adaptação, escrito a quatro mãos por Scott Frank e Don Roos, falha ao efetivamente demonstrar essa importância, talvez pressupondo que o público já a conheça das páginas impressas.

O cachorro torna-se dessa maneira apenas um conforto visual, um facilitador, numa história que - seja qual for a mídia - julguei lamentável, de alguém conformando-se ao que outras pessoas esperam dele na vida.

Ao longo do filme, o personagem e autor do romance auto-biográfico passa de alguém que nutria sonhos a um sujeito enjaulado num cotidiano medíocre. Vai trabalhar como colunista (ele queria ser repórter), vai morar no bairro que detestava (pela segurança), recusa a oportunidade de uma vida...

É inacreditável como as pessoas consumiram essa história e exaltaram esse livro simplesmente por um cachorro! Ok, estou exagerando... não apenas pelo cachorro, mas por um final (e não me refiro ao destino do bicho) "feliz" que faz com que todas as pessoas que já desistiram de seus sonhos e adequaram-se resignadas ao conceito mais clichê possível de família, aquela coisa de comercial de margarina, sintam-se um tantinho mais felizes consigo mesmas.

Ao meu ver pessoas assim precisam de um chute no traseiro, não de tapinhas nas costas. Que saudade do cinema que mostrava um Roy Neary abandonando tudo e todos em nome do desconhecido em Contatos Imediatos do Terceiro Grau... Mas esse sou apenas eu. Para os conformistas, Marley & Eu merece nota máxima. A minha é mesmo abaixo da média. E só não é pior porque o cachorro é fofo, fofo...

Leia entrevista com Jennifer Aniston e Owen Wilson

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